"No PODEMOS há transparência, mas alguém pode não ter"
2 de junho de 2025
Está instalada a desconfiança no Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (PODEMOS). Alberto Ferreira, candidato a secretário-geral da segunda maior força da oposição em Moçambique, submeteu uma providência cautelar para impedir a realização da segunda volta das eleições internas.
Ferreira alega que uma repetição do processo seria "irregular", segundo os estatutos do partido.
As suspeitas são de viciação e fraude na primeira volta. Em entrevista à DW, o candidato diz que tem as suas desconfianças, mas prefere não avançar nomes. Ainda assim, Alberto Ferreira denuncia irregularidades alegadamente cometidas pelo atual secretário-geral do PODEMOS, Sebastião Mussanhane.
Entretanto, esta segunda-feira (02.06), o presidente do PODEMOS pediu respeito pelos órgãos do partido.
"As decisões que forem a ser tomadas dentro do órgão, os membros têm de respeitar. As decisões que foram tomadas lá foram aquelas, que tem que se ir à segunda volta, então tem que se respeitar", declarou Albino Forquilha, em Maputo.
DW África: Submeteu uma providência cautelar. Esgotaram-se as soluções internas no PODEMOS para esta crise?
Alberto Ferreira (AF): Nós submetemos essa providência cautelar ao Conselho Fiscal, que é o órgão jurídico de fiscalidade sobre as leis, sobre o quadro legal. Estava em vista acontecer uma segunda volta, mas achamos que seria irregular e iria contra os estatutos do partido. Também é verdade que o PODEMOS, ainda sendo um partido novo, não é perfeito.
DW África: Recorreu ao Conselho Fiscal do partido?
AF: Sim, do partido. Submetemos e demos cerca de três dias para que possam responder e não tivemos resposta dentro desse prazo. Não obstante, o secretário-geral fez um comunicado que ia contra as regras e portanto, nós, o que pensámos foi: Se o secretário-geral não está a nosso favor, vamos procurar uma entidade neutra que pudesse dizer, efetivamente, se temos ou não razão. Submetemos a providência cautelar em silêncio, mas [a notícia] depois acabou por chegar às televisões e às rádios.
DW África: O PODEMOS é um partido que se pauta pela transparência e pela integridade?
AF: Sim, creio que se pauta pela integridade. Nunca houve dúvidas quanto a isso. Pode ser que alguém não seja transparente, mas não podemos deixar que as partes sejam substituídas por um todo. Como um todo, o partido está bastante coeso, está firme e está bastante bem. Nunca houve dúvida nenhuma.
DW África: Mesmo tendo em conta que recorreu a um órgão neutro com a sua providência cautelar? Isso não denuncia alguma falta de transparência ou falta de integridade no partido?
AF: Não, a meu ver não. Não necessariamente. Mas pode ser que alguém dentro do partido possa não ter essa transparência. Alguém no partido, que pode ser o secretário-geral ou alguém interessado numa outra pessoa que espera que possa ser o seu líder. Eu vi, por exemplo, que o próprio secretário-geral levantava a mão na hora da votação em apoio a outros. Mas isso não quer dizer o partido.
O que eu declino, é que ele apoie, abertamente, outra pessoa. Os dirigentes não devem mostrar-se logo a priori a favor de uma pessoa. Porque qualquer secretário-geral que seja escolhido é eleito secretário-geral de todos e não de um grupo.
DW África: A ser negado o seu pedido, qual seria a próxima medida a ser tomada?
AF: O que eu estou a fazer é ajudar o partido a pensar a justiça, apenas isso. Estou sob a direção do partido. A última decisão compete ao partido. Se o partido, nos seus órgãos internos, dizem 'não te queremos', não vou a nenhum outro lugar. Mas quis mostrar que a justiça prevalece em todos os momentos e em todos os órgãos. Não vou entrar em guerra.
DW África: Quem teria interesse em viciar as eleições internas? Tem alguma desconfiança?
AF: A desconfiança é natural. Existe sim, mas prefiro não dizer os nomes porque somos todos irmãos e, como irmãos, nem todos vão estar de acordo.