Se fosse um país, a CPLP seria a sexta maior economia do mundo. Essa é a boa notícia. A má notícia é o fraco crescimento económico prognosticado para os nove neste e no próximo ano.
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Segundo um relatório recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia da África subsaariana vai crescer em 1,4% este ano e preto de 3% em 2017. Mas estes números escondem uma profunda divisão em dois grupos de países: um primeiro, especialmente dependente da exportação de matérias-primas, que sofrerá uma recessão média de 1,3%; e um segundo grupo com taxas de crescimento que rondam os 5,5%.
Ainda assim, Angola escapa à justa à recessão: embora com uma taxa de crescimento zero em 2016, no próximo ano a economia deste país africano de língua oficial portuguesa (PALOP), quase inteiramente dependente das receitas do petróleo, deverá subir 1,5%. Mas tal como as outras duas maiores economias da região, a Nigéria e a África do Sul, Angola está sob "uma pressão económica severa”, resultante da quebra dos preços das matérias-primas no mercado mundial. O documento do FMI sobre a economia mundial revê em forte baixa as previsões de crescimento da economia angolana, já que em maio apontava para um crescimento de 2,5% este ano e uma ligeira aceleração para os 2,7% no próximo ano.
Crescimento fraco
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".
Foto: DW/R. Krieger
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Já Moçambique está no grupo dos países com um crescimento ainda razoavelmente alto. Mas também neste país a perspetiva pouco animadora: os analistas do FMI esperam um crescimento de 4,5% este ano e 5,5% em 2017, o que mostra uma degradação face às previsões de maio, de 6% e 6,8% respetivamente.
Cabo Verde (3,6% e 4%), Guiné-Bissau (4,8% e 5%) e São Tomé e Príncipe (4% e 5%). Estão entre os países com valores ainda elevados quando comparados aos indicadores de, por exemplo, Portugal, que deverá crescer modestos 1% e 1,1% em 1916 e 1917. Mas, como destacou o primeiro-ministro da São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, numa visita recente a Portugal: "Com um crescimento menor que 7%, nós não conseguimos criar emprego".
Com o mesmo problema de taxas insuficientes para os desafios que enfrentam debatem-se também os outros países lusófonos africanos e Timor-Leste (5% em 2016 e 5,5% em 2017). Moçambique, por exemplo, encontra-se numa profunda crise resultante da fraca exportação, da depreciação da moeda nacional, o metical e da subida em flecha da dívida do Estado. Uma situação agravada pela suspensão de ajudas internacionais devido ao recente escândalo das dívidas ocultas contraídas por empresas do Estado.
Recuo das relações comerciais
Segundo o FMI, as nove economias da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) juntas valem cerca de 2,7 mil milhões de euros, o que tornaria este grupo na sexta maior economia do mundo, se de um país se tratasse. No entanto, dois dos seus membros estão em franca recessão, com a Guiné Equatorial – outro país dependente do petróleo - a registar taxas de crescimento muito negativas; o Brasil poderá superar a recessão atual (-3,3% em 2017, com um modesto crescimento de 0,5%. O Brasil, que acolhe a 11ª cimeira dos chefes de Estado e de Governo da CPLP nos dias 31 de outubro e 1 de novembro, é a maior economia lusófona.
A crise que atingiu os países lusófonos teve repercussões também nas relações comerciais dentro da CPLP. Assim, a balança comercial entre Portugal e os PALOP piorou 26% no ano passado, embora continue positiva em 1,6 mil milhões de euros, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística português. As trocas comerciais com Angola sofreram o maior revés, tendo encolhido para 959 milhões de euros em 2015, de 1,5 mil milhões de euros em 2014, à custa de uma redução de cerca de 30%, quer nas importações, quer nas exportações para o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana.