O país tem o maior número de casos de HIV/SIDA entre os PALOP, com cerca de 1,5 milhões de pessoas infetadas. Apesar dos avanços, a crise económica traz incertezas sobre o financiamentos de projetos de combate à doença.
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O porta-voz do Conselho Nacional de Combate à SIDA (CNCS) de Moçambique, Juvenal Armazia, acredita que a atual crise económica neste país poderá abalar os financiamentos aos projetos de combate à doença. Com destaque para os projetos financiados por verbas externas, porque a crise tende fazer com que os doadores redefinam prioridades e focos de ação no país.
Segundo Armazia, trata-se de algo que já vem acontecendo. "A crise económica afeta-nos. O país não muda o cenário de ter mais financiamentos domésticos e menos financiamentos internacionais da noite da noite para o dia", explica. De acordo com o porta-voz do CNCS, são necessários investimentos em medicamentos e para prevenção da doença e cerca de 95% desses fundos são de parceiros internacionais.
Apesar dos esforços empreendidos para combater o HIV/SIDA nos últimos dez anos, os números ainda são alarmantes. Em Moçambique, mais de cem pessoas morrem todos os dias - um total aproximado de 40 mil pessoas por ano.
Grupos de risco
O especialista Mario Merrengula, da Universidade Johns Hopkins, diz que no país em questão os grupos de risco são todos os "homens e mulheres entre os 15 e 49 anos". Ele trabalha para essa instituição e tem auxiliado a implementação de projetos de combate à doença em Moçambique.
Segundo especialistas, entre as causas da epidemia está o diagnóstico tardio. Muitas pessoas evitam fazer o teste por vergonha ou medo. Uma vez portadoras do vírus, acabam transmitindo a doença.
O porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Gregory Härtl, diz que o diagnóstico é importante porque possibilita o tratamento antecipado. Com isso, "há mais hipóteses de sobrevivência, além de evitar-se a contaminação de parceiros", diz Härtl.
Esforços
Mario Merrengula, da Universidade John Hopkins, salienta o esforço do Governo moçambicano para conceder financiamentos às organizações da sociedade civil.
01.12.2016 AIDS Tag - MP3-Mono
Os resultados são visíveis. A ONU-SIDA reporta uma queda de 40% no número de novas infecções entre adultos de 2004 a 2014 neste país. A contaminação diminuiu em 73% entre os bebés de mães portadoras do vírus.
"Há um esforço que foi feito pelo Governo de Moçambique para assegurar que não tenhamos pessoas infectadas através da gravidez ou através da transfusão de sangue", diz Merrengula.
Também o IV Plano Estratégico Nacional de resposta ao HIV/SIDA 2015-2019, avaliado em 472 milhões de euros, prevê a redução da mortalidade em 40% e o aumento em 80% no número de beneficiários de antirretrovirais.
Por isso, o porta-voz do CNCS mantém-se otimista sobre a prometida diminuição dos casos da doença no país até 2030. "Talvez não erradiquemos a doença, mas podemos fazer com que o HIV/SIDA deixe de ser um problema de saúde pública em Moçambique”, conclui Juvenal Armazia.
Kasensero: local de origem da SIDA
Quando a primeira epidemia de SIDA global aconteceu na aldeia de Kasensero no Uganda, muitos acreditavam que se tratava de bruxaria. Médicos identificaram a doença como vírus. Hoje, 33% dos habitantes são seropositivos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma aldeia de pescadores
Kasensero é uma aldeia pequena e pobre situada na margem do Lago Vitória no distrito de Rakai no sul do Uganda na fronteira com a Tanzânia. Em 1982, a aldeia tornou-se famosa a nível mundial. Em apenas alguns dias morreram milhares de pessoas com uma doença desconhecida. O HIV já era conhecido nos EUA, na Tanzânia e no Congo. Mas uma epidemia com esta dimensão nunca tinha acontecido.
