Crianças desaparecidas após ataques armados em Cabo Delgado
Lusa
15 de março de 2022
Três menores da mesma família desapareceram esta terça-feira de uma aldeia do distrito de Macomia, centro de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, na mesma noite em que um grupo armado desconhecido atacou a zona.
Publicidade
"Os meus sobrinhos sumiram da nossa aldeia Nova Zambézia, na noite de terça-feira (14.03)", disse um tio das crianças.
O homem suspeita que os menores com 11, 14 e 16 anos tenham sido sequestrados naquela aldeia do distrito de Macomia, centro de Cabo Delgado, pelo grupo rebelde que invadiu uma base militar na mesma noite.
"Não temos informações de nada, estamos à espera que apareçam logo", diz o familiar, esperando que, "se estiverem na posse de terroristas, que eles não lhes façam mal".
Trata-se do mais recente relato de sequestro de crianças e jovens, cujas descrições têm sido frequentes ao longo do conflito em Cabo Delgado, que dura há quatro anos e meio, e no qual jovens e menores têm sido usados como soldados por forças insurgentes.
Novas esperanças para deslocados em Cabo Delgado
02:12
Violência continua em Macomia
Os sinais de violência persistem em Macomia, apesar da ofensiva militar contra os rebeldes, disseram outras fontes locais à Lusa.
A vila de Macomia tem continuado a receber, nos últimos dias, famílias deslocadas que fogem de confrontos na zona da Nova Zambézia. "Estamos mal: mesmo aquelas que viviam nos acampamentos, a fazer machamba", ou seja, a tentar tratar de campos agrícolas para garantir comida, "estão a sair", disse uma fonte.
"As crianças não vão à escola, estamos a tentar reintegrá-las aqui mesmo em Macomia, mas estamos com medo de nos atacarem de novo aqui", concluiu a mesma fonte.
A vila de Macomia, a 200 quilómetros da capital provincial, Pemba, já foi invadida em 2020 por grupos rebeldes, que a ocupou durante alguns dias, levando a uma debandada dos residentes.
Desde julho de 2021, quando começou a ofensiva militar com apoio estrangeiro que tem desagregado a insurgência, grupos dispersos de rebeldes têm deambulado por distritos de Cabo Delgado, tais como Macomia e Meluco, provocando ataques dispersos contra aldeias.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.