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Crianças sem escola "estão mais vulneráveis", diz UNICEF

Marta Cardoso
1 de junho de 2020

Neste Dia Mundial da Criança, 1 de junho, há crianças que estão sem escola há vários meses. UNICEF Moçambique diz que isso as torna "mais vulneráveis a abusos e exploracão". Que impacto terá a Covid-19 nas crianças?

Foto: UNICEF/UNI46342/Pirozzi

Este ano, o Dia Mundial da Criança é assinalado num mundo em "alerta corona". A prioridade generalizada é o combate à pandemia da Covid-19, responsável por deixar metade dos estudantes do mundo - aproximadamente 850 milhões de pessoas - incapazes de frequentar a escola ou universidade. O número foi reportado em março pela UNESCO,  a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

Na quinta-feira (28.05), quando Daniel Timme, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) falou à DW África, diretamente de Maputo, estava a receber uma carga aérea de Equipamento de Proteção Individual (EPI), vinda de Nairobi, no Quénia.

Os equipamentos destinam-se a proteger os profissionais de saúde que estão na linha da frente na luta contra a Covid-19. Foram entregues sexta-feira (29.05) ao Ministério da Saúde moçambicano, numa iniciativa conjunta da UNICEF com a União Europeia.

A carga continha 134 mil máscaras cirúrgicas, 11 mil máscaras de protecção facial, 30 mil macacões, 192 termómetros sem contacto e 600 óculos de proteção.

Daniel Timme, do UNICEF, recebe equipamentos em MaputoFoto: UNICEF/Bruno Pedro

Para o UNICEF, que foca agora os esforços no combate à Covid-19, o mais preocupante são os efeitos secundários da pandemia. Em Moçambique, tal como noutros países, os serviços de saúde habituais estão interrompidos, destaca Daniel Timme.

"As crianças não estão a levar as vacinas que deviam estar a levar. E nós sabemos por outras epidemias, como a da ébola, que no final muitas mais crianças serão infelizmente afetadas. E que vão acabar por morrer dos efeitos secundários desta doença do que da própria doença".

Raparigas mais vulneráveis

O UNICEF diz estar a trabalhar com o Governo moçambicano para assegurar questões como a saúde materna e a reabertura das escolas, ainda que parcial.

"Nós sabemos que se as crianças não vão à escola estão mais vulneráveis a abusos e exploracão. É muito provável que muitos não regressem à escola quando a educação é interrompida por um período de tempo tão grande, especialmente as raparigas", alerta Timme. 

Foto: UNICEF

Tal como noutros países, em Moçambique a educação é priveligiada aos rapazes. Especialmente em famílias pobres, observa. "Há muitas raparigas em Moçambique que casam demasiado novas. E numa situação económica destas em que as pessoas não podem sair para ganhar o pão e em que as crianças estão em casa, há a tentação para as famílias muito pobres de tentarem casar as filhas".

"E outros vão mandar os filhos trabalhar. Então, a escola acaba por ser também um espaço de segurança para as crianças", conclui o especialista do UNICEF. 

Por outro lado, Daniel Timme acredita que a crise também pode ser uma oportunidade para investir no futuro das crianças. Principalmente em questões como a educação, a saúde, a higiene e a segurança.

"Nós [UNICEF] desejamos começar um movimento com os parceiros estatais [moçambicanos], o setor privado e a sociedade civil do país porque a crise também pode ser um momento de reflexão. Como é que nós podemos imaginar um melhor futuro para as crianças quando a crise acabar?": é a pergunta que precisa de soluções, garante Timme.

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Despesas de ONG aumentam

Na aldeia do Lubango, no sul de Angola, o futuro é incerto para as cerca de 680 crianças vulneráveis apoiadas pela "Aldeias de Crianças SOS". Já antes da situação da Covid-19, o grande problema era a educação, admite a administradora local Débora Firmino.

"Os serviços prestados são muito limitados. Temos crianças que academicamente não resultam tanto assim. Então ficamos bastante limitados em termos de formação profissional".

Débora Firmino conta que cerca de 80 crianças vivem nas 12 casas familiares da associação em regime de internato: "É uma família normal, onde as crianças têm alimentação, higiene, vetsuário, lazer, educação, saúde. E a organização tem estado a oferecer todas essas despesas". 

A associação apoia ainda cerca de 600 crianças na comunindade que moram com os projenitores ou com outro parente. Com a pandemia do novo coronavírus, as criancas deixaram de ter as atividades normais e passaram a estar confinadas em casa.

Apesar de limitado, o trabalho das "Aldeias de Crianças SOS" não parou. Os funcionários continuam a trabalhar "das nove às cinco" para providenciarem "serviços básicos" às famílias.

Foto: DW/N. Sul d'Angloa

Doações diminuiram

A grande dificuldade nesta altura, "para além de mantê-las ocupadas e evitar o tédio", são as despesas que aumentaram consideravelmente, esclarece Firmino: "Nós vivemos de um orçamento, passámos já esse orçamento, porque a necessidade é maior nesta altura com produtos de higiene e inclusive de alimentação".

A responsável pela "Aldeia SOS" do Lubango esclarece que 70% do orçamento vem da Europa. O remanescente tentam angariar localmente, mas tem sido muito difícil: "Em termos de apoios, são bastante limitados aqui na localidade. O empresariado é muito fraco quase que não apoia. As instituições que têm este carácter social também quase que não apoiam. E a organização vive disso", queixa-se.

Os últimos três/quatro anos têm sido ainda mais difíceis, atesta Firmino: "Porque o custo de vida subiu consideravelmente e muitas das empresas que apoiavam declararam falência. Então fica complicado".

Desafios da educação em Moçambique

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