Angola: Luta contra a corrupção caiu no esquecimento?
2 de junho de 2022Onde está a tão propalada "cruzada contra corrupção" em Angola? No esquecimento, diz analista.
Em entrevista à DW África, o ativista Luís Paulo diz que "há meses que não se fala na luta contra a corrupção que estava a ser levado a cabo, a nível da gestão da coisa pública. E não será agora, em época de eleições, que se vai falar."
Os partidos aquecem as suas máquinas para o escrutínio, e na imprensa multiplicam-se as notícias sobre o processo eleitoral. Seja com acusações do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) à oposição, alegadamente por querer desestabilizar o escrutínio, seja com acusações da oposição ao MPLA, supostamente por estar a preparar fraude eleitoral.
Luta contra a corrupção em segundo plano
A expetativa é grande em relação às eleições gerais de agosto – a oposição pede alternância após décadas com o MPLA no poder – e é por isso que, segundo o jurista Agostinho Canando, se tem falado mais do escrutínio do que do combate à corrupção em Angola.
"A prioridade agora são as eleições, em fase de pré-campanha", comenta Agostinho Canando.
O Governo diz, no entanto, que os resultados do combate à corrupção estão à vista de todos, e assegura que acabou a "sensação de impunidade no país".
O Procurador-Geral da República, Hélder Pitta Grós, informou recentemente que, nos últimos três anos, foram recuperados mais de 5 mil milhões de dólares em ativos financeiros e não financeiros.
Foram arrestados bens móveis e houve o julgamento e condenação de antigos titulares de cargos públicos como, por exemplo, Augusto Tomás, ex-ministro dos Transportes, acusado de peculato, abuso de poder e branqueamento de capitais. É o único na cadeia.
Combate seletivo?
O combate à corrupção é o cavalo de batalha do Presidente angolano, João Lourenço, desde que chegou ao poder, em setembro de 2017. Mas os críticos continuam a queixar-se de que o combate tem sido seletivo.
É por isso que o jurista Agostinho Canando diz que o balanço que faz dos últimos anos é modesto. "Há algumas coisas de negativo", refere.
Mas o combate à corrupção não se faz de um dia para o outro, reconhece o ativista Fernando Sakuayela – nem talvez em cinco anos. Agora que as eleições se aproximam, Sakuayela diz que é preciso "parar tudo" no que diz respeito ao combate à corrupção.
"Embora a luta contra a corrupção seja um processo continuado e por continuar, no presente momento será mais racional haver um freio à exposição de altas figuras do regime", afirma Sakuayela, que defende a retoma do combate à corrupção só depois das eleições.
A DW África contactou a PGR e os tribunais angolanos, para saber se havia processos novos de corrupção, mas não obteve uma reação.