Arquipélago governado pelo Presidente Azali Assoumani vive escalada de tensões desde aprovação de um referendo que estabeleceu extensão dos mandatos presidenciais e um sistema de rotação de poder entre três ilhas.
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Normalmente, pouco ou nada se fala do arquipélago das Comores ou Ilhas Comores, localizadas no Oceano Índico, na costa sudeste da África, a leste de Moçambique e noroeste de Madagascar. O país é pequeno, tem cerca de 800 mil habitantes, e é normalmente bastante calmo, se bem que tenha havido golpes de estado com alguma regularidade desde a independência de França.
Mas, este ano, a situação política tornou-se tensa, na sequência de um referendo realizado em julho, no qual a maioria votou a favor de algumas alterações na Constituição. O Presidente Azali Assoumani pretendia simplificar o complexo sistema político da União das Comores, composto por três das quatro ilhas do arquipélago. A quarta ilha, diga-se a ilha de Mayotte, pertence oficialmente à França. A tensão é particularmente grande na ilha de Anjouan, onde muitos parecem não concordar com as possíveis restrições dos poderes do governador local.
Cresce instabilidade política nas Ilhas Comores
A escalada da violência fez-se sentir nas ruas estreitas da ilha de Anjouan. Homens armados atacaram forças governamentais. Houve mesmo confrontos armados que fizeram com que a vida normal dos cidadãos ficasse muito afetada, com sucessivos cortes no fornecimento de eletricidade e de água às populações.
O Exército teve muitas dificuldades em repor a ordem e recuperar o controlo sobre a ilha de Anjouan. Desde o fim de semana passado, a tranquilidade parece ter regressado a Mutsamudu, a capital. As pessoas voltaram a frequentar os mercados.
"As atividades na cidade pouco a pouco foram retomadas. Os militares retiraram-se ou mostram uma presença um pouco mais discreta. O objetivo é devolver a paz à ilha. Não se sabe quantos dos rebeldes foram detidos e quantas armas ainda estarão nas mãos dos que ainda não foram presos", afirma Kamal Ali, jornalista da Rádio local StarFM.
Iain Walker, pesquisador e especialista em questões das Comores, trabalha atualmente no Instituto de Antropologia Social, na cidade alemã de Halle. O analista tenta enquadrar os distúrbios no atual contexto político da União das Comores.
"Claro que o pretexto para os confrontos violentos foi o referendo de julho. Muitas pessoas parecem não concordar com o resultado oficial. Mas de resto pouco se sabe. Não está claro quem está por trás do movimento rebelde de Anjouan. Os rebeldes parecem não ter uma chefia, nem um líder concreto, nem um porta-voz. A população parece não concordar com a violência. Os rebeldes armados pegaram em armas e, de uma forma relativamente espontânea, começaram a resistir contra o regime", diz.
Repressão
O Regime é liderado atualmente pelo Presidente Azali Assoumani, que é acusado por alguns de querer concentrar o poder sobre as três ilhas nas suas mãos, a pretexto de fazer poupanças no orçamento do país.
Segundo um modelo de rotatividade, introduzido em 2001, a Presidência era exercida de cinco em cinco anos, por um representante de cada uma das três ilhas que formam a União das Comores.
Isso quer dizer que o mais tardar em 2021 o Presidente Azali, que é natural da ilha principal, a Grand Comore, teria que entregar o cargo a um candidato da ilha de Anjouan. Mas Azali tenta ficar no poder, o que é bem possível, tendo em conta o resultado do referendo de julho.
Muitas pessoas, sobretudo na ilha de Anjouan, não reconhecem o referendo, tendo mesmo boicotado o sufrágio, o que não impede o Presidente Azali de admitir a hipótese de se recandidatar em eleições presidenciais, já no próximo ano, para se perpetuar no poder por pelo menos mais dez anos.
Os críticos do Presidente dizem que ele está a tentar transformar as Comores num estado autocrático. Sinal disso é a crescente repressão dos partidos da oposição e restrições à independência dos tribunais, sobretudo do Tribunal Constitucional.
Ilha de Moçambique: a "menina dos olhos" de Nampula
Há 200 anos, que a primeira capital de Moçambique foi elevada à cidade. Desde 1991 a ilha é Património Mundial da Humanidade. O arquipélago no norte de Moçambique concentra um incalculável valor histórico e cultural.
Foto: DW/J.Beck
Primeira capital de Moçambique
Situada na Província de Nampula, a Ilha de Moçambique é um destino turístico muito procurado na África Austral pelo seu vasto património histórico e cultural. "Descoberta" pelo navegador português Vasco da Gama, em 1498, aquando da viagem marítima para a Índia, esta ilha foi a primeira capital de Moçambique. É atualmente habitada por cerca de 15 mil pessoas.
Foto: DW/J.Beck
Pequena ilha, grande história
Apesar de ter apenas três quilómetros de comprimento e 400 metros de largura, esta pequena ilha carrega uma grande história. Quando Vasco da Gama a "descobriu", ela já era um importante lugar de trocas comerciais entre os africanos e os povos árabes. Após a chegada dos portugueses, a ilha ganhou uma importância estratégica na rota que ligava Lisboa a Goa, a "Carreira da Índia".
