CPLP: Que futuro?
12 de maio de 2017A CPLP, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, ainda é uma utopia, que pode ser criadora se houver visão de curto, médio e longo prazos. As vantagens da criação da CPLP são várias, não apenas pela via do potencial que representa a língua comum.
O mar é uma das plataformas a explorar, segundo defende o professor catedrático, Adriano Moreira. Este reafirma "que a língua é muito importante como instrumento de desenvolvimento cultural e científico, isso é indiscutível. As relações económicas podem ser fortalecidas. As migrações podem ser solidárias, recíprocas, a contribuição dos técnicos pode ser importante", mas questiona: "Todos os países da CPLP são marítimos e nenhum tem esquadra comercial. Mas todos juntos não podem ter? Talvez se houver imaginação. Por outro lado, a luta pelas plataformas continentais a todos terão direito. Enfim há muitos aspetos."
Se esta é uma das vantagens, Adriano Moreira também reconhece existirem fragilidades, que ainda impedem outra dimensão ao projeto dos que falam a mesma língua, o português, que deu origem à criação da CPLP.
O professor diz que "não são propriamente erros, são debilidades. Há debilidades financeiras como é natural, mas isso é uma crise mundial. É claro que os recursos financeiros também têm importância, mas, por outro lado, a escassez que há no mundo de atividades que não são de alta técnica, designadamente da alimentação, podem ser muito ajudadas a ser supridas pelo desenvolvimento desses territórios."
Moreira aponta o atual cargo de secretário-geral das Nações Unidas ocupado por António Guterres, que conhece a importância da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e que isso pode ajudar a dimensionar o projeto, apesar do seu poder ser o da palavra, que tem que "convencer a palavra do poder".
O antigo ministro do Ultramar (no Governo de Salazar), e ex-presidente da Academia de Ciências, falou à DW à margem do Congresso promovido pelo Movimento Internacional Lusófono (MIL), o qual encerrou esta quinta-feira (11.05.) com uma comunicação de Adriano Moreira sobre "Lusofonia, utopia criadora”.
Já o moçambicano a fazer doutoramento na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Zeferino Uarrota, questiona os moldes em que se está a construir o projeto lusófono e considera que se deveria debruçar sobre políticas educativas comuns, a começar pelo ensino básico.
Educação, articulação e mobilidade na CPLP
Segundo Uarrota, "é preciso que, de algum modo, sejam discutidas algumas políticas educativas globais e encontrar também melhores formas de articular isso como é o caso, por exemplo, da mobilidade docente e dos estudantes a nível da escola secundária."
O moçambicano defende isso a todos os níveis: "Não digo só a nível das universidades, mas também a nível da base. Isto permitiria que as gerações não ficassem fechadas, que houvesse mais abertura em termos de conhecimento."
Por sua vez, Renato Epifânio, presidente do MIL, diz que o projeto pode deixar de ser utopia quando se avançar, por exemplo, com a concretização de ideias por uma efetiva comunidade, ainda por se realizar. A começar pela ideia de instituição de um passaporte da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
E ele explica: "Nós defendemos várias iniciativas, por exemplo o estatuto de cidadania lusófona. Nós inspiramos em Agostinho da Silva. A ideia de um passaporte que seria a consagração simbólica e jurídica desse estatuto de uma cidadania lusófona. Isso para nós seria muito importante e é isso que temos procurado promover nas nossas diversas iniciativas."
Por isso mesmo, "é preciso promover estes congressos, de modo a que a utopia se vá concretizando" - acrescenta. No entanto, "há ainda muito a fazer" - reconhece o presidente do MIL, lembrando que este caminho é para maratonistas e não para velocistas.