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Alfabetizadores não recebem salários há 3 anos

Adolfo Guerra (Menongue)
21 de maio de 2021

Na província angolana do Cuando Cubango, 450 professores de alfabetização não recebem os salários há três anos e, pelo menos 300, viram-se obrigados a abandonar o projeto. Os alfabetizadores dizem estar a passar fome.

Angola Corona l Grundschulen nehmen den Unterricht wieder auf
Imagem ilustrativaFoto: António Ambrósio/DW

Há três anos que os professores encarregados de uma campanha de alfabetização não recebem o salário mensal de 10 mil kwanzas (equivalente a 7 euros). Ouvidos pela DW África, os alfabetizadores dizem estar a passar fome.

Jeremias Nicolau, alfabetizador há onze anos, pede sensibilidade ao Executivo para a resolução rápida do problema.

"Somos chefes de família, uma das vezes a nossa família não quer saber, pensam que talvez alguns estejam inseridos. Até o estudante não é cobrado, há fome”, conta.

Este professor diz que muitos colegas já abandonaram o programa de alfabetização. Os que ficaram estão, neste momento, a trabalhar de graça.

"O Governo devia resolver para que tenhamos uma outra motivação”, apela.

Gabinete provincial confirma dívida

Miguel Kahime, diretor do gabinete provincial da educação no Cuando Cubango, confirma a dívida de mais de 127 mil euros para com os 450 alfabetizadores da província e reconhece o papel do serviço que estes prestam.

Dos 450 profissionais apenas 150 continuam a trabalhar, mas de forma voluntáriaFoto: António Ambrósio/DW

E o responsável justifica: "Nesta altura decidimos que, em função de não existirem valores para acudir esta situação, é melhor nos mantermos com esta dívida de 3 anos enquanto o Governo vai arranjando forma para encontrar valores para o pagamento, porque a alfabetização não tem dinheiro que sai do orçamento (OGE). São financiamentos”.

"Continuamos com aqueles que decidiram mesmo ser voluntários que são cerca de 150 professores. O quer dizer que os restantes 300 deixaram de trabalhar. E a dívida que nós temos com estes rondam os 100 milhões de kwanzas para o Cuando Cubango, de 3 anos com todos alfabetizadores tanto do programa ‘Sim eu posso' como do programa normal”, continua.

"É urgente resolver o problema”

O secretário de Estado para a educação pré-escolar e ensino primário, Francisco Pacheco, adianta que a dívida do Ministério da Educação com os alfabetizadores deve-se à situação financeira que o país vive.

"É uma dívida que ronda os 3.000.000.000.00 bilhões de kwanzas (mais de 381 milhões de euros) com cerca de 10 mil alfabetizadores em todo o país nestas condições", diz.

 Contudo, garante que "tudo está a ser feito para se minimizar esta situação, dentro de dias este problema será minimamente resolvido. Em função da situação financeira que o país vive não será possível liquidar a dívida na totalidade mas sim de forma faseada”.

Francisco Pacheco, que esteve de visita ao Cuando Cubango em abril último, disse ser urgente resolver o problema.

"Tivemos que suspender ainda estes contratos para não continuar a acumular divídas. Então, o mais certo é que se conseguirmos resolver esta situação teremos é que incentivar cada vez mais a questão da alfabetização porque a nossa população que necessita. No entanto é preciso que se resolva com maior urgência possível a questão desta dívida”, reitera.

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