Foto: DW/J.Beck
Habitações com história
A Ilha de Moçambique está dividida em duas partes: a “cidade de pedra e cal” e a “cidade de macuti“. Na primeira (à direita da rua), eram construídas as casas que pertenciam às camadas mais altas da sociedade, onde estavam os palácios e fortalezas. Na segunda (à esquerda da rua), viviam as pessoas de classes mais baixas.
Foto: DW/J.Beck
Cidade de "macuti"
Na chamada “cidade de macuti“ viviam os mais pobres - os pescadores, por exemplo. É nesta parte da cidade que se encontram, como o nome indica, as construções mais precárias cobertas por macuti - as tradicionais folhas de coqueiro espalmadas.
Foto: DW/J.Beck
Património Mundial da Humanidade
Foi em 1991 que a ilha de Moçambique passou a integrar a lista dos destinos considerados Património Mundial da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO. De passagem pela ilha há vários monumentos que não pode deixar de visitar.
Foto: DW/J.Beck
Fortaleza de São Sebastião
Construída no século XVI pelos portugueses, a Fortaleza de São Sebastião visava dar proteção e apoio aos barcos que navegavam na chamada Carreira da Índia. É um dos mais representativos exemplos da arquitetura militar portuguesa na costa oriental de África.
Foto: DW/J.Beck
Capela de Nossa Senhora do Baluarte
A Capela de Nossa Senhora do Baluarte, construída em 1522 na extremidade norte da ilha, é hoje o único exemplo da arquitetura manuelina em Moçambique. O manuelino, ou também gótico português tardio, é um estilo que se desenvolveu no reinado de D. Manuel I nos séculos XV e XVI. O acesso à capela faz-se apenas pelo interior da Fortaleza de São Sebastião.
Foto: DW/J.Beck
Palácio de São Paulo
Construído em 1610, o Palácio de São Paulo, também conhecido como Palácio dos Capitães-Generais, funcionou primeiro como Colégio da Companhia de Jesus, tendo sido depois convertido no palácio do governador - função que manteve até a Ilha de Moçambique deixar de ser a capital do país, em 1898. No palácio podemos hoje visitar o Museu da Marinha e o Museu-Palácio de São Paulo.
Foto: DW/J.Beck
Outros locais de interesse turístico
O monumento dedicado ao poeta português Luís Vaz de Camões, que viveu entre 1567 e 1569 na Ilha de Moçambique, é outro dos locais que os visitantes da Ilha não podem deixar de conhecer, assim como a Igreja da Misericórdia e Museu de Arte Sacra e a Capela de São Francisco Xavier. Todos estes edifícios históricos estão localizados na Cidade da Pedra.
Foto: DW/J.Beck
Um destino multicultural
Apesar da clara influência do povo português, cabem na ilha de Moçambique apontamentos de muitas outras geografias mundiais. Encontramos aqui um largo número de culturas e religiões diferentes. Ao caminharmos pelos diferentes bairros da ilha, cruzamo-nos com várias igrejas e capelas, mas também com mesquitas e um templo hindu.
Foto: DW/J.Beck
Escola Maometana
A maioria dos habitantes da ilha pertence à religião muçulmana. A "Escola Maometana / The Mohamedia Madresa School" localiza-se ao lado da "Mesquita Central Seita Sunni" próximo do centro da Ilha de Moçambique. A ilha foi marcada durante séculos pela cultura suaíli e o islão dos povos da África Oriental, como também acontece na vizinha Tanzânia.
Foto: DW/J.Beck
Ilha em risco – um futuro incerto
Nos últimos anos, muitos são os especialistas que chamam a atenção para a possibilidade deste pequeno paraíso poder vir a desaparecer por causa das alterações climáticas. Teme-se que, devido à erosão costeira, um dia a ilha possa acordar no fundo do mar. Até ao momento já foram consumidas várias áreas pequenas.
Foto: DW/J.Beck
Fecalismo a céu aberto
Mas para além do câmbio climático, há outros problemas mais profanos no dia a dia da ilha. Muitos habitantes usam as praias como casa de banho, o que ameaça a saúde pública e coloca em perigo os atrativos turísticos da ilha. Para melhorar o saneamento básico, foram construídos sanitários públicos em vários lugares da ilha.
Foto: DW/J.Beck
Degradação apesar de Património Mundial
Apesar da classificação em 1991 como Património Mundial pela UNESCO, encontram-se muitos prédios em ruínas na Ilha de Moçambique. A recuperação é lenta. Desde que a capital do país passou para Maputo, no sul de Moçambique, os investimentos públicos concentram-se no sul do país. O norte e a Ilha de Moçambique perderam protagonismo político.
Foto: DW/J.Beck
Esforços em torno da preservação
No entanto, e apesar do património histórico omnipresente na ilha, ela quer continuar a ser um lugar para se viver. Por isso, o Governo de Moçambique e parceiros internacionais têm vindo a unir esforços para criar melhores condições sócio-económicas. E, claro, para preservar o património histórico e cultural da ilha.