Crise alimentar agrava-se na Somália
14 de setembro de 2022Há uma semana, a ONU advertiu que pelo menos 730 crianças morreram de malnutrição no país desde o início do ano. Um número que só tende a aumentar.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em breve a fome pode ser declarada em zonas do centro e sul do país onde mais de 513 mil crianças já sofrem de malnutrição severa.
A estimativa, apresentada esta terça-feira (13.09) pelo porta-voz da organização, James Elder, é 33% maior do que há apenas uma semana.
"As crianças já estão a morrer, os nossos parceiros relatam que alguns centros de estabilização estão, de facto, cheios e crianças gravemente doentes estão a receber tratamento no chão", alertou.
Crise ainda mais grave
Também o Programa Alimentar Mundial (PAM), alertou ontem que a crise atual poderá ser mais grave do que a fome de 2011 na Somália, que causou a morte de 260.000 pessoas, muitas delas crianças.
O país atravessa a pior seca em pelo menos quatro décadas. De acordo com o Chefe da Missão de Assistência das Nações Unidas na Somália, James Swan, as organizações humanitárias quadruplicaram o número de pessoas alcançadas com assistência para 5,3 milhões de pessoas desde janeiro, mas é preciso mais.
"Apelo a todas as partes na Somália para facilitar o acesso humanitário, e peço a todos os amigos da Somália que aumentem urgentemente o financiamento necessário", apelou.
Vulnerabilidade de mulheres e crianças
James Swan deixou ainda um alerta, dizendo que "a atual crise humanitária contribuiu especialmente para a vulnerabilidade de mulheres e crianças deslocadas, que historicamente enfrentaram discriminação e exclusão dos serviços".
"Exorto as autoridades somalis a aumentarem as medidas de prevenção do risco de violência sexual, incluindo o reforço da segurança nos pontos de água e nos locais de distribuição de alimentos", disse.
Segundo a ONU, serão necessários pelo menos mil milhões de dólares para evitar mortes devido à fome na Somália até ao início do próximo ano. Em 2023 prevê-se que mais duas estações secas venham a agravar a seca histórica que atingiu o país do Corno de África.
À ausência de chuva acrescem décadas de conflito, deslocamentos populacionais massivos e, este ano, um forte aumento dos preços dos cereais e outros alimentos básicos devido à guerra na Ucrânia.