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Cresce venda de armas turcas para África

Kate Hairsine | Burak Ünveren
29 de outubro de 2022

Venda de drones e outras armas de fabrico turco às nações africanas subiu exponencialmente após a assinatura de acordos de cooperação entre Ancara e governos do continente. Turquia vista como alternativa à China ou EUA.

Türkei I Panzer
Foto: Fatih Aktas/AA/picture alliance

Depois de ter assinado, recentemente, acordos na área da segurança com vários governos africanos, particularmente da África Ocidental, as exportações de armas turcas para África explodiram.

As exportações militares e aeroespaciais da Turquia para o continente africano mais que quintuplicaram - de 82,9 milhões de dólares em 2020 para 460,6 milhões em 2021.

A quota da Turquia no mercado de armas de África é ainda pequena, cerca de 0,5%. Mas o rápido crescimento das suas vendas nesta área é "impressionante", dá conta um estudo do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança sobre a influência da Turquia em África, realizado este ano.

Numa altura de crescentes insurreições islamistas, tanto na África Oriental, como Ocidental, assim como de conflitos internos, os governos estão a aumentar as suas despesas com a defesa. E a Turquia está a provar ser uma alternativa fiável aos exportadores de armas tradicionais, como são a Rússia, a China, a França e os Estados Unidos da América.

Várias nações africanas já receberam drones fabricados na TurquiaFoto: Baykar/AA/picture alliance

Em entrevista à DW, Abel Abate Demissie, do grupo Chatam House, explica que este crescimento se deve ao facto de, na Turquia, os governos conseguirem "efetivamente comprar material militar". Isto porque, acrescenta, as armas turcas são relativamente baratas, têm prazos de entrega mais curtos e estão livres de "obstáculos burocráticos" - tais como condições políticas ou de direitos humanos.

Porque são tão populares os drones turcos?

"Em África, para onde quer que fôssemos, pediam-nos drones", disse o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan após regressar de uma viagem ao continente em 2021, na qual passou também por Angola.

As nações africanas que já receberam drones fabricados na Turquia incluem a Somália, o Togo, o Níger, a Nigéria e a Etiópia - embora as vendas de drones à Etiópia tenham atraído críticas ocidentais depois de o governo os ter utilizado para atacar civis no conflito do Tigray.

Vários outros países terão já feito encomendas, embora o popular drone turco Bayraktar tenha atualmente uma lista de espera de três anos.

Quando comparados com os drones norte-americanos ou israelitas, os drones fabricados na Turquia são baratos e fáceis de operar. Para além disso, explica Yunus Turhan, analista das relações entre a Turquia e África na Universidade Haci Bayram Veli, em Ancara, já foram testados em conflitos. E com nota positiva. Têm sido utilizados "eficazmente" na Síria, Líbia e na região separatista Nagorno-Karabakh, no Azerbeijão, disse ele.

Mais recentemente, voltaram a ser muito falados na guerra da Ucrânia por terem destruído um grande número de tanques russos.

Formação e segurança

Para além das armas, as nações africanas também procuram junto de Ancara apoios na área da segurança, nota o analista político Ovigwe Eguegu.

Nos últimos anos, a Turquia assinou acordos militares com a maioria dos países africanos, principalmente na África Ocidental e Oriental. O âmbito dos acordos varia  de país para país e consiste, entre outros, em visitas técnicas a centros de investigação, intercâmbio de pessoas entre instituições e empresas, e formação.

O seu envolvimento mais antigo é na Somália, onde a Turquia opera a sua maior base estrangeira. Segundo o governo de Ancara, a Turquia treinou um terço dos 15.000 militares somalis que combatem o al-Shabab. Formou o exército nigeriano sobre o combate com recurso a drones e tem vindo a dar formação também à polícia queniana desde o ano 2020.

A experiência da Turquia no combate ao terrorismo é bem-vinda, frisa o analista político Ovigwe Eguegu.

Como nação de maioria muçulmana, sem um passado colonial em África, Ancara goza de um elevado nível de confiança no continente. Além disso, acrescenta o analista, devido à sua adesão à NATO, o aprofundamento dos laços com a Turquia tem um "baixo custo diplomático" para os países africanos - uma vantagem em relação à China ou EUA.

Erdogan, que já visitou mais países africanos do que qualquer líder não africano, começou a definir-se, recentemente, como um "Estado afro-eurasiático", em vez do anterior "Estado eurasiático", salientou Eguegu.

"Ao ligar a sua identidade a África, torna-se quase um parceiro neutro dos países africanos", nota o analista.

Em 2021, Cimeira Turquia-África atraiu 16 chefes de Estado africanos Foto: Emrah Yorulmaz/AA/picture alliance

Apoio ao Sahel

O apoio aos países do Sahel, no combate ao terrorismo, representa mais um passo rumo ao fortalecimento da sua influência no continente. Em 2018, Ancara ajudou o G5-Sahel com cinco milhões de dólares. Desde então, assinou acordos de cooperação militar e de defesa com o Níger, a Nigéria, o Togo e o Senegal.

Em 2021, a Cimeira Turquia-África atraiu 16 chefes de Estado africanos e mais de 100 ministros. Números que, segundo o analista senegalês Aissatou Kante, mostram a importância estratégica que a Turquia tem cada vez mais no continente.

Embora as nações africanas estejam obviamente interessadas em diversificar as suas parcerias, incluindo no campo da segurança, Kante acha que existe o perigo de  acordos de defesa, como os assinados com a Turquia, serem a única solução para os problemas de segurança em África.

Para o analista, o reaparecimento deste tipo de acordos suscita preocupações relacionadas com "uma crescente militarização dos Estados que enfrentam múltiplas ameaças".

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