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Crise prolongada na Guiné-Bissau preocupa CPLP

21 de março de 2017

Em entrevista à DW-África, secretária-executiva da CPLP, fala em agravamento da crise em Bissau, defende respeito ao Acordo de Conacri e exorta autoridades guineenses a buscar “saída urgente e duradoura para a crise”.

Maria do Carmo Silveira
Maria do Carmo Silveira, secretária-executiva da CPLPFoto: DW/J. Carlos

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) está preocupada com os novos episódios que fazem prolongar e agravar a crise política na Guiné-Bissau e insiste que a solução deve passar pelo Acordo de Conacri.

Em entrevista exclusiva à DW-África, a nova secretária-executiva da organização, Maria do Carmo Silveira, reconhece a pouca visibilidade da CPLP no terreno - em comparação com a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) -, mas sublinha que a instituição acompanha a situação, dando a sua contribuição no sentido de se encontrar uma solução duradoura para a crise que se vive naquele país-membro.

Em 11.03, guineenses marcharam pelas ruas de Bissau a exigir a demissão do Presidente José Mário VazFoto: DW/B. Darame

DW-África: É um facto que há falta de visibilidade da CPLP na crise política da Guiné-Bissau, se compararmos o papel desempenhado pela CEDEAO?

Maria do Carmo Silveira (MCS): O que nos preocupa, relativamente à situação da Guiné-Bissau, é o facto dessa crise se prolongar por muito tempo e cada vez com novos episódios que vêm complicar a situação. É verdade que, no terreno, estão outras organizações - nomeadamente a CEDEAO - que têm tido uma intervenção muito mais ativa neste processo de crise da Guiné-Bissau. Mas a CPLP também está a acompanhar. Tanto é que nós, sempre que possível, fazemo-nos representar nos encontros onde se debate as questões da Guiné-Bissau e damos a nossa contribuição no sentido de se encontrar uma solução duradoura.

DW-África: Mas concorda que a visibilidade da CPLP é pouco influente? Desta forma, como pretende a CPLP ganhar relevância internacional?

MCS: Eu acredito que sim. A CPLP, devido às dificuldades financeiras, já teve lá um representante residente na Guiné-Bissau. Mas, infelizmente, de algum tempo a esta parte não foi possível manter essa representação. Isto de facto pode parecer um distanciamento da CPLP relativamente à situação na Guiné-Bissau, mas não [é].

Estamos atentos, estamos a acompanhar mesmo à distância. Estamos em concertação permanente com o Grupo P5 [Nações Unidas, União Africana, CEDEAO, CPLP e União Europeia], que foi instituído para acompanhar a situação [no país]. Portanto, mesmo à distância, mesmo não tendo uma representação residente na Guiné-Bissau, a CPLP continua a acompanhar a situação.

José Mário Vaz, Presidente da Guiné-BissauFoto: Getty Images/AFP/S. Kambou

DW-África: A solução da crise passa necessariamente pela decisão e vontade dos guineenses. Tem alguma informação de que, a breve trecho, será possível encontrar uma solução viável para a crise na Guiné-Bissau?

MCS: Infelizmente, os últimos episódios indicam para um agravamento da situação e os membros do P5 estão em permanente concertação.

Será emitido um comunicado nos próximos dias do grupo sobre esta questão, manifestando a nossa preocupação e exortando as autoridades guineenses no sentido de encontrarem uma saída urgente e duradoura para a crise. E, enfim, nós acreditamos que a saída para a crise deve passar pelo acordo assinado em Conacri no ano passado.

DW-África: O Brasil assume a presidência da organização, mas perdeu relevância internacional. Com a saída de Dilma Rousseff, o país passou a se concentrar mais nos problemas internos. Voltando à questão da visibilidade, como compensar a retirada do Brasil da cena internacional?

MCS: A CPLP é uma organização, tem nove Estados-membros. O Brasil é um membro fundador de pleno direito e, por sinal, tem agora a presidência pro tempori [em português, temporariamente] da CPLP.

O que eu posso dizer é que, apesar de algumas dificuldades internas, que nós conhecemos por que tem passado o Brasil, nós a nível da CPLP – aliás a última cimeira teve lugar em Brasília – e isso é a prova de que o Brasil continua atento e presente na CPLP. E ao assumir a presidência pro tempori é mais um sinal evidente desse interesse, desse envolvimento do Brasil na CPLP.

Sede da CPLP, em LisboaFoto: DW/J. Beck

DW-África: Falando da relação da CPLP com as comunidades dos países-membros, há reconhecidamente alguma lacuna. O que é preciso fazer para que os cidadãos se sintam mais próximos da CPLP? Como tornar a CPLP uma comunidade relevante para o cidadão?

MCS: A verdade é o que acaba de dizer: que a CPLP continua a ser pouco conhecida dos cidadãos. Aqueles que sabem da sua existência, muitas vezes questionam que é que faz a CPLP em prol dos cidadãos. E este facto é um grande desafio. Tanto é que a última cimeira também deu orientações precisas nesse sentido, que é preciso aproximar a CPLP dos cidadãos. É preciso que os Estados-membros se conheçam melhor para que a CPLP deixe de ser uma superestrutura dos governos e dos Estados e passe a ser uma comunidade de povos.

Para isso, é preciso que se envolva as pessoas, é preciso que as pessoas sintam a CPLP no seu dia a dia. E eu daria particular atenção aos jovens, porque eles é que são o futuro da organização, o futuro dos países. E é preciso que, ao nível da CPLP, se encontre uma forma para que os jovens possam interagir entre si, se conhecer entre si, e possam se rever no projeto da CPLP e assumir-se como tal.

Queremos trabalhar ao nível do Fórum da Juventude da CPLP nessa perspetiva. Queremos também envolver os media, creio que têm uma papel muito importante na divulgação daquilo que faz a CPLP, para que as pessoas acompanhem o dia a dia da CPLP, mas também é preciso que cada Estado-membro da CPLP assuma esse desafio de fazer com que as pessoas conheçam a CPLP.

17.03.2017 Guiné-Bissau (novo) - MP3-Mono

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DW-África: A propósito da Nova Visão Estratégica, o que poderá acontecer no plano económico na relação entre os países da CPLP?

MCS: Acho que seria um pouco irresponsabilidade da minha parte querer antever, sobretudo num mundo em que as coisas acontecem de forma tão rápida como hoje. Fazer um prognóstico para os próximos 20 anos pode ser uma utopia.

A Nova Visão Estratégica foi aprovada para um período de dez anos e orienta numa aposta particular na cooperação económica e empresarial, porque reconhece-se a necessidade da CPLP não desvirtuar os objetivos para que foi criada. A CPLP deve continuar a ser essa organização baseada na língua comum, que promove a cultura lusófona.

É um espaço de concertação político-diplomática entre os Estados-membros. É um espaço de cooperação estratégica. Mas, também olhando para o mundo de hoje e as potencialidades que representam os países da Comunidade, deve-se também além disso apostar na cooperação económica e empresarial - até porque quando os países cooperam entre si economicamente, fica muito mais fácil a cooperação nos outros domínios.

Acredito que sim, este vai ser um rumo necessário em que a CPLP irá enveredar-se nos próximos anos.

 

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