Foto: DW/S. Schlindwein
Milhares de pessoas morrem
Kasensero 1982: Thomas Migeero era a primeira vítima. Primeiro perdeu a fome e depois os cabelos. No fim ele só era pele e osso, se lembra o seu irmão Eddie: "Alguma coisa dentro dele comeu-lhe". Durante o funeral, o seu pai não se aproximou do caixão. Todo mundo acreditava numa maldição. Hoje sabemos: morreu de SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Uma cidade morta
Quando a doença começou a matar milhares de pessoas, os habitantes começaram a abandonar a cidade. As famílias que podiam partiram e deixaram os seus campos de milho, e os bovinos e caprinos. Até hoje, Kasensero parece uma cidade abandonada e morta. Só os mais pobres ficaram.
Foto: DW/S. Schlindwein
Como o vírus chegou a Kasensero
Presumivelmente o vírus chegou através das rodovias da África Oriental a Kasensero. Condutores de veículos pesados passam a noite nos postos fronteiriços de Kasensero. Muitos procuram prostitutas como esta mulher de 30 anos de vestido rosa, que gostaria não ser reconhecida. Conta que os homens pagam quatro vezes mais para o sexo sem preservativo. Ela não se importa, pois é seropositiva.
Foto: DW/S. Schlindwein
SIDA como normalidade
Joshua Katumba é seropositivo. O pescador de 23 anos nunca visitou uma escola e não sabe ler e escrever. Não tem uma perspetiva para um futuro melhor – como a maioria dos que vivem em Kasensero. Um terço dos habitantes estão infetados com o vírus da SIDA – um dos índices de contaminação pelo HIV mais altos do mundo.
Foto: DW/S. Schlindwein
Medicamentos grátis
Yoweri Museveni, o Presidente do Uganda, foi o primeiro presidente da África, que reconheceu a SIDA como uma doença. A seguir, o Uganda desenvolveu-se como modelo da luta contra a SIDA. Pesquisadores internacionais chegaram a Rakai. Subsídios foram distribuídos. No hospital da região, os doentes com HIV passam horas em fila para buscar os seus medicamentos: são grátis.
Foto: DW/S. Schlindwein
Violência sexual
Há cinco anos, que Judith Nakato é seropositiva. Provavelmente ela foi infetada quando foi estuprada e ficou grávida. Pouco antes do parto, os médicos perceberam que ela tinha o vírus e conseguiram evitar uma transmissão ao bebé. Todos os dias, Judith tem que tomar os seus medicamentos contra a SIDA.
Foto: DW/S. Schlindwein
Anti-retrovirais escassos
Desde que Judith Nakato começou a tomar os seus medicamentos, conseguiu voltar a trabalhar. Os comprimidos, chamados anti-retrovirais ou ARV, evitam que a SIDA se desenvolve totalmente. Os medicamentos são pagos pelo Fundo Global contra a SIDA. Mas Judith Nakato tem que deslocar-se a uma outra cidade a mais de cem quilómetros para receber a sua medicação, pois os medicamentos são escassos.
Foto: DW/S. Schlindwein
Pacientes estão moribundos
Olive Hasal de 50 anos emagreceu a pele e ossos. Ela respira com muito esforço e os olhos parecem cansados. Ela mostra o comprimido que está embrulhado num pano. "Este é o último", diz ela. Hasal já viu morrer o seu marido e as suas duas crianças. Ela sabe que ela também vai morrer se ninguém for buscar os medicamentos na capital do distrito que fica a 140 quilómetros de distância.
Foto: DW/S. Schlindwein
Modelo contra a luta de SIDA?
Uganda foi considerado modelo da luta contra a SIDA: grandes somas de dinheiro foram doadas pela comunidade internacional. No início com sucesso: os casos de infeções diminuíram em cerca de dois terços a partir de 1990. Mas nos últimos dez anos, o número das infeções aumentou novamente.
Foto: DW/S. Schlindwein
Testes clínicos e pesquisas
Desde as primeiras tentativas de terapias em 1996, os habitantes foram usados para estudos de longo prazo. Kasensero é o laboratório das pesquisas globais da SIDA. O resultado da pesquisa mais recente: homens circuncidados reduzem o risco de infeção em 70 %. O Uganda aposta agora na circuncisão masculina para reduzir a propagação do HIV-SIDA.