Crise política no Governo da Guiné-Bissau: perto do fim?
Braima Darame (Bissau)
10 de outubro de 2016
Atores políticos que assinaram acordo da CEDEAO deslocam-se a Guiné-Conacri, onde esta terça-feira (11.10.) seguirá fase negocial que poderá pôr fim à crise na Guiné-Bissau.
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Os principais atores políticos que buscam por um fim à crise política da Guiné-Bissau seguiram hoje (10.10.) para Conacri, capital da Guiné-Conacri, onde a partir desta terça-feira (11.10.) começará uma nova fase negocial para a formação de um Governo de consenso e inclusão em Bissau.
A comitiva é formada pelo Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o Partido da Renovação Social (PRS), o grupo dos quinze deputados dissidentes do PAIGC, o presidente da Assembleia Nacional Popular, líderes religiosos e organizações da sociedade civil. O Presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé, será o mediador da mesa que poderá decidir o futuro político guineense.
Essa fase negocial faz parte do acordo proposto pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), assinado pelas partes há cerca de um mês. A partir deste acordo, os seus signatários estão comprometidos em "formar um governo de consenso e inclusivo para dirigir o país até as próximas eleições, em 2018”.
Apesar de terem rubricado o documento, as partes continuam a não se entenderem quanto à implementação do acordo. Recorde-se que este acordo foi assinado em Bissau a 10 de setembro na presença dos Chefes de Estado da Serra-Leoa, Ernest Bai Koroma, da Guiné-Conacri, Alpha Condé e da Guiné-Bissau, José Mário Vaz.
Discussões
O secretário-geral do PRS, Florentino Mendes Pereira, classificou como vergonhoso os atores políticos serem forçados a se deslocarem a um outro país para fazer aquilo que poderia ser realizado na Guiné-Bissau.
"Temos um denominador comum: todas as partes aceitam um Governo de inclusão. Provavelmente o que vai nos dividir é a decisão de quem vai chefiar o Governo. Entretanto, são questões que podíamos discutir perfeitamente no nosso país e convidar os mediadores para assistirem o processo aqui na Guiné. Não era preciso gastar dinheiro para levar toda a malta a Guiné-Conacri, como se não fóssemos nos entender entre nós”, disse.
Entretanto, o presidente do Parlamento guineense, Cipriano Cassamá, afirma que os atores políticos da Guiné-Bissau se deslocam a Guiné-Conacri para formalizarem a demissão do atual Governo e a consequente formação de um novo Executivo inclusivo e de consenso, como ficou decidido a 10 de setembro.
"Vamos a Conacri para formalizar a demissão do atual Governo de Baciro Djá e definir a formação de um novo Governo inclusivo e de consenso. Não vamos sair de Conacri sem uma solução concreta para a crise e minimizar o sofrimento do povo. Mas também o grupo dos quinze deputados dissidentes do PAIGC devem regressar ao partido”, afirmou.
Futuro político
O PAIGC, partido vencedor das eleições legislativas com maioria absoluta, não cessa de lembrar que tem o direito de liderar o próximo executivo, como disse à imprensa o secretário nacional do partido, Aly Higiazy.
"Levamos a proposta de haver um entendimento entre as partes sempre respeitando as leis do PAIGC e reconhecer ao PAIGC o direito de governar enquanto formação política vencedora das eleições legislativas”.
O grupo dos quinze deputados dissidentes do PAIGC recusou fazer quaisquer declarações à imprensa.
Em Bissau, fontes contatadas pela DW Àfrica avançam que a Organização das Nações Unidas (ONU) assumiu as rédeas da mediação internacional sobre a crise política guineense e vai propor às partes os nomes de uma figura independente a residir no estrangeiro e de um alto funcionário das Nações Unidas para liderarem o futuro Governo.
Carências do principal hospital de Bissau
O Hospital Nacional Simão Mendes é considerado a unidade hospitalar de referência na Guiné-Bissau. Mas falta quase tudo: pessoal especializado, medicamentos básicos, aparelhos de diagnóstico.
Foto: Gilberto Fontes
Crise política deixa hospital a meio gás
Com a instabilidade política agravaram-se as necessidades no principal hospital da Guiné-Bissau e caíram por terra as expectativas da equipa hospitalar que esperava mais atenção por parte das autoridades. A Cruz Vermelha e os Médicos Sem Fronteiras prestam apoio. Mas, mesmo assim, perdem-se muitas vidas por falta de condições básicas de assistência.
Foto: Gilberto Fontes
À espera da hemodiálise...
O país ainda não consegue tratar doentes com insuficiência renal. O hospital tem estas instalações novas para iniciar tratamentos. Só falta a máquina da hemodiálise. Curioso é que o equipamento está no hospital, fechado há anos numa sala, cuja chave está com o Ministério da Saúde, segundo fonte hospitalar. Um nefrologista e vários técnicos fizeram formação em diálise, que ainda não podem aplicar.
Foto: Gilberto Fontes
Enquanto isso a população sofre
Doentes, como esta senhora, só podem receber tratamentos de hemodiálise no Senegal. No entanto, cada sessão chega a custar 150 euros. O que é insustentável para muitos doentes que, normalmente, necessitam de várias sessões semanais. Quando a doença é detetada numa fase inicial, aciona-se a evacuação para Portugal. Mas o processo é moroso. Muitos doentes acabam por falecer por falta de tratamento.
Foto: Gilberto Fontes
Há equipamentos novos parados...
O técnico de radiologia Hécio Norberto Araújo lamenta que este aparelho novo de radiografias esteja praticamente parado. Só faz alguns exames, em casos de urgência. Também o equipamento de mamografia nunca funcionou devido à falta de acessórios, como o chassi e o aparelho de revelação. O hospital militar continua a ser o único no país a fazer mamografias e tomografias, que podem custar 100 euros.
Foto: Gilberto Fontes
E máquinas obsoletas em uso
Na falta de opções, este velho aparelho de raio x continua a ser muito requisitado. Ninguém sabe quantos anos tem o equipamento que funciona com arranjos improvisados de fita-cola. A pequena sala de diagnóstico está desprovida de qualquer proteção contra as radiações. O único avental de proteção está estragado. Os técnicos de radiologia estão diariamente expostos a radiações eletromagnéticas.
Foto: Gilberto Fontes
Sem mãos a medir na pediatria
Esta unidade costuma estar cheia, principalmente na época das chuvas, com o aumento de casos de malária ou paludismo e diarreia nas crianças. Neste serviço com 158 camas, há apenas nove médicos efetivos e quase 40 enfermeiros. Entre o pessoal médico, conta-se um único especializado em pediatria. A falta de um eletrocardiograma é responsável pelo diagnóstico tardio de cardiopatias entre os menores.
Foto: Gilberto Fontes
Nem medicamentos para emergências
Nos cuidados intensivos há apenas um cardiologista. A maioria do pessoal médico são clínicos gerais. Por vezes, em plena situação de paragem cardíaca, falta medicação de urgência que os familiares do doente têm de se apressar em providenciar. A equipa hospitalar quer mais investimento em formação e em condições de trabalho. Só assim pode salvar mais vidas e diminuir a evacuação para o exterior.
Foto: Gilberto Fontes
Faltam lençóis e comida
O Hospital Nacional Simão Mendes tem mais de 500 camas. Mas não tem lençóis que cheguem para fazer a cobertura de todas elas. Devido à falta de pijamas, muitos doentes ficam hospitalizados com a roupa que trazem no corpo. Além disso, não há como providenciar alimentação aos pacientes que, na maior parte das vezes, ficam dependentes da comida que os familiares conseguem fazer chegar.