Cruz Vermelha aumenta resposta humanitária em Cabo Delgado
Leonel Matias (Maputo)
15 de fevereiro de 2021
O Comité Internacional da Cruz Vermelha anunciou que vai aumentar a sua resposta humanitária a Moçambique em 2021, com os olhos postos em Cabo Delgado. Presidente do organismo foi hoje recebido por Filipe Nyusi.
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O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou, em comunicado, que para ajudar a responder à crise humanitária na província nortenha de Cabo Delgado, "vai ampliar os seus programas em 2021 com foco na assistência, saúde e programas de formação na promoção do direito internacional humanitário para portadores de armas."
O anúncio segue-se a uma visita que o presidente da Cruz Vermelha Internacional, Peter Maurer, efetuou este domingo (14.02) a Cabo Delgado, onde tomou contacto com a realidade da província, palco de ataques de alegados grupos jihadistas que provocaram já mais de 500 mil deslocados internos.
Esta segunda-feira (15.02), Peter Mauer foi recebido em audiência pelo Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, e pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Verónica Macamo, tendo destacado que "o povo moçambicano enfrenta hoje uma tripla crise humanitária com ameaças persistentes devido às alterações climáticas, à pandemia COVID-19 e ao conflito armado."
"Esta foi uma oportunidade para renovar a nossa determinação para sermos mais ativos e incrementarmos os nossos programas no país", disse Peter Maurer à saída do encontro com o chefe de Estado.
O presidente da Cruz Vermelha Internacional disse que durante a visita a Cabo Delgado teve a oportunidade de acompanhar de perto alguns projetos da organização e suas atividades.
"Fiquei impressionado com o impacto da violência sobre as populações deslocadas das suas zonas de origem, mas também impressionado com a capacidade de resposta da Cruz Vermelha a estes desafios", declarou.
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Formação das Forças Armadas em foco
O presidente da Cruz Vermelha Internacional disse que no seu mandato tem-se preocupado sobretudo com a formação e capacitação das Forças Armadas sobre como lidar com situações de violência e conflitos.
"Penso que temos já um bom programa de formação com as Forças Armadas moçambicanas e fiquei encorajado com a reação positiva e o apoio do Presidente a estas atividades", disse ainda Maurer.
Segundo a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, o Presidente Filipe Nyusi agradeceu à Cruz Vermelha Internacional pelo seu papel na promoção e capacitação das instituições moçambicanas em matéria de direito internacional humanitário e louvou o seu papel na coordenação de ações globais de socorro às populações vítimas de desastres naturais e de guerra.
"De facto, tem havido um treinamento, é importante, para as pessoas estarem sensíveis precisam de ter esses conhecimentos que têm sido dados pela Cruz Vermelha", disse a chefe da diplomacia moçambicana.
A Cruz Vermelha Internacionaltrabalha em Moçambique há mais de 40 anos, em colaboração com a Cruz Vermelha de Moçambique, nomeadamente durante a guerra civil e a violência armada no centro do país.
No interior do hospital de campanha de Macurungo na Beira
As estruturas do centro de saúde que é referência no atendimento de cerca de 35 mil pessoas na região foram severamente danificadas com a passagem do ciclone Idai. Hospital de campanha já atendeu dois mil pacientes.
Foto: DW/F. Forner
A rotina
O hospital de campanha nos arredores do centro de saúde Macurungo, na Beira, está a funcionar desde 24 de março. "Montamos um centro médico avançado com uma tenda para cirurgia e consultas, além de mais duas tendas para avaliação pós-parto das mães", descreve a médica infectologista Telma Susana Vieira Azevedo, que liderou por dois meses a equipa da Cruz Vermelha em Macurungo.
Foto: DW/F. Forner
Um passeio pelas tendas em Macurungo
Um enfermeiro da equipa da Cruz Vermelha caminha pelas tendas de lona do hospital de campanha gerido em parceria com a ONG Médicos do Mundo. Já foram realizadas mais de duas mil consultas, além de uma média de sete partos diários. Este hospital é referência no atendimento de 35 mil pessoas na região, onde as condições habitacionais ficaram muito debilitadas após a passagem do ciclone Idai.
