Crise na Guiné-Bissau é um "buraco", afirma Presidente ganês
Lusa | gs
20 de maio de 2017
Akufo-Addo alertou que a instabilidade política na Guiné-Bissau pode contagiar a região. E a plataforma que reúne vários partidos políticos guineenses acusou o Presidente de consumar um "golpe de Estado".
Publicidade
"A situação é preocupante e tem sido assim nos últimos 20 anos. Está na hora de encontrar uma solução porque a instabilidade na Guiné-Bissau tem tendência para contagiar o resto da região", afirmou Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, chefe de Estado do Gana, esta sexta-feira (19.05), em conferência de imprensa na cidade da Praia, Cabo Verde.
Na opinião do Presidente ganês, de visita ao arquipélago lusófono, a crise na Guiné-Bissau "tornou-se num grande buraco na estrutura da região".
Pos isso, a "necessidade de encontrarmos uma solução é absolutamente urgente", acrescentou. "Não pode haver qualquer dúvida sobre isto. É absolutamente crítico que encontremos uma fórmula diplomática, política e de segurança que nos permita trazer paz e estabilidade", disse o chefe de Estado.
Nana Addo Dankwa Akufo-Addo passou uma temporada em Bissau, há cerca de dez anos, na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros do Gana, a fim de travar contactos para encontrar uma solução para a crise política no país.
No entanto, lamenta, "dez anos depois são as mesmas coisas, tem que acabar". O Presidente ganês reafirmou o compromisso da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "para tentar encontrar uma solução viável".
No entanto, o empenho da comunidade internacional não chega, avisou o Presidente cabo-verdiano, na conferência de imprensa conjunta. "O problema na Guiné-Bissau só pode ser resolvido se houver uma vontade genuína dos guineenses e dos seus agentes políticos para encontrar fórmulas de consenso", considerou Jorge Carlos Fonseca.
Partidos guineenses acusam José Mário Vaz de golpe de Estado
Entretanto, o Espaço de Concertação Democrática, plataforma que reúne vários partidos políticos guineenses, acusou o Presidente da República de consumar um "golpe de Estado, ao subverter a ordem constitucional", com o discurso que fez, na quinta-feira (18.05), em Bissau, num comício popular de encerramento da Presidência Aberta.
José Mário Vaz afirmou que não vai demitir o Governo liderado por Umaro Sissoco Embaló. Assim, o chefe de Estado guineense rejeita a ideia da comunidade internacional, que tinha apelado à nomeação de um novo Governo com um primeiro-ministro de consenso.
Em comunicado, os partidos afirmaram que o discurso de José Mário Vaz constituiu "uma clara rutura com os compromissos assumidos, a nível nacional e internacional, em particular com o Acordo de Conacri". Assim, José Mário Vaz além de "declarar guerra aberta aos seus adversários políticos, que apelidou de inimigos, demonstrou um claro desrespeito com a comunidade internacional", lês-se no documento.
Os partidos do Espaço de Concertação Democrática (PAIGC, PCD, UM, PND, PUN, PST e MP) acusam ainda o Presidente guineense de instaurar "um regime ditatorial", colocando o país "em confronto direto com a comunidade internacional".
A CEDEAO lançou um ultimato à Guiné-Bissau, ao colocar o dia 25 de maio como limite para que os atores políticos guineenses cumpram com o Acordo de Conacri, sob pena de impôr sanções.
No entendimento, firmado em Conacri, em outubro de 2016, os dirigentes políticos guineenses concordaram em nomear um primeiro-ministro de consenso, a definir, para liderar um novo Governo até ao final da legislatura. Mas a nomeação de Umaro Sissoco Embaló gerou forte contestação na classe política. O PAIGC exige a nomeação de Augusto Olivais para o cargo de primeiro-ministro.
Na sequência de divergências entre as duas principais forças políticas, Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e o Partido da Renovação Social (PRS), o Parlamento encontra-se bloqueado.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.