Moçambicanos preocupados com o aumento dos preços
3 de abril de 2017Transportadores semicoletivos de passageiros paralisaram esta segunda-feira (03.04.) as suas atividades na cidade de Maputo, em protesto contra o aumento dos preços dos combustíveis. Ainda na capital moçambicana, o preço do pão sofreu um agravamento no último sábado, na sequência da retirada do subsidio do Governo a farinha de trigo.
A greve não contou com a adesão de todos os transportadores mas mesmo assim obrigou a que muitos estudantes e funcionários faltassem aos seus postos de trabalho enquanto outros tiveram de fazer o percurso a pé. Outros ainda recorreram às carrinhas de caixa aberta para chegar à cidade, dada a exiguidade dos transportes públicos disponíveis.
Paralisação convocada através de redes sociais
Os grevistas exigem a atualização imediata da tarifa do transporte, alegando que os atuais custos de manutenção são incomportáveis.A paralisação foi convocada através das redes sociais, mas a Associação dos Transportadores Rodoviários, distanciou-se da convocação da greve, segundo disse Castigo Nhamane, o Presidente da Associação.
"Aquela mensagem não a reconhecemos. Nós a FEMATRO que representamos os transportadores urbanos de passageiros estamos a trabalhar com o Governo na procura de melhor solução".
Esta segunda-feira (03.04), o cenário nas paragens dos transportes era de desespero. Podiam-se ver longas filas de passageiros.
"Estou à espera de chapa há uma hora. Vou até Liberdade. Vou esperar mais um bocado para ver se consigo fazer umas ligações. Terei que pagar o dobro", disse à reportagem da DW Samuel Vasco Andrade. "Vou ao serviço. Estou aqui há uns de vinte minutos. Até aqui não está a aparecer nenhum carro. Sou obrigado a apanhar um carro que vai até Mozal para poder apanhar um outro na Matola Rio que vai até Boane. Vou fazer ligação para não atrasar a minha chegada no serviço", disse por seu lado Samuel Vasco Andrade.Contudo, a Polícia desdramatiza a situação. Orlando Mudumane, porta-voz da corporação na cidade de Maputo considerou que "a situação está calma , os transportadores semicoletivos estão a circular normalmente. As pessoas conseguiram chegar aos seus locais de trabalho sem grandes transtornos".
A Polícia reforçou a segurança em algumas vias, paragens e locais de grande concentração. Não foram reportados incidentes.
Recorde-se que o Governo moçambicano aumentou no dia 22 de março o preço dos combustíveis, mantendo os subsídios à agricultura e aos transportes públicos, mas a maioria dos operadores de "chapas" não está registada, pelo que não beneficia da medida.
Com os aumentos, a gasolina passou de 50,02 meticais (0,69 euros) para 56,06 meticais o litro (0,77 euros), enquanto o gasóleo subiu de 45,83 meticais (0,63 euros) para 51,89 meticais o litro (0,71 euros).
Pão mais caro desde sábado
Ainda na cidade de Maputo, o preço do pão subiu este fim de semana ( 01.04), na sequência do anúncio da retirada do subsídio do Governo ao preço da farinha de trigo destinado as panificadoras.
Cidadãos ouvidos pela DW África afirmam terem sido colhidos de surpresa.
"Chamo-me José Barnabé. Eu não comprei voltei, (o pão) porque está caro. Não sabia, se soubesse não vinha aqui".
Laura Joaquim mostrou-se muito surpresa e afirma "cheguei hoje, o pão está a oito meticais (0,12 euros) e não subiu de peso. A pobreza está a aumentar. Não é possível com cem meticais (1,40 euros), se tiveres uma família de cinco pessoas, já não compras pão".O Governo Justificou a retirada do subsídio afirmando que há uma redução no preço do trigo no mercado internacional, que a moeda nacional, o metical regista uma relativa estabilidade em relação ao dólar.
Aponta como outros fatores a conjuntura económica atual e a concorrência desleal por parte de algumas panificadoras que esta a gerar uma ineficiência do mercado em prejuízo do Estado e dos consumidores.
Reação da população era previsível
Para o analista Fernando Lima era previsível a atual reação ao aumento dos preços dos combustíveis e do pão.
Lima explica que apesar do Governo continuar a subsidiar o combustível, a maioria dos transportadores não pode beneficiar da medida porque não tem a sua situação regularizada.Acrescenta que a intenção do Governo é paulatinamente fazer com que os combustíveis sejam pagos pelos consumidores ao seu preço de custo e não subsidiado. Só que como referiu, no passado o Governo tentou numa primeira fase usar a mão dura em relação aos protestos contra o aumento dos preços dos combustíveis e do pão, mas acabou por recuar impondo subsídios para tentar minimizar os efeitos da crise junto da população.
Questionado sobre os possíveis cenários futuros considerou que "o Governo tenta a todo o custo evitar as convulsões sociais e a partir dessa premissa estará muito atento para vêr até que ponto a população poderá acomodar este novo peso em termos de custo de vida porque estas duas situações, dos combustíveis e do custo do pão, vem a somar-se a também a uma depreciação massiva do metical, ou seja o metical perdeu no espaço de um ano mais de cem por cento do seu valor em relação às moedas cotadas internacionalmente”.