As dificuldades económicas que Moçambique atravessa também atingem parlamentares em Maputo, Gaza, Manica, Zambézia e Inhambane. Nesta última província no sul do país há deputados sem receber salários desde novembro.
Publicidade
No total são 70 os deputados da Assembleia Provincial de Inhambane que não recebem os seus salários e subsídios desde novembro do ano passado.
Quase todos estão sem meios para sustentar as famílias e financiar os estudos dos filhos, conta o chefe da bancada parlamentar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição. "Não sabemos o que fazer agora", diz Ângelo Fafetine.
08.02.17 Inhambane deputados sem salários - MP3-Stereo
O chefe da bancada da RENAMO explica que os deputados tiveram conhecimento em 2016 dos cortes no Orçamento do Estado, por causa da contenção de despesas. Mas na altura houve garantias, por parte do porta-voz do Governo, de que os parlamentares iriam receber os salários na totalidade.
"Tinham garantido que não iriam mexer na verba que suporta os vencimentos para que todos os trabalhadores da função pública não se preocupassem", lembra.
Porém, não foi isso o que acabou por não acontecer. "Agora estamos admirados e este é o quarto mês" sem salários, sublinha Ângelo Fafetine.
Contenção de despesas
O presidente da Assembleia Provincial de Inhambane, Pedro Mariano, confirmou à DW África que a crise salarial teve origem nos cortes no Orçamento do Estado em 2016. "Quando houve em 2016 aquela retificação, esta rubrica foi mexida e fomos afetados", recorda.
Para o presidente da Assembleia Provincial de Inhambane, a solução para o problema dos salários em atraso dos deputados passa por uma negociação, o mais célere possível, com o departamento do Tesouro.
"Tem de se negociar também com a Direção Nacional do Tesouro para que seja esta a autorizar a Direção Provincial da Economia e Finanças em Inhambane o pagamento destes subsídios do ano passado", defende Pedro Mariano.
Há dois dias que a DW África procura, sem sucesso, ouvir o chefe da bancada parlamentar da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), na Assembleia Provincial de Inhambane.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.