RDC: SADC pede recontagem dos votos das presidenciais
Reuters | AFP | mjp
13 de janeiro de 2019
Candidato Martin Fayulu formalizou no Tribunal Constitucional pedido para anular resultados que dão vitória a Félix Tshisekedi. Comunidade de Desenvolvimento da África Austral defende Governo de unidade nacional.
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A República Democrática do Congo deve contar novamente os votos da contestada eleição presidencial de 30 de dezembro, considera a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Num comunicado divulgado este domingo (13.01), o bloco defende que "uma recontagem providenciaria as necessárias garantias tanto para vencedores como derrotados".
O candidato derrotado Martin Fayulu formalizou no sábado o recurso junto do Tribunal Constitucional para anular os resultados provisórios das presidenciais anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral Independente (CENI) que dão a vitória a Félix Tshisekedi.
Fayulu afirma que venceu as eleições com 61 por cento dos votos, contra os 34,83 por cento anunciados pela CENI que o colocam atrás de Tshisekedi, que, oficialmente, venceu com 38,57 por cento.
O candidato derrotado acusa o seu rival da oposição de ter feito um acordo com o Presidente cessante, Joseph Kabila, para ser declarado vencedor. Tanto Tshisekedi como Kabila negam esta acusação.
Também a Igreja Católica anunciou que dados compilados pela sua equipa de 40 mil observadores apontam um vencedor diferente daquele que foi anunciado pela CENI, embora não adiante um nome.
A SADC diz que tomou nota "das sérias dúvidas sobre os resultados provisórios" expressas pela Igreja Católica e pela fação de Fayulu.
União nacional para a paz?
A SADC, que inclui antigos aliados de Kabila como Angola e a África do Sul, recomenda a criação de um Governo de unidade nacional incluindo os partidos que representam Kabila, Fayulu e Tshisekedi de forma a promover a paz.
Este domingo, o Presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, presidente em exercício da SADC, pediu aos dirigentes congoleses que "considerem um acordo político negociado com vista a um Governo inclusivo".
Este acordo permitiria remediar "as objeções aos resultados provisórios das presidenciais", diz o documento assinado por Lungu.
"A SADC chama a atenção dos políticos congoleses para medidas semelhantes às que tiveram muito sucesso na África do Sul, Zimbabué e Quénia" que criaram "a estabilidade necessária para a paz duradoura", acrescenta o comunicado do bloco.
No entanto, as hipóteses parecem reduzidas, depois da formalização do recurso de Fayulu – apoiado por rivais de Kabila – junto do Constitucional para anular os resultados das presidenciais.
Na sexta-feira, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral tinha já exortado todos os intervenientes políticos e apoiantes com "discórdia eleitoral" a evitarem atos de violência, instando-os "a resolverem as diferenças com diálogo".
RDC: Chocolates de um país em crise
A República Democrática do Congo é conhecida pela violência, pobreza e corrupção. Apesar dos problemas, a primeira empresa de chocolate do país está a produzir doces. Uma visita à "Cocoa Congo", na província de Goma.
Foto: DW/J. Raupp
Grãos do Beni
Adèle Gwet e Matthew Chambers inspecionam um carregamento de grãos de cacau que chegou da zona de Beni, a 300 quilómetros de distância. O casal empreendedor investe muito tempo e dinheiro: Chambers investiu 250 mil dólares na "Cocoa Congo", com a ajuda do Ministério Britânico do Desenvolvimento. Mas "o valor agregado do nosso 'chocolate premium' é produzido na própria RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Matéria-prima em vez de exportação
Grãos de cacau são transportados em autocarros de passageiros através de uma floresta onde milícias atuam. A empresa Cocoa Congo paga aos produtores de cacau - especialmente às mulheres - um quinto a mais pela matéria-prima do que as grandes empresas que exportam diretamente os grãos. Além disso, a empresa treina agricultoras para aumentarem seus rendimentos, atendendo aos padrões ambientais.
Foto: DW/J. Raupp
"Chocolatière" autodidata
"Eu vim ao Congo para trabalhar e ajudar outras mulheres", diz Adèle Gwet, natural dos Camarões. "Eu quero ajudá-las a ter uma vida melhor, por isso eu ensino como fazer chocolates." As receitas, ela buscou na internet. Durante meses, trabalhou com o marido, um americano, provando-as.
Foto: DW/J. Raupp
Ajuda para mulheres
Seis dos dez funcionários do Cocoa Congo, em Goma, são mulheres em risco. Aqui, elas aprendem a ferver a massa de cacau. A cozinha onde trabalham está localizada num edifício residencial. O chocolate está a ser produzido há apenas três meses - até agora, foram algumas centenas de barras. A previsão é de 20 mil por mês no próximo ano!
Foto: DW/J. Raupp
100% congoleses
Mamy Simire embala o chocolate em papel de alumínio. Ela mal consegue acreditar que foi feito aqui. Para a mãe de cinco filhos, comer doces por um longo tempo era impensável: "Eu só conhecia chocolates pela televisão, onde via outras pessoas comendo. Experimentar mesmo não era possível, pois é muito caro para nós". Agora, as crianças dela podem provar: são o controle de qualidade!
Foto: DW/J. Raupp
Produtos artísticos de exportação
A Cocoa Congo quer primeiro vender o chocolate no exterior pela internet. Chambers criou algo especial para entrar no mercado: artistas de Goma pintam quadros para o papel de embalagem. Um pacote de chocolate com três barras de 50 gramas deve custar 20 dólares. "Não exportamos apenas chocolate, mas também uma imagem positiva da RDC", diz Chambers.
Foto: DW/J. Raupp
Ativista
Sylvie Chishungu Zawadi se preocupa com as produtoras de cacau em Beni. Com frequência, milícias estupram mulheres que trabalham nos campos. Algumas são sequestradas e assassinadas. "Sim, é bom trabalhar com elas. Mas até que ponto a segurança delas está garantida? Ou será que elas estão à mercê das milícias?". Para um chocolate verdadeiramente seguro, o Estado também deve fazer a parte dele.