Crise no Governo alemão. Será que Merkel vai resistir?
28 de junho de 2018A chanceler alemã Angela Merkel tem tido dias difíceis. Para a cimeira de dois dias do Conselho Europeu, que começa esta quinta-feira (28.06) em Bruxelas, Merkel leva na bagagem um grande problema por resolver: a maior crise de sempre no seu Governo.
A liderança de Merkel está a ser questionada por um parceiro de longa data. Os conservadores bávaros da União Social-Cristã (CSU), liderados pelo ministro do Interior, Horst Seehofer, recusam a entrada de migrantes que já tenham pedido asilo em outros países europeus. O ministro ameaça dar ordens para os enviar de volta, à revelia da chanceler. Mas Angela Merkel rejeita tiradas unilaterais e diz que é a União Europeia que, em conjunto, deve resolver o problema.
Até agora, nem Seehofer, nem Merkel deram o braço a torcer.
Eleições à porta
Os três partidos da coligação - a União Democrata-Cristã (CDU) de Merkel, a CSU de Seehofer e o Partido Social-Democrata (SPD) - reuniram-se no início desta semana para debater as divergências, mas não alcançaram consensos.
"Este conflito não gira em torno de um tema insignificante, mas sim de um ponto central e importante. É por isso necessário que os pontos de divergência sejam discutidos com calma e empenho", afirmou Volker Kauder, o chefe do grupo parlamentar conjunto da CDU e CSU.
Em outubro, o estado federado da Baviera realiza eleições e as intenções de voto na CSU diminuem de mês para mês. Ao mesmo tempo, o partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD) sobe nas sondagens.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os dois partidos irmãos democrata-cristãos "dividiram" a Alemanha entre si: a CDU candidata-se em todos os estados federados, menos na Baviera, enquanto a CSU só está presente neste estado. No Parlamento federal, os dois partidos costumam juntar-se para formar um único grupo parlamentar. Apenas em 1976 houve uma decisão da CSU de expandir a sua presença para o resto da Alemanha. Poucos meses depois, esta ideia foi descartada.
E agora?
O futuro da coligação governamental alemã e da união entre a CDU e a CSU está em aberto. Em Bruxelas, Angela Merkel deverá procurar uma solução europeia conjunta que a ajude a resolver a crise no seu Governo.
A CSU na Baviera anunciou que, no domingo, avaliará se os esforços da chanceler foram frutíferos. Se não for esse o caso, Seehofer poderá sair do Governo e arrastar consigo o partido. Se isso acontecer, há muitos observadores que acham possível o fim da coexistência da CDU e CSU e uma possível expansão dos dois partidos aos territórios de cada um.
Merkel teria de formar um novo Governo - talvez com os Verdes ou com os Liberais (FDP). Também há a possibilidade de novas eleições ou de formação de um governo minoritário.
Os Verdes ganham com a crise
Este tem sido um dos partidos que mais tirou proveito da crise e está a subir nas sondagens (tal como a AfD).
Merkel equacionou os Verdes como um possível parceiro de coligação depois das eleições de setembro de 2017. O partido recusa o extremismo da AfD e apoia a política de migração da chanceler - após o escrutínio, só não entrou para o Executivo por oposição do outro possível parceiro de coligação, os liberais do FDP.
Depois da saída dos liberais das negociações, o CDU e o CSU fecharam no início de 2018 uma "grande coligação" com os social-democratas (SPD).
E o atual parceiro de coligação?
Para já, o SPD, que também está no Governo de Merkel, tem estado do lado da chanceler. A líder dos sociais-democratas, Andrea Nahles, pede igualmente uma solução europeia e rejeita atos unilaterais, como advoga o ministro do Interior Seehofer (CSU).
"Se a Alemanha passasse a rejeitar a entrada de refugiados no território alemão, isso seria uma violação das leis europeias", afirmou Nahles.
"O SPD não pode ser o mediador entre a CDU e a CSU, que têm de resolver as suas diferenças, mas o compromisso a que chegarem tem de ser discutido connosco", acrescentou.
Seehofer invoca o chamado Protocolo de Dublin. Segundo este acordo, os pedidos de asilo devem ser analisados no Estado europeu de entrada do refugiado. Mas isso penalizaria sobretudo a Itália e a Grécia, os principais países de chegada de migrantes que atravessam o Mediterrâneo rumo à União Europeia.