Continente é responsável por menos de 4% das emissões globais de CO2, mas esforça-se para fornecer eletricidade a toda a população. Infraestruturas construídas hoje poderão ter enorme impacto nas emissões futuras.
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O continente africano é o que menos contribui para o aquecimento global e o que mais tem sofrido com as alterações climáticas. É também aquele que enfrentará, nos próximos anos, os maiores desafios ao nível da produção de energia, uma vez que a sua população deverá duplicar até 2050. Atualmente, apenas cerca de metade dos africanos têm acesso à eletricidade.
Apesar de África ser responsável por apenas 3,7% das emissões de dióxido de carbono (CO2) globais por ano, os esforços para atender às necessidades energéticas de uma população em forte crescimento ameaçam mudar este cenário.
Cientes desta realidade, vários países africanos têm-se mostrado empenhados no "crescimento verde", fechando a porta ao consumo de combustíveis fósseis em massa, como aconteceu no passado em vários outros continentes.
A Etiópia é um dos exemplos, diz Chukwumerije Okereke, diretor do Centro para as Alterações Climáticas e Desenvolvimento da Universidade Federal Alex Ekwueme, na Nigéria: "É apenas um de muitos países africanos a expressar um desejo profundo de evitar os erros cometidos pelos países ocidentais no caminho que escolheram para o rápido desenvolvimento económico".
Ambição e vantagens
As metas são ambiciosas: a Etiópia, a economia que mais cresce em África, consome mais de 90% da sua electricidade a partir de energias renováveis - sobretudo biomassa – e está a construir a maior barragem hidroeléctrica do continente no rio Nilo. Até 2025, é seu objetivo tornar-se um país de Desenvolvimento Humano Médio, massem aumentar significativamente as emissões de gases de efeito de estufa.
África entre combustíveis fósseis e renováveis
Por seu lado, o Quénia, onde está o maior parque eólico africano, pretende ser totalmente abastecido por energia renovável já no próximo ano e levar eletricidade a toda a população até 2022. A África do Sul, o Ruanda e a Nigéria também adotaram estratégias para dissociarem prosperidade e emissões.
Passando das centrais elétricas a carvão e petróleo para o gás natural, um combustível menos poluente, e promovendo as fontes de energia renováveis locais, África pode cortar nas emissões de CO2 ao mesmo tempo que aumenta o acesso à energia e à segurança, diz uma análise da Comissão Económica para África da ONU de 2017.
"Hoje, os combustíveis fósseis já não são competitivos, de todo. Os custos das operações, da manutenção, são extremamente altos. As energias renováveis são muito mais competitivas, comparando com as fósseis, atualmente, em África", consideraIbrahim Togola, fundador do Mali Folkecenter, um centro dedicado às energias renováveis.
Combater os lobbies
No entanto, a falta de financiamento continua a ser uma barreira, lembra Togola: "Temos muitos recursos, temos muito potencial. Mas o problema são os lobbies, o acesso ao financiamento. As energias renováveis não têm o lobby que os combustíveis fósseis têm para verem os projectos aprovados", sublinha.
O especialista critica ainda a falta de vontade política no continente e afirma que é preciso "ir além das palavras e fazer os negócios, disponibilizar os investimentos para o sector privado, para que as energias renováveis sejam uma realidade em África".
"É disso que precisamos: investimento adequado e uma resposta efetiva à enorme necessidade de energia em África", conclui.
O continente africano é rico em fontes de energia renováveis, como são exemplo a eólica e a solar. No entanto, não tem estado a aproveitar estes recursos. De acordo com a Agência Internacional da Energia, neste momento, todo o continente africano gera menos energia solar do que países como o Reino Unido ou a Alemanha, que têm muito menos horas de sol.
África luta contra as alterações climáticas
Nenhum continente sofrerá mais com as alterações climáticas do que África. Mas os países afetados não vão ficar à espera de braços cruzados: criaram as suas próprias iniciativas para combater as consequências.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
África luta contra as alterações climáticas
Os países industrializados são os principais responsáveis pela produção de gases de efeito de estufa, que contribuem para as alterações climáticas. Mas as principais vítimas estão no hemisfério sul. Enquanto África sofre com a seca, as tempestades, a erosão e a desertificação, os africanos estão a lançar iniciativas para combater as alterações climáticas.
