Burundi exigirá 36 mil milhões de euros por crimes coloniais
28 de agosto de 2020Na sequência das conversações em curso entre Alemanha e Namíbia, o Burundi também exige reparações por crimes cometidos durante o período colonial alemão.
Um grupo de peritos nomeados pelo Parlamento do Burundi prepara um relatório sobre a questão e já há uma estimativa de compensação financeira que deverá ser exigida de Alemanha e Bélgica: 36 mil milhões de euros.
"Acusamos a Alemanha de agressão brutal contra o Burundi. A Alemanha sujeitou militarmente o Burundi, ocupou o seu território e oprimiu economicamente o seu povo", argumenta o historiador Aloys Batungwanayo, professor na Universidade de Lausanne e membro da comissão de peritos.
A Tanzânia também aumenta a pressão sobre o Governo alemão para que assuma a responsabilidade por crimes de guerra cometidos durante o período colonial na África Oriental. No rol de ações brutais, estariam o massacre de vários grupos na revolta de Maji-Maji.
O embaixador tanzaniano em Berlim, Abdallah Possi, lançou um apelo a Berlim no início de 2020 para "negociar reparações".
O director do Museu Nacional da Tanzânia, Achilles Bufure, considera que estas negociações são urgentes. Como tem especial interesse no acervo cultural do país, Bufure está também preocupado a devolução de inúmeras obras de arte e bens roubados.
"Temos estado a discutir a questão dos dinossauros com alguns membros do Museu de História Natural de Berlim e queremos organizar o regresso de algumas coleções. Sou a favor de que o nosso Governo discuta com o lado alemão uma forma de devolver estes objectos", sugere Bufure.
A contradição alemã
Entre 1885 e 1919, a Alemanha foi a terceira maior potência colonial europeia em África, atrás de Reino Unido e França. O império alemão dominava o sudoeste Africano Alemão [a atual Namíbia], a África Oriental Alemã [Burundi, Ruanda e Tanzânia], bem como as áreas nos atuais Togo, Gana e Camarões.
Desde 2015, a Namíbia negoceia com a Alemanha reparações pelo genocídio dos grupos étnicos Herero e Nama. O Burundi é o terceiro país africano que passou a pressionar Berlim, exigindo reparações por "agressões" dos regimes coloniais alemão e belga.
O professor de história africana na Universidade de Hamburgo, Jürgen Zimmerer, acha que, por um lado, a Alemanha estabeleceu elevados padrões morais no que dizem respeito à sua própria história. Mas especificamente sobre o período colonial, há uma certa omissão.
"A aproximação ao passado faz parte da Constituição da República Federal da Alemanha. No entanto, a Alemanha olha de braços cruzados para os crimes coloniais em África e não quer dar uma resposta adequada", opina Zimmerer.
Três décadas de brutalidade
O Império durou pouco mais de três décadas. Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha teve de ceder as suas colónias às potências vencedoras. Mas a curta duração da presença do regime alemão em África na época não impediu a violência.
"De fato, estes 30 anos de domínio colonial alemão formal foram muito violentos. As colónias tiveram realmente de ser conquistadas, porque houve acções de resistência em todo o lado, que foram brutalmente reprimidas pelo regime", esclarece Zimmerer.
As revoltas mais sangrentas foram a de Maji-Maji na África Oriental, entre 1905-1907 - que, segundo os historiadores, terá resultado na morte de 300 mil pessoas - e a revolta Herero e Nama no sudoeste africano, entre 1904-1908 - que resultou no primeiro genocídio do século XX, com 80 mil mortos.
A Alemanha negoceia com a Namíbia um pedido formal de desculpas. Representantes dos Herero e Nama exigem compensações financeiras e recentemente consideraram "inaceitável” uma alegada proposta de 10 milhões de euros do Governo alemão pelo genocídio.
O representante especial do Governo Federal para o Diálogo com a Namíbia, Ruprecht Polenz, esclarece que a Alemanha quer assumir a sua responsabilidade política e moral pelos crimes cometidos entre 1904 e 1908.No entanto, essa questão não é legal.
"Isto foi esclarecido pelos tribunais aos quais os representantes dos Herero e Nama recorreram. É uma questão político-moral e usamos termos que expressam esta questão e não termos legais. A Alemanha quer pedir desculpa o quanto antes por estes crimes”, salienta Polenz.