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Cresce instabilidade política nas Ilhas Comores

Jan-Philipp Wilhelm | António Cascais
27 de outubro de 2018

Arquipélago governado pelo Presidente Azali Assoumani vive escalada de tensões desde aprovação de um referendo que estabeleceu extensão dos mandatos presidenciais e um sistema de rotação de poder entre três ilhas.

Membros das forças armadas de Comores nas ruas da ilha AnjouanFoto: Getty Images/AFP/Y. Ibrahim

Normalmente, pouco ou nada se fala do arquipélago das Comores ou Ilhas Comores, localizadas no Oceano Índico, na costa sudeste da África, a leste de Moçambique e noroeste de Madagascar. O país é pequeno, tem cerca de 800 mil habitantes, e é normalmente bastante calmo, se bem que tenha havido golpes de estado com alguma regularidade desde a independência de França.

Mas, este ano, a situação política tornou-se tensa, na sequência de um referendo realizado em julho, no qual a maioria votou a favor de algumas alterações na Constituição. O Presidente Azali Assoumani pretendia simplificar o complexo sistema político da União das Comores, composto por três das quatro ilhas do arquipélago. A quarta ilha, diga-se a ilha de Mayotte, pertence oficialmente à França. A tensão é particularmente grande na ilha de Anjouan, onde muitos parecem não concordar com as possíveis restrições dos poderes do governador local.

Cresce instabilidade política nas Ilhas Comores

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A escalada da violência fez-se sentir nas ruas estreitas da ilha de Anjouan. Homens armados atacaram forças governamentais. Houve mesmo confrontos armados que fizeram com que a vida normal dos cidadãos ficasse muito afetada, com sucessivos cortes no fornecimento de eletricidade e de água às populações.

O Exército teve muitas dificuldades em repor a ordem e recuperar o controlo sobre a ilha de Anjouan. Desde o fim de semana passado, a tranquilidade parece ter regressado a Mutsamudu, a capital. As pessoas voltaram a frequentar os mercados.

"As atividades na cidade pouco a pouco foram retomadas. Os militares retiraram-se ou mostram uma presença um pouco mais discreta. O objetivo é devolver a paz à ilha. Não se sabe quantos dos rebeldes foram detidos e quantas armas ainda estarão nas mãos dos que ainda não foram presos", afirma Kamal Ali, jornalista da Rádio local StarFM.

Iain Walker, pesquisador e especialista em questões das Comores, trabalha atualmente no Instituto de Antropologia Social, na cidade alemã de Halle. O analista tenta enquadrar os distúrbios no atual contexto político da União das Comores.

"Claro que o pretexto para os confrontos violentos foi o referendo de julho. Muitas pessoas parecem não concordar com o resultado oficial. Mas de resto pouco se sabe. Não está claro quem está por trás do movimento rebelde de Anjouan. Os rebeldes parecem não ter uma chefia, nem um líder concreto, nem um porta-voz. A população parece não concordar com a violência. Os rebeldes armados pegaram em armas e, de uma forma relativamente espontânea, começaram a resistir contra o regime", diz.

Repressão

O Regime é liderado atualmente pelo Presidente Azali Assoumani, que é acusado por alguns de querer concentrar o poder sobre as três ilhas nas suas mãos, a pretexto de fazer poupanças no orçamento do país.

Mapa mostra ilhas que fazem parte do arquipélago

Segundo um modelo de rotatividade, introduzido em 2001, a Presidência era exercida de cinco em cinco anos, por um representante de cada uma das três ilhas que formam a União das Comores.

Isso quer dizer que o mais tardar em 2021 o Presidente Azali, que é natural da ilha principal, a Grand Comore, teria que entregar o cargo a um candidato da ilha de Anjouan. Mas Azali tenta ficar no poder, o que é bem possível, tendo em conta o resultado do referendo de julho.

Muitas pessoas, sobretudo na ilha de Anjouan, não reconhecem o referendo, tendo mesmo boicotado o sufrágio, o que não impede o Presidente Azali de admitir a hipótese de se recandidatar em eleições presidenciais, já no próximo ano, para se perpetuar no poder por pelo menos mais dez anos.

Os críticos do Presidente dizem que ele está a tentar transformar as Comores num estado autocrático. Sinal disso é a crescente repressão dos partidos da oposição e restrições à independência dos tribunais, sobretudo do Tribunal Constitucional.

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