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Crise na RENAMO: Mondlane desafia Momade e gera incertezas

Silaide Mutemba (Maputo)
28 de fevereiro de 2024

Venâncio Mondlane desafia a liderança da RENAMO e gera incertezas no seio do maior partido da oposição moçambicana. Analistas dizem que isto pode indicar um possível "vazio de poder" na direção do partido.

Foto: Roberto Paquete/DW // Amos Fernando/DW

Ainda na ressaca das eleições autárquicas de outubro passado, a política moçambicana vê-se abalada por uma crise interna no maior partido da oposição, com Venâncio Mondlane como protagonista.

O deputado da Assembleia da República pela bancada da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) desafiou publicamente a liderança partidária, ao submeter ao Tribunal duas providências cautelares, onde questiona a liderança do presidente Ossufo Momade. Venâncio Mondlane alega que Momade está fora dos limites estatutários e exige a convocação imediata de um congresso.

Fontes ouvidas pela DW fazem uma análise que vai do heroísmo de Venâncio Mondlane a um futuro inglório dentro da RENAMO.

"Vazio de poder"

O jurista e analista político Ernesto Júnior entende que apesar desta ação não estar em conformidade com a disciplina partidária, Mondlane agiu de acordo com a legislação que regula a atividade dos partidos políticos.

Ossufo Momade já cumpriu os seus cinco anos de mandato na direção da RENAMO, mas segue na liderança do partidoFoto: Amos Fernando/DW

De acordo com Júnior, "tendo expirado o mandato de cinco anos e não ter sido feito um congresso para a reeleição ou eleição de novos membros de direção, diríamos que, neste momento, a RENAMO tem um vazio de poder, porque os órgãos que foram eleitos há mais de cinco anos estão fora do seu mandato, o que significa que estão a exercer os seus cargos ilegalmente".

Por outro lado, o professor universitário Hilário Chacate considera que a atitude de Venâncio Mondlane pode representar a vontade da maioria. "Parece-me que é um interesse de vários segmentos da própria RENAMO; [o Venâncio] foi o único que teve coragem de tomar esta postura e confrontar Ossufo Momade e ninguém mais conseguiu o fazer".

Futuro incerto

Apesar da legitimidade que os analistas atribuem na ação de Venâncio Mondlane, vislumbra-se um futuro incerto para o político.

Hilário Chacate prevê medidas drásticas a serem tomadas pelo partido. Segundo o professor universitário, "a RENAMO não permitirá que Venâncio apareça na lista para a sua candidatura como deputado na Assembleia da República, ou será colocado numa posição em que se sabe que terá muitas dificuldades para ser eleito".

Chacate vai mais longe ao afirmar que, "na RENAMO, Venâncio já não tem futuro, já se esgotou tudo o que ele poderia conseguir".

Venâncio Mondlane foi recentemente exonerado como relator da sua bancada no Parlamento, tendo sido igualmente, afastado como segundo da fila da RENAMO a nível da Assembleia da República.

Venâncio Mondlane durante a campanha para as autárquicas em MaputoFoto: Romeu da Silva/DW

Caminhos políticos

Face a este cenário, Ernesto Júnior entende que restam apenas duas opções para Venâncio Mondlane, que o considera um ator político com expressão em Moçambique: "ou se filiar a uma outra formação política ou criar o seu próprio partido".

"E também pode ser o enterrar político de Venâncio Mondlane já que ele é visto como 'persona non grata' dentro da própria RENAMO", ressalta o jurista.

Entretanto, a DW contatou o porta-voz do partido, José Manteigas, que optou por um silêncio estratégico, recusando-se a comentar sobre a crise. Manteigas avançou, no entanto, que o "partido vai se pronunciar oportunamente".

Venâncio Mondlane iniciou a sua carreira política como membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceira maior forca política em Moçambique, tendo abonado o partido devido a divergências internas junto à liderança.

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