Crise no Governo de Angela Merkel adensa-se. Ministro do Interior Horst Seehofer ameaça demitir-se se não chegar a acordo com chanceler. O tema da discórdia: o destino de muitos dos migrantes que pedem asilo na Alemanha.
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O ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, ameaçou, este domingo (01.07), renunciar ao cargo na sequência de um conflito interno com a chanceler alemã. Angela Merkel e Seehofer não estão de acordo em relação à política migratória e o ministro admitiu pôr o lugar à disposição e abdicar da liderança da União Social-Cristã na Baviera (CSU), o partido coligado com a União Democrata-Cristã (CDU) de Merkel e os sociais-democratas do SPD.
Seehofer anunciou a hipotética demissão no decurso de uma reunião à porta fechada da CSU, em Munique. Segundo fontes não identificadas do partido, o ministro disse "não ter o apoio necessário" para se manter em funções. As mesmas fontes indicaram que os membros da União Social-Cristã tentaram dissuadir o ministro da demissão.
Aos jornalistas, durante a madrugada, Horst Seehofer anunciou que terá esta segunda-feira novas conversações com a CDU.
"Teremos uma nova reunião com a CDU em Berlim, na esperança de chegar a um entendimento que possa dar capacidade à coligação e ao governo federal de agir. O resto, veremos…"
Agir sozinho ou à escala europeia?
O conflito interno dos conservadores alemães está relacionado com o tratamento dos migrantes que chegam à Alemanha para pedir asilo, mas que já se encontram registados noutros países europeus.
O ministro Horst Seehofer defende o seu reenvio para a fronteira, mas essa opção é rejeitada por Angela Merkel, que teme uma espécie de "efeito dominó" na Europa. A chanceler pretende medidas à escala comunitária.
A ameaça de demissão de Seehofer surge depois da CSU e CDU terem estado reunidas para avaliar o acordo para as migrações alcançado na cimeira do Conselho Europeu de 28 e 29 de junho. No domingo, em entrevista à televisão alemã ZDF, a chanceler Angela Merkel afirmou que as medidas acordadas na cimeira europeia respondem ao pedido do ministro do Interior.
"A soma total de tudo o que concordámos tem o mesmo efeito, essa é a minha opinião pessoal. É claro que a CSU deve decidir se isso é igual para eles", afirmou Merkel. "É, em primeiro lugar e acima de tudo, um acordo sustentável e no espírito da ideia europeia. A Europa funciona a um ritmo lento e ainda não estamos onde queremos. Ainda temos muito trabalho a fazer".
Ainda assim, Seehofer e Merkel continuam a manter entendimentos diferentes sobre a política migratória alemã. A chanceler fez, no entanto, um apelo: "Eu gostaria que a CDU e a CSU continuassem a trabalhar juntas, porque somos uma história de sucesso para a Alemanha."
Chefes de Governo da Alemanha: de Adenauer a Merkel
Desde 1949, a Alemanha teve oito chanceleres: sete homens e uma mulher. A chanceler atual, Angela Merkel, conseguiu um quarto mandato nas eleições legislativas de setembro de 2017.
Foto: picture-alliance-dpa/O. Dietze
Konrad Adenauer (CDU), 1949-1963
A eleição de Konrad Adenauer do partido democrata-cristão CDU como primeiro chefe de Governo da Alemanha, em 15 de setembro de 1949, marcou o início de um longo processo de reestruturação política no país. Reeleito em 1953, 1957 e 1961, renunciou ao cargo apenas aos 87 anos de idade, em 1963. Fortaleceu a aliança com os Estados Unidos da América. Na foto: no seu escritório em Bona.
Foto: picture-alliance/akg-images
Ludwig Erhard (CDU), 1963-1966
O segundo chanceler da Alemanha também pertenceu à CDU, mas esteve apenas três anos no Governo. Erhard renunciou devido ao rompimento da coligação com o partido liberal FDP. Mesmo assim, participou de forma ativa da reforma monetária alemã do pós-guerra. O fumador convicto ficou famoso como "pai" da economia social de mercado ("Soziale Marktwirtschaft") e do milagre económico alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Kurt Georg Kiesinger (CDU), 1966-1969
Foi eleito por uma grande coligação dos dois partidos CDU e SPD (de esquerda). O seu Governo teve que combater uma crise económica. Kiesinger foi duramente criticado pelo seu passado como membro ativo do partido nacional-socialista NSDAP durante a ditadura fascista na Alemanha. Com a ausência de uma oposição forte no Parlamento, formou-se em 1968 um movimento de protesto estudantil na Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa
Willy Brandt (SPD), 1969-1974
A onda de protestos teve reflexos nas eleições: Willy Brandt tornou-se no primeiro chanceler social-democrata no pós-guerra. Melhorou as relações com os países comunistas do leste. Durante uma visita à Polónia, ajoelhou-se no monumento pelas vítimas do nazismo no Gueto de Varsóvia. Gesto que ficou famoso como pedido de desculpas. Renunciou ao cargo em consequência de um caso de espionagem.
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Helmut Schmidt (SPD), 1974-1982
Após a renúncia de Brandt, Helmut Schmidt prestou juramento como chanceler. O social-democrata teve de combater o terrorismo do grupo extremista de esquerda RAF. Negou negociar com os terroristas alemães. Enfrentou a oposição por causa do estacionamento de mísseis nucleares dos EUA na Alemanha. Depois da saída do Governo do parceiro FDP (liberais), perdeu um voto de confiança no Parlamento.
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Helmut Kohl (CDU), 1982-1998
Helmut Kohl formou uma nova coligação centro-direita com os liberais. Ficou 16 anos no poder, um recorde. Ficou famoso pela sua teimosia e por não gostar de reformas. Depois da queda do Muro de Berlim, Kohl consegui reunificar as duas Alemanhas, a RFA ocidental e a RDA oriental. Ficou conhecido como "chanceler da reunificação". T ambém é lembrado pelo seu empenho na construção da União Europeia.
Foto: imago/imagebroker
Gerhard Schröder (SPD), 1998-2005
Depois de quatro mandatos de Kohl, o desejo de mudança aumentou. Gerhard Schröder foi eleito primeiro chanceler de uma coligação de esquerda entre o SPD e os Verdes. Durante o seu Governo, o exército alemão, Bundeswehr, teve as primeiras missões no estrangeiro com a participação na guerra no Afeganistão. Reduziu os subsídios sociais, medida que foi criticada dentro do seu partido social-democrata.
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Angela Merkel (CDU), desde 2005
Em 2005, Merkel é eleita como primeira mulher na chefia do Governo alemão. Durante o primeiro e terceiro mandato, governou numa grande coligação com o SPD, no segundo mandato numa coligação de centro-direita com os liberais do FDP. Merkel é conhecida pelo estilo pragmático de liderança. Durante a crise financeira, assumiu um papel de liderança na UE. Em 2017, conseguiu o seu quarto mandato.