Crise política no Mali chama atenção de jornais alemães
19 de outubro de 2012 Nesta sexta-feira (19.10), a capital do Mali, Bamako, foi palco de uma reunião internacional de alto nível para definir uma estratégia de reconquista militar do norte do país, uma semana depois da adoção, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, de uma resolução que prepara o envio de uma força militar estrangeira de cerca de 3 mil homens ao país ocidental africano. A resolução também dá 45 dias aos países da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental para definir os planos da missão, já que a CEDEAO formará o núcleo principal da força.
Porém, não se fala apenas de missão militar internacional no Mali nas páginas da imprensa alemã. O diário Süddeutsche Zeitung diz no seu caderno de turismo, publicado na quinta-feira (18.10), que "na verdade não se deveria viajar ao Mali atualmente. Mas quem o faz até vive momentos que prenunciam tempos melhores" no país ocidental africano que foi palco de golpe de Estado militar em março deste ano e cujo norte é dominado por milícias fundamentalistas islâmicas ligadas à rede terrorista internacional Al Qaeda e combatidas pelo governo.
O relato do jornal se concentra em passeios de piroga ao longo do rio Níger, "o maior da África Ocidental": "Aqui, à margem do Níger, o tempo parece quase parar" enquanto não se pede um passeio de piroga. "Antes do golpe militar de março, Bamako vivia a rotina de receber hordas de turistas ocidentais que encontravam aqui um paraíso verde, a África de seus sonhos".
Como exemplos, Jonathan Fischer, o autor do texto, descreve não só passeios de piroga, mas também a vida noturna da capital maliana, Bamako, que "fez história na cena de clubes na África". O espírito das imagens do fotógrafo de Malick Sidibé, dos anos 1960, "que mostram entre outros uma era de ascensão na África, ainda pode ser encontrado nos dias atuais. Também a cena musical africana mantém as tradições e fazem as pessoas dançarem tanto quanto ao som de beats computadorizados", diz o relato.
União Europeia prepara intervenção no Mali
Vários jornais alemães, porém, não deixaram de repercutir que a União Europeia quer intervir no Mali. Na segunda-feira (15.10), os ministros das Relações Exteriores do chamado bloco dos 27 divulgaram planos para uma "eventual missão militar" no Mali, no âmbito da política de segurança e de defesa europeias, lembra o Süddeutsche Zeitung. Porém, como escreveu também o Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), uma ação de combate de soldados europeus estaria descartada – a UE quer uma solução diplomática e seria consultora e formadora do exército maliano, considerado "mal conduzido".
O Frankfurter Allgemeine Zeitung também publicou artigo em 13.10 falando das críticas sofridas pela política africana de François Hollande, o presidente socialista francês empossado em maio deste ano. Hollande participou, no passado fim de semana, da Cimeira da Francofonia em Kinshasa, na República Democrática do Congo.
A presença de Hollande na RDC foi avaliada como falso sinal por grupos de defesa dos direitos humanos e opositores congoleses. Em entrevista a meios de comunicação franceses, Hollande se defendeu, dizendo que sua prioridade no encontro eram os africanos que falam francês e que, por isso, mereciam a "gratidão da França". Hollande também disse que queria progressos democráticos na RDC, além de querer promover sua iniciativa de intervenção europeia no Mali, lembra o FAZ.
Se, por um lado, a oposição enxergou as palavras de Hollande como positivas, o porta-voz do governo congolês, Lambert Mende, rebateu as críticas do presidente francês e disse que este precisaria "completar as informações que tem".
O jornal Die Tageszeitung destacou que, ao dizer que a situação dos direitos humanos na RDC era "inaceitável" durante a sua visita, François Hollande foi o primeiro chefe de Estado convidado ao país africano a criticar tanto a RDC.
Segundo lembra o FAZ, Hollande defendeu um "recomeço" da política africana francesa, criticando a chamada "Françafrique", nome dado aos interesses entre França e as ex-colônias do país. Sua nova política, disse o presidente francês, consiste em mostrar "respeito" sem julgar, mas também "falar abertamente sobre todos os assuntos". Sobre a intervenção no Mali, Hollande disse não quer intervir com tropas de terreno francesas, deixando a intervenção a cargo de tropas africanas.
Filme queniano concorre a nomeação para prêmio Oscar
O filme Nairobi Half Life conta a história do menino Mwas, que sonha em se tornar ator e para isso precisa mudar para a capital queniana, Nairobi. Mwas tem talento, consegue safar-se da prisão com ele e conquista a simpatia do líder de uma gangue de rua.
Mwas consegue também o respeito de outros pequenos criminosos, mas os delitos ficam cada vez cada vez mais perigosos, com armas e carros em cena. Paralelamente, Mwas consegue atuar num grupo de teatro – a outra metade de sua vida ("Half Life"). Até que as duas metades acabam por se unir num momento só, a da estreia de Mwas no teatro.
Nairobi Half Life, escreve o Berliner Zeitung, é o primeiro filme do realizador Tosh Gitonga, escolhido para realizar seu filme após um workshop de duas semanas do qual participaram 57 pessoas de cinco países africanos. O evento foi organizado pela DW Akademie, pelo instituto Goethe de Nairobi, a produtora queniana Ginker Ink e pela produtora One Fine Day Films, de Tom Tykwer (que realizou, entre outros, Corra, Lola, Corra e The International). Tykwer supervisionou o projeto de Nairobi Half Life, cuja história foi escrita por três roteiristas locais em suaíli, kikuyu e gíria local das ruas da capital queniana.
