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Crise na RENAMO: "Ossufo Momade já percebeu a pressão"

6 de junho de 2025

À DW, Manuel Bissopo, ex-secretário-geral da RENAMO, diz que a reunião desta semana com os desmobilizados foi boa, para medir o pulso no partido. Mas Bissopo não gostou de algumas palavras do presidente Ossufo Momade.

Manuel Bissopo ex-secretário-geral da RENAMO
Manuel Bissopo, o último secretário-geral da RENAMO na era DhlakamaFoto: Nelson Carvalho

A associação dos desmobilizados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) esteve reunida esta semana, na cidade de Maputo, para tentar dirimir a crise interna no partido. O encontro ocorreu depois da invasão de sedes da RENAMO por antigos guerrilheiros descontentes com o líder do partido, Ossufo Momade.

No discurso de encerramento da conferência dos desmobilizados, esta quinta-feira (05.06), Momade acusou os ex-candidatos à presidência da RENAMO, Elias Dhlakama e Alfredo Magumisse, de estarem a financiar os combatentes contestatários.

Mas as palavras de Momade "soaram" mal no partido. Em entrevista à DW África, Manuel Bissopo, o último secretário-geral da RENAMO na era Dhlakama, diz que a "colocação não ficou bem".

DW África: Como avalia as acusações de Ossufo Momade?

Manuel Bissopo (MB): Bom, nós que estávamos na sala entendemos que o presidente, se calhar, sentiu que a questão dos militares se amotinarem e fazer o que fizeram é porque existe "uma pessoa poderosa que dá dinheiro". Mas o meu sentimento não é esse.

DW África: O senhor já foi a segunda figura mais importante do partido. Não acha a colocação [de Momade] um pouco "fraturante" quando até se aponta nomes de ex-adversários no último congresso, ou seja, ex-candidatos à presidência do partido. Não será uma forma também de combater a oposição interna?

MB: Não conheço as motivações. Ele é o presidente, ele sentiu-se confortável em falar quem seriam os mentores, os mandantes. Eu não sei, mas não ficou bem.

Ossufo Momade, líder da RENAMO, partido que está a ser abalado por uma crise internaFoto: Bernardo Jequete/DW

DW África: Há algumas correntes muito próximas ao presidente Ossufo que tentam passar a ideia de que as pessoas que ocuparam as sedes ao nível dos distritos das províncias, até a sede nacional, não são desmobilizados da RENAMO, mas membros da Junta Militar. Tem alguma explicação sobre isso?

MB: Não, porque o [João] Machava foi adjunto do [Mariano] Nhongo na Junta Militar. E deduzo que isso aconteça por ele ser porta-voz, estando à frente dos militares. Estou a deduzir, não quero dizer que é isso: Mas a ideia de que não são desmobilizados não é verdade. Isso porque alguns desmobilizados que estavam lá na sede, que até sofreram com o gás lacrimogéneo, também estavam na conferência e falaram na conferência. Vincaram a sua posição  —  a mesma posição.

DW África: E a posição que normalmente têm apresentado é pedir a renúncia de Ossufo Momade.

MB: Também apresentaram isso na conferência, falaram a mesma coisa na frente dele. Por isso é que essa reunião foi muito importante, porque trouxe um ambiente de "partilha de sentimentos", de uma forma frontal. Isso é bom. Agora, dizer que não são militares, não. Para mim, são desmobilizados.

DW África: Mas o próprio general Ossufo Momade considerou esse pedido de que deve renunciar como "uma afronta". Acredita que, com toda essa pressão da sociedade, o próprio poderá "bater com as portas"? Ou vai tentar lutar até à última consequência?

MB: Eu não estou a ver ele a dizer que "quer ficar a qualquer preço". Essa pressão toda, se calhar, ele já percebeu. E temos de ter fé que, em um momento próprio, ele manifestará a sua característica, de ser pacífico sempre. Eu não acredito que ele esteja à vontade com essas coisas todas que estão a acontecer. Queimaram a foto dele... mesmo durante a reunião, os militares o confrontaram. Eu penso que essa reunião poderá ajudá-lo a tomar novas posições no futuro.