Aumenta a tensão nas províncias camaronesas onde se fala inglês. O tribunal militar de Yaoundé decidiu manter na prisão dois líderes da contestação anglófona, acusados de rebelião e terrorismo.
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Na quarta-feira (07.06), o tribunal militar de Yaoundé recusou libertar Barrister Felix Nkongho Agbor Balla e Fontem Neba, dois dos 27 líderes anglófonos presos nas províncias anglófonas do noroeste e sudoeste, bastiões tradicionais da oposição contra o regime do Presidente Paul Biya. O julgamento deverá ser retomado a 29 de junho.
O advogado de defesa Sam Francis afirma que a audiência teve contornos fora do comum, uma vez que uma parte dos convocados não esteve presente durante a mesma. Nestas cirscunstâncias, argumenta, "o caso deveria ser suspenso".
A minoria anglófona, que representa cerca de 20% do total populacional de 22 milhões, protesta contra a sua marginalização desde novembro de 2016.
A crise começou com uma greve dos advogados, que exigiam a introdução do sistema jurídico britânico e o uso do inglês nos tribunais. Seguiu-se uma greve por parte dos professores, igualmente para reivindicar um papel mais relevante do inglês na vida pública.
Tensão crescente
A tensão na região inglesa dos Camarões tem aumentado. Foram incendiados mercados, escolas públicas, escritórios e carros de pessoas suspeitas de colaborarem com o Governo no impedimento da reclamação dos direitos e da independência da zona inglesa do país. Um hotel bastante popular em Bamenda também foi incendiado.
"Crise anglófona" nos Camarões sem fim à vista
A violência tem escalado na zona sudoeste dos Camarões, à medida que os habitantes exigem que os líderes angófonos sejam libertados e que as acusações contra eles sejam retiradas.
Elias Ijalle, legislador, condena este tipo de atitudes por parte dos cidadãos. "Infelizmente, os jovens estão a ir para as ruas e a destruir infraestruturas existentes. É uma situação lamentável", critica.
Nas províncias anglófonas, alguns ativistas reivindicam um Estado independente do Camarão do Sul, baseado no nome que foi dada à região na era colonial britânica.
Mas, segundo analistas, a grande maioria dos habitantes destas zonas prefere uma federação à independência, por consideram que essa seria a melhor forma de combater a discriminação política e económica de que se sentem alvos.
Camarões: Valorizar a língua local
No noroeste dos Camarões, os alunos da primeira classe têm aulas em inglês, apesar de a maioria não dominar a língua. Por isso, algumas escolas começaram a leccionar em kom, o idioma local.
Foto: DW/H. Fischer
Aprender a escrever a própria língua
No noroeste dos Camarões, os alunos costumam ter aulas em inglês, apesar de não dominarem a língua. As crianças têm de aprender a ler e a escrever uma língua estrangeira a partir da primeira classe - é um desafio enorme. Por isso, em algumas escolas, os professores começaram a ensinar em kom, a língua materna dos alunos.
Foto: DW/H. Fischer
Histórias do dia-a-dia
Com as aulas na língua materna, os alunos fazem progressos muito mais rapidamente do que noutras escolas. Vários linguistas fizeram livros na língua local, que incluem expressões da região e histórias que os alunos conhecem do seu dia-a-dia. Assim, compreendem mais facilmente o que aprendem na escola.
Foto: DW/H. Fischer
Inglês como língua estrangeira
As crianças começam a aprender inglês na segunda classe. Nessa altura, já sabem ler e escrever em kom. O inglês só tem algumas letras diferentes da língua local.
Foto: DW/H. Fischer
O despertar da curiosidade
As crianças que aprendem inglês na segunda classe participam muito mais ativamente nas aulas do que os que começaram a aprender logo na primeira. Percebem as perguntas e não têm medo de dar respostas erradas. Nota-se que os alunos têm vontade de aprender e lêem tudo o que lhes passa pelas mãos.
Foto: DW/H. Fischer
Sem medo da vara
Quem se diverte nas aulas aprende mais, e quem aprende mais diverte-se mais nas aulas. "Com as aulas na língua materna, os professores batem muito menos nos alunos", diz Kain Godfrey Chuo, coordenador do projeto. Os castigos corporais são comuns nos Camarões. Se os alunos se portam mal, arriscam-se a que os professores lhes batam com uma vara.
Foto: DW/H. Fischer
Competências dos professores
Muitos professores da região também não falam inglês corretamente, e isso prejudica as aulas. Ensinar na língua local é, também por isso, uma mais-valia.
Foto: DW/H. Fischer
'English first" a partir da quarta classe
Só a partir da quarta classe é que as aulas começam a ser só em inglês. Os alunos têm até essa altura para compreender as bases da matemática, bastando apenas traduzi-la para inglês. Isso faz com que os alunos resolvam os problemas muito mais depressa do que se tivessem, primeiro, aprendido a fazer contas numa língua estrangeira.
Foto: DW/H. Fischer
Uma base sólida
Seis anos depois, ao terminar a escola primária, os alunos que tiveram aulas na língua materna costumam ter melhores notas do que aqueles que começaram a aprender em inglês na primeira classe. As aulas na língua materna criam uma base sólida para ter sucesso na escola e, mais tarde, na vida profissional.