Crise no Mali: Presidente Ibrahim Boubacar Keita renuncia
19 de agosto de 2020Num discurso na televisão estatal, Ibrahim Boubacar Keita disse que a sua renúncia tinha efeito imediato, assim como a dissolução da Assembleia Nacional.
"Gostaria, neste preciso momento, ao agradecer ao povo do Mali pelo seu apoio ao longo destes longos anos e pelo seu carinho, comunicar-lhe a minha decisão de renunciar às minhas funções", disse Keita.
Com ar cansado e usando uma máscara cirúrgica, Keita renunciou horas depois de ter sido detido por militares, que também detiveram o primeiro-ministro Boubou Cissé e outros altos funcionários.
"Se hoje certos elementos das nossas Forças Armadas querem que isso acabe através da sua intervenção, eu realmente tenho escolha? Não tenho outra escolha senão submeter-me, porque não quero que seja derramado sangue para me manter [no cargo]", disse Keita, discursando numa base militar em Kati, fora da capital Bamako.
Futuro do Mali
Não ficou claro quem estaria a liderar a revolta, quem assumirá a Presidência na ausência de Keita ou o que os miliatres amotinados pretendem, segundo a agência de notícias Reuters.
Imagens postadas anteriormente nas redes sociais, supostamente tiradas na base militar de Kati, mostravam Keita e Cissé cercados por soldados armados.
A renúncia acontece também após meses de tensões políticas e protestos violentos. Desde junho que dezenas de milhares de manifestantes saíam às ruas de Bamako a exigir a renúncia de Keita devido a questões como o agravamento da segurança e da corrupção.
Comunidade internacional reage à ação dos militares
A França e outras potências internacionais, bem como a União Africana, denunciaram o motim desta terça-feira (18.08), receando que a queda de Keita pudesse desestabilizar ainda mais o país e toda a região do Sahel, na África Ocidental.
O Conselho de Segurança da ONU reúne-se esta quarta-feira (19.08) para discutir em caráter de urgência a crise no Mali. O secretário-geral da ONU, António Guterres, está a acompanhar com "profunda preocupação" a situação no Mali, condenando o motim militar que levou à detenção de Ibrahim Boubacar Keita.
Numa declaração publicada na página da ONU, Guterres "condena veementemente" estas ações, e apela para a "restauração imediata da ordem constitucional" e do "Estado de direito no Mali".
Sanções regionais
Por seu turno, num comunicado divulgado na noite de terça-feira (18.08), a CEDEAO decidiu fechar as fronteiras terrestres e aéreas com o Mali e apelou à implementação de sanções contra "todos os golpistas, parceiros e colaboradores".
No documento, a organização classificou a ação militar como "golpe" e relembrou que os militares são responsáveis pela "segurança e proteção" do Presidente e dos restantes membros do Governo do Mali, exigindo a sua libertação.
A CEDEAO também suspendeu "com efeito imediato" o Mali dos seus órgãos de decisão "até ao restabelecimento efetivo da ordem constitucional" e decidiu enviar uma delegação "de alto nível" ao país.