Crise nos Camarões também afeta saúde pública
29 de novembro de 2018A crise no nordeste dos Camarões continua sem fim à vista. Pelo menos 29 pessoas morreram esta quarta-feira (28.11) quando uma bombista suicida se fez explodir em Amchide, junto à fronteira com a Nigéria - um alvo frequente do Boko Haram. Além dos ataques dos extremistas islâmicos, a região é um dos palcos do conflito separatista no país.
Aos sequestros e assassinatos esporádicos no nordeste juntam-se os problemas de saneamento e saúde pública. O mercado de Nkwen, tal como muitos outros pontos de venda de comida na cidade de Bamenda, está rodeado de lixo.
Apesar do cheiro nauseabundo, o comércio não pára. Há uma grande procura por tomates e outros produtos perecíveis. E a comida que se estraga é lançada para os montes cada vez maiores de lixo, atraindo moscas.
Há semanas que a empresa nacional de saneamento, a HYSACAM, responsável pela limpeza da cidade, não consegue fazer a recolha do lixo. Segundo um dos funcionários, Terence Fotso, a culpa é dos separatistas armados, que querem um estado anglófono independente.
"Com a crise, os separatistas cortaram uma ponte que leva ao nosso aterro principal e isto teve um impacto directo no nosso trabalho. Tivemos de suspender a recolha de lixo em Bamenda", conta o funcionário. "Agora, já temos os veículos e um aterro temporário e recomeçámos o trabalho", diz Terence Fotso.
Receio de epidemias
Os mercados de Nkwen, Ntarinkon, S-Ben e Mile Three são apenas alguns dos locais onde o lixo se acumula. E alguns dos novos aterros estão em zonas residenciais e de comércio. Segundo as autoridades de saúde em Bamenda, os problemas de saneamento podem levar ao surgimento de epidemias como a malária.
Os perigos são imensos. Os aterros são terrenos férteis para mosquitos e moscas tsé-tsé, que podem levar a malária e cólera. As moscas aterram em frutas e legumes e as pessoas comem-nos sem os lavar, o que pode levar a epidemias. Além disso, a poluição no centro da cidade pode também dar origem a uma série de infeções respiratórias.
Os residentes de Bamenda descrevem cenários desoladores na cidade e pedem uma ação urgente das autoridades. "É triste ver um mercado ocupado por lixo há semanas, sem que ninguém pense que isto pode contaminar a população, um mercado onde se vende fruta e vegetais que as pessoas muitas vezes consomem imediatamente, sem lavar. Não pensam que as moscas contaminam a comida e isto pode causar cólera. Chego a pensar que o lixo já faz parte de nós", lamenta um residente ouvido pela DW África.
"Bamenda costumava ser uma cidade muito limpa", lembra outro habitante, que afirma que mesmo com o regresso da empresa nacional de saneamento, há pilhas de lixo em todo o lado, especialmente na rua que vai dar ao mercado de Ntarinkon, onde o lixo parece uma montanha. "Até no meu bairro. Está em todo o lado e ameaça entrar nas casas das pessoas", alerta.