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Cuando Cubango: Discriminação política no acesso a serviços

Adolfo Guerra (Menongue)
28 de julho de 2021

Na província de Cuando Cubango, Angola, moradores denunciam discriminação no acesso à água, saúde e educação por serem da oposição. Alguns relatam até mesmo ter sido preciso pagar para ter acesso à energia.

Angola | Cuando Cubango
O artigo 23º da Constituição angolana consagra o princípio de igualdade, mas no Cuando Cubango, a oposição uma denuncia realidade diferente.Foto: Adolfo Guerra/DW

A Constituição de Angola consagra o princípio de igualdade e afirma que ninguém pode ser privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de suas convicções políticas, mas na província do Cuando Cubando, o acesso à água é apenas uma das várias condições sociais negadas aos cidadãos que apoiam os partidos da oposição ao MPLA, no poder, segundo denúncias de políticos e residentes.

"Temos verificado alguma discriminação na distribuição dos bens públicos por sermos deste partido", desabafa Mariano Caputo, militante da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA),  e residente do distrito de Menongue.

"Nos últimos tempos, tampouco há interesse para resolverem os problemas que afligem as populações na distribuição dos bens públicos", acrescenta.

"Num país que se diz democrático"

Elias Mavoca, outro militante da UNITA, e residente de Menongue, lamenta que mesmo em tempos de paz, num país que se diz democrático e de direito, faltem condições sociais devido à convicção política de alguém. "Nós não temos água e energia para estas pessoas que, por exemplo, se deslocam de um lado para o outro à procura de água", diz.

Quanto ao fornecimento de energia, o militante diz haver uma divisão: às áreas com a bandeira do MPLA, a energia chega; mas naquela área onde residem militantes do partido maior partido de oposição, "não tem como a energia passar".

"Eles alegam que esta área é da UNITA, e por isso não pode beneficiar de energia", explica.

Uma moradora de Cuando Cubando a obter um pouco de água.Foto: Adolfo Guerra/DW

Obrigados a comprar bidons de água

Num município atravessado por dois rios, alguns daqueles cidadãos são obrigados a comprar bidons de água, caso contrário precisam acordar de madrugada para tirar água dos poços - as chamadas cacimbas, relata a cidadã Mariana Wenda.

Além disso, o consumo da água não tratada tem deixado muitos residentes doentes, explica: "Registamos muitas doenças que vêm das águas e as crianças da localidade estão a adoecer".

"Não conseguimos ter água em [boas] condições, pois está sempre turva, principalmente nestes tempos de cacimbo [chamada estação seca]", relata.

"Então compramos a água não tratada nas cisternas, tirada diretamente do rio e vendida", e acrescenta: "um bidon de 20 litros custa algo em torno de 50 kwanzas (o equivalente a cerca de menos de um euro)".

Acesso à energia

A mesma moradora diz ainda que para terem energia elétrica foi preciso contribuir com 75 mil kwanzas por cada residência (algo em torno de 100 euros).

Geraldo Satchipengo Nunda, secretário municipal da UNITA no Rivungo, diz que a resolução dos problemas sociais não é guiada pela densidade populacional, mas sim pela "cor partidária".

"Onde há mais militantes do MPLA, tendo um número aceitável ou não de militantes, colocam a escola. É o exemplo da escola do Cambulu", diz.

A DW África tentou, sem sucesso, falar com o governo local e a Empresa Nacional de Distribuição de Energia, ENDE-EP, uma empresa pública.

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