Críticas à governança global na Assembleia Geral da ONU
20 de setembro de 2023A Assembleia Geral da ONU iniciou seus trabalhos com discussões cruciais sobre mudanças climáticas, reforma das Nações Unidas e a crise na Ucrânia. O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou a urgência de ações determinadas para combater as mudanças climáticas e seus efeitos devastadores.
De acordo com as Nações Unidas, a Cimeira representa "um marco político crítico para demonstrar que existe uma vontade global coletiva para acelerar o ritmo e a escala de uma transição justa para uma economia global mais equitativa, baseada nas energias renováveis e resiliente às alterações climáticas".
As discussões na Assembleia Geral da ONU continuarão nos próximos dias, com discursos de mais líderes mundiais.
A abertura da Assembleia Geral da ONU destacou questões cruciais que afetam o mundo atualmente e a busca por soluções para desafios globais.
As sessões da Assembleia Geral continuam na quarta-feira, com discursos de mais 40 altos responsáveis de outros tantos países-membros da ONU.
Reforma no órgão
Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Conselho de Segurança tem perdido credibilidade porque os seus membros permanentes travam guerras sem autorização e defendeu uma reforma no órgão. O Presidente brasileiro discursou na abertura dos debates gerais da 78.ª Assembleia-Geral da ONU:
"Continuaremos a criticar qualquer tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reviver a Guerra Fria. O Conselho de Segurança da ONU tem vindo a perder progressivamente a sua credibilidade. Esta fragilidade é o resultado específico das ações dos seus membros permanentes que travam guerras não autorizadas visando a expansão territorial ou a mudança de regime."
Lula pediu, no arranque da sessão de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas, maior acesso de nações em desenvolvimento a meios de tratamento de doenças.
"A mais ampla e ambiciosa ação coletiva da ONU em prol do desenvolvimento - a Agenda 2030 - pode vir a ser o seu maior fracasso. Estamos a meio do período de implementação e ainda longe dos objetivos definidos."
Filipe Nyusi, chefe de Estado de Moçambique, destacou "a ausência da confiança e solidariedade entre os que têm muito e aqueles que têm pouco ou quase nada" como a causa do insucesso da Agenda 2030.
"De fato, a crise pandêmica da Covid-19, os desastres naturais decorrentes das mudanças climáticas e os conflitos armados, incluindo o terrorismo e extremismo violento, fazem com que milhões de pessoas continuem a viver na pobreza, sem alimentação adequada, sem acesso aos serviços de saúde e educação."
Crítica à governança global
A crítica à governança global também foi tema do discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, que sublinhou, na abertura do evento, que o Conselho de Segurança das Nações Unidas reflete a realidade política e económica de 1945, quando muitos países agora representados no plenário da ONU ainda estavam sob domínio colonial.
Um tema também em destaque no discurso do Presidente português. De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, "o Conselho de Segurança [das Nações Unidas] está bloqueado, não decide nada:
"É urgente respeitar a Carta das Nações Unidas para garantir a paz no mundo. É urgente acelerar a luta contra as alterações climáticas, a realização dos objetivos da Agenda 2030, a proteção dos oceanos e da biodiversidade para garantir a paz e a reforma das instituições. É urgente reformar as instituições concebidas no século passado, algumas delas na primeira metade do século passado, que estão totalmente afastadas da realidade do mundo atual."
Nesse sentido, o Presidente português aponta a primazia da reposição do papel central dos princípios da Carta da ONU em várias partes do mundo:
"Noutras regiões, como no Sahel, em tantos pontos de África, no Próximo e Médio Oriente ou na Ásia, o problema é o mesmo: respeito dos princípios do Direito Internacional e da Carta das Nações Unidas. Por isso, não é possível separar da luta pelo respeito da Carta das Nações Unidas."
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, criticou o "imperialismo americano" e denunciou o embargo dos EUA contra Cuba.
Guerra na Ucrânia
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou a Rússia de ser a única responsável pela guerra na Ucrânia e pediu apoio internacional para Kiev. Ele questionou se o abandono dos princípios da Carta da ONU para apaziguar um agressor deixaria nações seguras.
O presidente polonês também responsabilizou a Rússia pela escalada do conflito na Ucrânia, enfatizando a necessidade de chamar o mal pelo nome.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu intensificar os esforços diplomáticos para resolver o conflito na Ucrânia.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em sua primeira intervenção presencial na Assembleia Geral, condenou a ambição nuclear da Rússia e pediu à comunidade internacional que se una contra a expansão russa.
Clima
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, convocou para hoje a Cimeira da Ambição Climática para acelerar a ação dos Governos, das empresas, das finanças, das autoridades locais e da sociedade civil, e ouvir os "pioneiros e os executores” dessa área.
A Assembleia Geral da ONU arrancou ontem (19.09) com apelos ao combate às alterações climáticas, incluindo do secretário-geral António Guterres, e à reforma das Nações Unidas, e críticas à Rússia pela invasão da Ucrânia.
No primeiro dia do debate anual na Assembleia Geral da ONU, Guterres colocou o Ambiente como um dos temas para os quais é preciso "determinação", procurando travar as mudanças climáticas que aceleram o ritmo e a dimensão dos desastres naturais.
"Acabamos de sobreviver aos dias mais quentes, aos meses mais quentes e ao verão mais quente de que há registo. Por trás de cada recorde quebrado estão economias quebradas, vidas quebradas e nações inteiras à beira do colapso. Todos os continentes, todas as regiões e todos os países estão a sentir o calor. Mas não tenho a certeza se todos os líderes estão a sentir esse calor", disse o secretário-geral da ONU.
Minutos depois, seria a vez de o Presidente brasileiro, Lula da Silva, lembrar que, depois de "muito se falar sobre a Amazónia", agora é a vez de a "Amazónia falar por si mesma", lembrando os esforços do seu Governo para travar os crimes ambientais que se cometem naquele que é um dos principais pulmões do planeta.