Foto: picture-alliance/dpa/N. Bothma
20 milhões em fuga das alterações climáticas em África?
Na Beira, em Moçambique, os efeitos já se fazem sentir. O nível das águas do mar está a subir e as inundações destroem bairros inteiros. Segundo a Greenpeace, todos os anos fogem das consequências das alterações climáticas mais do dobro das pessoas que fogem da guerra e da violência. Especialistas estimam que haverá cerca de 20 milhões de "refugiados do clima" africanos dentro de uma década.
Foto: DW/A. Sebastiao
Desafiar a força do mar
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100. Mas a Beira quer proteger-se das inundações e, para isso, construíram-se novos canais e cancelas: quando a maré sobe, a cancela fecha-se para proteger a parte baixa da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água.
Foto: DW/J. Beck
A "Grande Muralha Verde"
As areias do deserto do Saara continuam a avançar para sul, destruindo os terrenos agrícolas da África Subsaariana. Onze países estão a tentar travar a desertificação com um "muro" de floresta com 7,750 km de comprimento e 15 km de largura. As raízes das árvores estabilizam e ventilam o solo, permitindo a absorção de água. O projeto também significa novos meios de subsistência para os habitantes.
Foto: Getty Images/AFP/F. Senna
Prevenir a erosão
Cada vez mais agricultores deixam de poder trabalhar os seus campos por causa da erosão e da desertificação. Com um sistema de irrigação especial, Souna Moussa, do Níger, torna o seu solo fértil novamente. A técnica tem vários séculos, mas foi totalmente esquecida. Os especialistas também recomendam o cultivo de culturas mais tradicionais, que se adaptam melhor às terras.
Foto: DW/K. Tiassou
Energia hidroelétrica em vez de carvão
Muitos governos africanos apostam na água para garantir o fornecimento de energia nos seus países e estão a ser construídas novas infraestruturas. A energia hidroelétrica é amiga do ambiente, mas alguns projetos são controversos: por vezes, destroem-se vastas áreas de floresta e deslocam-se comunidades inteiras para abrir espaço para a construção de barragens.
Foto: Getty Images/AFP
Energia limpa para África
Até 2030, a eletricidade chegará a todo o continente africano. Este ambicioso objetivo foi estabelecido por 55 chefes de Estado e de Governo africanos na Conferência do Clima de Paris, em 2015. A Iniciativa para as Energias Renováveis em África pretende alimentar a rede elétrica africana com 300 gigawatts de eletricidade limpa por ano. Parques eólicos como este, na Etiópia, são apenas o começo.
Foto: Getty Images/AFP/J. Vaughn
Autossuficiência
Cada vez mais pessoas em África geram a sua própria energia - e não dependem mais da rede elétrica pública ou de geradores. A queda do preço da energia solar torna a eletricidade renovável mais acessível, seja no fornecimento de energia a hospitais e escolas com painéis solares ou na iluminação de casas com pequenas lâmpadas alimentadas por energia solar.
Foto: Solar4Charity
Garrafas de plástico em vez de tijolos
Em África, a reciclagem não conquistou apenas o mundo da moda: já chegou ao setor da construção. Na Nigéria, constroem-se casas com garrafas de plástico usadas que, de outro modo, seriam deitadas fora, contribuindo para o aumento da poluição. Estima-se que, a cada minuto, seja comprado um milhão de garrafas de plástico em todo o mundo.
Foto: DARE
A jovem heroína do ambiente da Tanzânia
Gertrude Clement, de 16 anos, está empenhada na proteção do ambiente. Uma vez por semana, a adolescente da Tanzânia apresenta um programa ambiental na sua estação de rádio local. "Espero que os meus ouvintes estejam a fazer alguma coisa para mudar a situação - para proteger o ambiente e manter a nossa água limpa", disse à DW. Na foto, Gertrude fala na Assembleia Geral da ONU, em abril de 2016.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS/N. Siesel
Procuram-se especialistas do clima
Para que África consiga enfrentar as alterações climáticas, é preciso entender melhor os seus efeitos a nível local e regional. O Centro Científico para as Alterações Climáticas da África Austral, criado por Angola, Namíbia, Botsuana, África do Sul, Zâmbia e Alemanha está a trabalhar para isso. A organização quer reduzir o impacto das alterações climáticas na agricultura e nos recursos hídricos.