Na Zambézia há crianças que faltam às aulas para ir à procura de comida. Uma parte daquilo que encontram é vendida para comprar cadernos, lápis e canetas. O Governo diz que está a tentar resolver a situação.
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Têm entre 9 e 14 anos e faltam com frequência às aulas para ir à procura de alimentos. Algumas crianças no distrito de Nicoadala, na província da Zambézia, contaram à DW África que dividem os trabalhos escolares com a caça a ratos para ajudar os pais a ter comida na mesa e para comprar material.
Uma criança conta ao repórter da DW África que tem ido "caçar ratos para comer": "Esta atividade ajuda-nos a ter dinheiro para comprar cadernos, lápis e canetas para ir à escola", explica o rapaz.
Carlos Cangameia, encarregado de educação na província da Zambézia, confirma que há muitas crianças que se vêem obrigadas a ir à caça para assegurar a sua alimentação e por vezes das suas famílias. E muitas vezes essa atividade colide com as obrigações escolares. "Algumas crianças já abandonaram definitivamente a escola", lamenta Cangameia e desabafa: "Aqui em Nicoadala, a fome está demais este ano. Não tivemos arroz nas nossas machambas. Temos de fazer o possível para sobreviver. Se não, se ficarmos parados, morreremos de fome."
Autoridades da Zambézia: "Tentamos ajudar"
O diretor distrital de Educação, Tomé Salchene, afirma que as autoridades estão a tentar resolver a situação: "Estamos a fazer uma supervisão nas escolas para sairmos desta situação, mas também é preciso saber que há fraqueza dos professores, estamos a apoiar os professores a intensificarem o processo de aprendizagem."
Maria Stela Pinto, representante do programa de educação na organização "Right to Play", na Zambézia, afirma que é preciso fazer mais: "É preocupante, e não é só em Nicoadala. A situação de fome para as crianças este ano está-se a verificar em toda a província da Zambézia. As autoridades do Governo devem encontrar soluções junto das lideranças comunitárias, pais e encarregados de educação e os próprios alunos. Ir à escola é um direito da criança por isso a criança não pode ser limitada a frequentar as aulas por causa da falta de comida."
Crianças faltam à escola para procurar comida - MP3-Mono
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.