Partidos políticos e cidadãos congratulam-se com as decisões saídas da cimeira da CEDEAO que deverão permitir o fim da crise política no país. Mas há quem prefira esperar para ver.
Publicidade
A 55ª Cimeira dos chefes de Estados e de Governo da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, CEDEAO, que decorreu no sábado (29.06.) em Abuja, Nigéria, ordenou que o Presidente guineense, José Mário Vaz, nomeie o Governo proposto pelo partido vencedor das legislativas de 10 de março passado e designe um novo Procurador-geral da República até quarta-feira (03.07.).
A organização regional determinou também que José Mário Vaz continua como Presidente do país até à realização das eleições presidenciais, marcadas para 24 de novembro, mas sem poderes para se ingerir nos assuntos de governação.
Reagindo às resoluções, o Movimento para Alternância Democrática, MADEM G-15, classificou nesta segunda-feira (01.07.) de pragmática a posição da CEDEAO. Classifica-as como compromisso com a democracia e com o Estado de direito.
E a segunda maior força política na Guiné-Bissau elogia ainda a decisão que mantém no poder o Presidente cessante José Mário Vaz até a realização das presidenciais.
Quem também deu nota positiva as decisões saídas da cimeira é o partido da Renovação Social, PRS, a terceira maior força politica no país. Victor Pereira é o porta-voz do PRS: "Achamos que vai por termo aquela farsa política engendrada pela maioria parlamentar e os seus aliados na Assembleia Nacional Popular, portanto esse problema morreu, não há um novo Presidente, há um único que vai manter-se no palácio Presidencial até a eleição de um novo chefe de Estado."
O que pensam os guineenses
As resoluções da CEDEAO agradam também aos cidadãos guineenses que falam mesmo em ganho democrático e politico para o país.Um deles diz que "é uma decisão que todos os guineenses estavam a espera. Não tem de haver interferências, porque um dos pontos acordados na Cimeira da CEDEAO é a não interferência do Presidente da República cessante na governação de Aristides Gomes."
Crise política na Guiné-Bissau: Resoluções da CEDEAO serão respeitadas?
Outro guineense lembra: "Realmente a situação que estamos a atravessar neste momento é complicada. A expetativa era enorme, porque o Presidente da República terminou o mandato e outros queriam que cessasse [as funções] imediatamente, mas também não é assim."
Mas há quem prefere não cantar vitória para já: "Não sei se a decisão da Cimeira de Abuja é vantajosa para nós ou não. O tempo dirá."
Para outro cidadão, a esperança é de que tudo fique claro a partir de agora: "Para mim esta decisão da CEDEAO é positiva, porque havia uma confusão entre os órgãos da soberania, sobretudo na Assembleia Nacional Popular, que aprovou uma resolução em que Cipriano Cassamá, seria o Presidente da República interino. E havia também um Presidente cessante que é José Mário Vaz. Mas eu acho, que depois da Cimeira tudo ficou esclarecido."
Sobre as fricções para a conclusão da constituição da mesa da Assembleia Nacional Popular, o Movimento para Alternância reitera total solidariedade para com o PRS na recuperação do posto de primeiro secretário.
Nesse sentido, a segunda força política reafirma a sua disponibilidade em apoiar as iniciativas constitucionais que visam tirar o país da crise política.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".