Segundo o Berliner Zeitung, "a linguagem do filme é forte, sem maquiagem, tanto que é possível sentir o cheiro fétido durante a cena da limpeza das latrinas da prisão. A câmera possui um olhar livre de qualquer clichê ocidental sobre a África, e olha para a violência, a pobreza e a alegria de viver sem sentimentalismo. A música também desempenha papel fundamental no filme".
Por outro lado, a resenha do Berliner Zeitung diz que, depois do vencedor do Oscar sul-africano, Tsotsi, "este parece ter se tornado o único modelo de sucesso para todos os novos filmes africanos. Mas também queremos outro tipo de roteiro, mais silêncio, histórias mais complicadas e talvez até impulsos para dramaturgias menos convencionais vindas do continente africano".
Já o Der Tagesspiegel questiona: "desde quando filmes africanos enchem as salas de cinema na Alemanha?". O jornal avalia a cena de um beijo homossexual, descrevendo-a como "cômica para os ocidentais. Mas, no Quênia, é uma cena corajosa, num país onde o relações sexuais homossexuais chegam a ser punidas com 14 anos de prisão".
Para o Tagesspiegel, Nairobi Half Life é um "exemplo para a ajuda eficaz ao desenvolvimento", já que a One Fine Day Films de Tom Tykwer é um braço da associação beneficente da esposa do diretor alemão, Marie Steinmann.
"O filme poderia se passar no Rio de Janeiro, Los Angeles ou Hamburgo", descreve o Die Tageszeitung. Mas prova a força que tem a indústria cinematográfica queniana, agora emergente. "O conteúdo realista e as difíceis condições de produção do filme ficaram evidentes nas filmagens para uma sequência", escreve ainda o jornal alemão. "Durante um assalto a um microônibus que transportava pessoal técnico da produção, uma mulher foi estuprada".
Jornal alemão retoma emigração de portugueses para a África
O Berliner Zeitung de quinta-feira (18.10) traz um retrato do português Rui Ferreira, de 43 anos, um homem de negócios que planeja se estabelecer na capital angolana Luanda. Ferreira quer transferir parte de sua empresa de decoração de Portugal para Angola devido à crise econômica que assola o país europeu.
Como já foi relatado em jornais alemães em mais de uma ocasião, Ferreira sofre com a crise: já teve de fechar 12 das 26 filiais que possui e perdeu metade dos funcionários. Ultimamente, porém, Ferreira vinha conquistando cada vez mais clientes africanos, "especialmente do país rico em petróleo Angola". Os clientes, diz o jornal, estavam interessados móveis que podem custar cerca de 25 mil euros, por exemplo. Por isso, Rui Ferreira diz querer abrir a primeira filial africana de sua empresa familiar.
De acordo com o Berliner Zeitung, Rui Ferreira é um dos 500 portugueses que procuram "asilo econômico na ex-colônia todos os meses. Este ano, o número de portugueses que chegam a Angola pela primeira vez [para se estabelecer] chegará a mais de 7 mil. Quase 130 mil portugueses já teriam se registrado no consulado português em Luanda. E o número de trabalhadores temporários em Angola é estimado em 200 mil", diz o jornal.
Futebol de Cabo Verde é destaque na imprensa alemã
Vários jornais aqui na Alemanha publicaram textos falando sobre a expectativa da qualificação inédita da seleção cabo-verdiana de futebol para o Campeonato Africano das Nações de 2013, também conhecido como CAN.
Os tubarões azuis, como são conhecidos os jogadores da equipe nacional do arquipélago, conseguiram o feito no último domingo (14.10). Perderam para a seleção dos Camarões por 2 a 1, mas já tinham vencido o mesmo time por 2 a 0 no primeiro jogo. A classificação, inédita, permite a Cabo Verde disputar a fase final do CAN, na África do Sul, num grupo inicial onde também jogarão Togo, República Democrática do Congo (RDC) e Etiópia.
Angola também se classificou para o CAN pela sétima vez e jogará no grupo 2, ao lado de Mali, Nigéria e Tunísia.
Às vésperas da partida de Cabo Verde contra Camarões, a versão online do jornal Stuttgarter Zeitung publicou texto com um título dizendo que o arquipélago ocidental africano, vizinho do Senegal, estava diante do "sucesso do século".
"Nada mal para um país que, com 500 mil habitantes, na África só ultrapassa o tamanho do arquipélago de São Tomé e Príncipe e das ilhas Seychelles e cuja história é quase que exclusivamente marcada por catástrofes de fome e pela emigração em massa", diz o texto do Stuttgarter Zeitung, dizendo ainda que a qualificação já tinha se tornado "missão nacional", com promessas – cumpridas durante a semana – de prêmios especiais em dinheiro para os jogadores.
O diário lembra que, em 2000, a seleção nacional era considerada uma das piores do mundo, mas que na última divulgação do ranking de seleções de futebol da FIFA [Federação Internacional de Futebol Associado], subiram 14 níveis, para o inédito lugar 51: "Os futebolistas da ex-colônia portuguesa ultrapassaram não apenas os Camarões, mas também equipes conhecidas como a Nigéria, a Polônia, a Escócia, Bulgária ou Áustria.
O Stuttgarter Zeitung também lembra que todos os jogadores da seleção cabo-verdiana jogam fora do arquipélago. "A estrela do grupo é Lito, que já tem 37 anos e que joga no time de 2ª divisão, o Atlético, que corre risco de rebaixamento em Portugal. O valor do passe de Lito é de 300 mil euros", diz o texto.
A derrota para os Camarões no segundo jogo (14.10) não abalou o otimismo da equipe cabo-verdiana, cujo treinador, Lúcio Antunes, reiterou antes da partida que não mudaria a filosofia de jogo "por causa [da estrela internacional camaronesa Samuel Eto'o]".
Autora: Renate Krieger
Edição: António Rocha