Foto: DW/F. Forner
No interior do hospital destruído
A noite de 14 de março na Beira foi marcada pelos fortes ventos que arrancaram telhas, chapas e coberturas das casas e edifícios públicos. O hospital de Macurungo sofreu sérios danos estruturais. Mesmo assim, algumas áreas do edifício continuam a ser utilizadas. “Nosso objetivo é conseguir reconstruir o centro de saúde e só depois deixar a Beira”, diz a médica Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Balanço pós-Idai
Segundo dados do fundo de redução de desastres do Banco Mundial (GFDRR), Moçambique ocupa a terceira posição no ranking de países africanos mais expostos a múltiplos riscos associados às mudanças climáticas, como ciclones periódicos, secas, inundações e epidemias. Esta foto mostra o coração do hospital de campanha montado em um dos bairros que mais carecem de atenção à saúde.
Foto: DW/F. Forner
Os grandes desafios de Beira
Esta é uma foto aérea do hospital de campanha em Macurungo na Beira. Além da reestruturação de hospitais, as cidades afetadas pelo ciclone Idai também encaram os desafios de reconstrução de moradias, escolas e das infraestruturas urbanas. A ONU estima que o país necessite de pelo menos 200 milhões de dólares de ajuda internacional nestes três primeiros meses pós-ciclone.
Foto: DW/F. Forner
O estoque de medicamentos
Além de servirem como consultórios e locais de operação, algumas tendas do hospital de campanha foram construídas para armazenar equipamentos, medicamentos e demais suprimentos médicos. Nesta foto, o médico Luís Canelas opera um dos computadores que realiza exames de ultrassonografia. O hospital de campanha também realiza exames laboratoriais, como exames de sangue e testes de malária.
Foto: DW/F. Forner
Apoio à população
Em momento de descanso, o enfermeiro da Cruz Vermelha de Cabo Verde Mariano Delgado brinca com uma das pacientes no pátio externo. Estima-se que cerca de 400 mil crianças foram afetadas. "Precisamos fazer um trabalho mais ativo de equipas móveis para ir às populações deslocadas", diz Michel Le Pechoux, representante adjunto do UNICEF em Moçambique.
Foto: DW/F. Forner
Pulverização contra a malária
Homens uniformizados com luvas e protetores fazem a pulverização contra a malária em casas nas ruas de Búzi, a 150 km ao sul da Beira. Os casos de malária aumentaram e um mutirão tenta conter a proliferação do mosquito transmissor.
Foto: DW/F. Forner
Cadastro de pacientes
Esta é a tenda de triagem onde os pacientes são recebidos para a marcação de consultas. "Recebemos pacientes com doenças crónicas, hipertensão, doenças cardiovasculares e parasitárias, bem como pacientes que sofrem de desnutrição e portadores do VIH/SIDA", explica a infectologista da Cruz Vermelha portuguesa Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
À espera de consultas
As salas de espera no centro de saúde Macurungo ficam diariamente superlotadas com pacientes que sofrem das mais variadas doenças. O cólera está sob controle, mas os casos de malária estão a ser acima do habitual. "As chuvas fazem com que haja poças d’água que são óptimas para a proliferação dos mosquitos havendo mais vetores para transmitir a doença", diz a infectologista Telma Susana Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Atendimento
Esta é uma das tendas do hospital de campanha Macurungo destinada às consultas médicas e atendimento aos pacientes. Nesta foto, o doutor Miguel e o enfermeiro de Cabo Verde Mariano Delgado dividem o espaço realizando atendimentos e curativos.
Foto: DW/F. Forner
Nos bastidores
Num momento de descanso após o almoço, estes três profissionais de saúde aproveitam a pausa no início da tarde antes de continuar com os atendimentos. Esta sala com macas também serve de refeitório e sala de reuniões. As equipas de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio técnico trabalham diariamente sem cessar e se revezam a cada três semanas.