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Críticas no CDS à "visão negocista" das relações com Angola

João Carlos (Lisboa)23 de agosto de 2016

Ex-líder Ribeiro e Castro não gostou dos elogios feitos pelo deputado do Partido Popular Hélder Amaral ao MPLA de José Eduardo dos Santos. E quer saber se o partido português abandonou as relações históricas com a UNITA.

Foto: António Cascais/DW

A direção do Partido Popular (CDS-PP) não subscreve com todas as letras as recentes declarações do seu deputado Hélder Amaral, segundo o qual o partido tem agora "muitos mais pontos em comum" com a principal força política no poder há mais de 40 anos em Angola, destacando uma proximidade cada vez mais forte entre as duas forças políticas.

As declarações do enviado do CDS ao VII Congresso do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que decorreu de 17 a 20 deste mês em Luanda, causaram polémica no seio do partido, levando algumas figuras históricas a contestarem uma hipotética mudança de rumo dos centristas em relação à democracia e ao multipartidarismo naquele país lusófono de África.

Uma das críticas vem do ex-presidente do CDS-PP José Ribeiro e Castro. "As relações inter-partidárias internacional são questões sérias e se nós queremos ajudar o pluralismo e a democracia noutros países temos de tratar dessas relações com seriedade e não podemos fazer uma romaria apenas para o poder", defende.

José Ribeiro e Castro (dir.) durante visita a São Tomé (2014)Foto: DW/R. Graça

Segundo Ribeiro e Castro, isso significa que são os estrangeiros a designar um partido único. "É como se em Angola só existisse um único partido. Porque os estrangeiros todos fazem romaria para fazer negócios ou negociatas e, portanto, no fundo estão não a ajudar a consolidação da democracia, mas a prejudicá-la".

O ex-líder dos populares não critica a presença do CDS-PP no Congresso do MPLA e diz que o partido no poder em Angola "faz bem" se entende convidar partidos fora do seu relacionamento histórico e tradicional. "O que é negativo é que o fizesse de uma forma basbaque, alinhada, quase servil e parecendo que se abandona os relacionamentos tradicionais trocando-se pelo MPLA", sublinha.

Críticas idênticas foram feitas por Manuel Monteiro, outro ex-presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular, demarcou-se igualmente das afirmações de Hélder Amaral.

Pelo "pluralismo partidário"

Este fim de semana, em declarações aos jornalistas no Algarve, a líder do CDS-PP, Assunção Cristas – que nasceu em Angola –, reagiu à polémica para acalmar os ânimos, ao justificar como interesse nacional a presença, pela primeira vez, dos centristas no Congresso do MPLA, cujo Presidente José Eduardo dos Santos foi reeleito sem surpresas.

"O CDS sempre foi no passado, continua e continuará a ser – e todas as declarações têm de ser interpretadas desta forma – um partido que pugna, trabalha pela liberdade e pluralismo partidário", declarou. O que está em causa, segundo Assunção Crista, "é o aprofundar de relações entre países em prol dos portugueses, das empresas que exportam para Angola, dos portugueses que vivem em Angola e, obviamente, o CDS não mudou de política nesta matéria".

José Eduardo dos Santos foi reeleito líder do MPLA com 96,6% dos votosFoto: picture-alliance/dpa/P.Novais

Para Ribeiro e Castro, a reação da líder do partido não clarifica a posição do partido."Houve uma correção importante, mas que eu não dou por definitiva e totalmente clara", afirma, lembrando que quando Paulo Portas era presidente do CDS-PP "era nítido que havia um abandono das relações com as forças democráticas angolanas de outros setores e um privilégio exclusivo, de monopólio, no relacionamento com o MPLA e a elite dirigente do MPLA".

O CDS-PP tem relações históricas com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), um dos principais partidos da oposição angolana, lembra ex-presidente do partido. Por isso, Ribeiro e Castro quer saber se o partido português abandonou ou não a parceria com a UNITA. "Eu acho que é importante que nos relacionemos com todos", conclui.

O Bloco de Esquerda (BE), habitualmente crítico em relação ao regime de José Eduardo dos Santos, não se fez representar no Congresso do MPLA, mantendo uma posição de distanciamento e de independência, por defender as liberdades fundamentais, principalmente por considerar que Angola é "uma ditadura", disse à DW África Catarina Martins, a coordenadora do partido.

"Angola é uma ditadura"

"A situação em Angola é muito preocupante e acho que Portugal não pode ficar calado perante a ditadura que é Angola", salienta Catarina Martins. "E um país que tem tantas relações com Angola – históricas, diplomáticas, comerciais, de todo o tipo –, não pode assistir de forma indiferente ao que está a acontecer. Qualquer pessoa que fique calada em relação a isso por maioria de razão em Portugal está a ser cúmplice duma ditadura violenta".

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De acordo com Manuel Monteiro, o CDS cedeu a interesses pessoais e de negócios do seu anterior presidente Paulo Portas, agora ligado a uma empresa de construção com os pés em Angola. Segundo Ribeiro e Castro, Hélder Amaral disse o que Paulo Portas pensa e aponta o dedo à "visão negocista" das relações com Angola, que não ajudam na diversificação da economia angolana.

Analistas consideram que a polémica será esquecida naturalmente com o tempo, mas o maior embaraço para o partido de Assunção Cristas prende-se com a presença de Paulo Portas, ainda que a título particular, na recente reunião ordinária do partido no poder em Angola.