O Zimbabué é um dos países em África com o maior número de casamentos infantis - motivados, em grande parte, pela pobreza. Jovem zimbabueana tenta lutar contra esta realidade através do cultivo de cogumelos.
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Uma em cada três raparigas, em áreas rurais do Zimbabué, casa antes de completar dezoito anos, de acordo com as estatísticas oficiais. A pobreza e as práticas culturais e religiosas são algumas das razões que as levam a casar-se tão cedo.
Sem pai nem mãe, Chido Govera quase casou aos onze anos com um homem trinta anos mais velho do que ela. Mas Govera não aceitou.
Hoje em dia, vários anos depois, reúne-se com mulheres, jovens e adultas, de comunidades pobres na organização "The Future of Hope", poucos quilómetros a norte da capital Harare. Govera ensina-as a cultivar cogumelos, para não caírem na armadilha de casar cedo para escapar às dificuldades familiares.
"Eu sei o que é ser jovem numa aldeia sem poder providenciar comida nem rendimento. Por isso, aprendi a importância de ajudar essas jovens com essas técnicas para que elas consigam cuidar de si mesmas", diz Govera.
Cogumelos como solução ao casamento infantil no Zimbabué
Além de cuidar de si mesmas, "elas também assumem a responsabilidade das próprias famílias", declara a zimbabuena, que é contra a autovitimização. Ela encoraja as jovens a procurarem soluções, tal como ela fez. E defende o cultivo de cogumelos como uma saída: "Com os cogumelos, usamos o que não é aproveitado pela agriculturae que há em abundância. Além disso, trabalhamos dentro de casa."
Não é preciso muito espaço para cultivar os cogumelos e, segundo Govera, esta é uma boa oportunidade para jovens que não têm terra.
Cursos
Govera já formou mais de mil mulheres em comunidades no Zimbabué e noutras partes de África, Ásia, Austrália, nos Estados Unidos da América e na Europa. A zimbabuena diz que gostaria de criar uma empresa, a Hope Food, para ajudar as mulheres que passam pelos seus cursos.
Mufaro Machimbira participou numa das formações e afirma que está preparada para transformar as vidas das mulheres na comunidade onde vive: "Se aprendermos a conduzir um projeto que podemos fazer com as nossas mãos, podemos arranjar dinheiro e comida. É muito útil e ajuda as nossas famílias", sustenta Machimbira.
Penalização mais severa
Organizações dos direitos da mulher do Zimbabué exigem penas mais duras para o casamento infantil. Sylvia Chirawu, diretora do grupo "Mulheres e a Lei", na África Austral, critica a falta de legislação para lidar com a prática. "Eu gostaria de ver, pessoalmente, uma prisão feita especificamente para quem decide casar crianças ou para quem se casa com elas, para que eles possam realmente sentir o peso da lei, porque, atualmente, não temos infraestruturas que nos apoiem", diz Chirawu.
O Zimbabué é um dos países em África onde com o maior registo de casamentos infantis - e está ao lado, neste ranking, da Guiné-Bissau, Mauritânia, do Mali, Nigéria, Uganda, Burquina Faso, Níger e Chade.
As apanhadoras de algas de Zanzibar
Elas passam horas a fio com os pés enterrados em água do mar. Vivem ao ritmo das marés, expostas ao sol e ao vento: As apanhadoras de algas de Zanzibar.
Foto: DW/St. Duckstein
O seu futuro está no mar
Há quatro horas que Hamnipi Khamis pendura pequenas algas numa corda. Ela é uma de cerca de 15 mil mulheres que se dedicam à apanha de algas vermelhas, na ilha tanzaniana de Zanzibar. Esta planta é muito rica em valiosas substâncias utilizadas na indústria alimentar e cosmética, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, para onde são exportadas. Para Khamis, as algas são um meio de subsistência.
Foto: DW/St. Duckstein
Ao ritmo das marés
A vida de Khamis é determinada pelo ritmo das marés. Quando a maré está baixa ela avança, colhendo as algas que pode e plantando novas, antes que a maré volte a subir. Um trabalho nada fácil: por vezes, Khamis tem que permanecer mais de seis horas com os pés na água salgada. Ela não sabe nadar, mas ama o mar. Porque é o mar que a alimenta.
Foto: DW/St. Duckstein
O mar é a sua horta
Sandálias de pneu, um pau, um molho de cordas - são estes o equipamento e as ferramentas de Khamis. Todo o cuidado é pouco para não calcar um ouriço do mar. Também as conchas podem ser muito agudas e causar cortes dolorosos nos pés e nas mãos. A água salgada? Khamis, de 60 anos de idade e residente na aldeia de Kidoti, diz que já está habituada.
Foto: DW/St. Duckstein
Colheita no Mar Índico
Uma por uma - é assim que Khamis pendura as pequenas, mas valiosas algas, prestes a serem semeadas. A sua "plantação" tem uma área de cerca de 25 metros quadrados. Depois de serem "plantadas", as algas pequenas têm seis semanas para crescer. Depois é altura de colher. Com alguma sorte e também muita sabedoria, as mulheres obtêm ótimos resultados: algas dez vezes mais pesadas!
Foto: DW/St. Duckstein
Cottonii e eucheuma denticulatum
O mercado mundial prefere o tipo de algas "cotonii". Na ilha de Zanzibar existe ainda outro tipo: a "eucheuma". Medicamentos, pasta dentífrica, cremes cosméticos - as substâncias destas algas são imprescindíveis na produção desses produtos. As "carragenas", um ingrediente extraído das algas vermelhas com potencialidade de gelificação, na Europa são denominadas de E407.
Foto: DW/St. Duckstein
O peso das algas
Um saco de algas pesa cerca de 50 quilos. Mas as algas têm que ser secas antes de ser embaladas e, neste processo, voltam a perder bastante peso, passando a pesar cerca de metade. Khamis recebe 160 schillings tanzanianos (cerca de 0,07 euros) por cada quilo de algas secas. Os maiores clientes das algas de Khamis são fábricas em França, Dinamarca, China e Estados Unidos da América.
Foto: DW/St. Duckstein
Valor acrescentado
As algas reaparecem nas perfumarias europeias em forma de "sprays" e cremes para a revitalização da pele facial e outros produtos de luxo, muito procurados por clientes com elevado poder de compra. Assim, as algas aumentam consideravelmente o seu valor. Um creme à base de substancias extraídas de algas vermelhas pode custar 125 euros.
Foto: picture-alliance/dpa
Sabão de Zanzibar
Khamis esforça-se por aumentar o seu lucro: ela faz parte de uma cooperativa de 20 mulheres, fundada em 1995, com o nome "Tusife Mojo" ("Desistir, nunca!"). O objetivo é a produção de sabões à base de algas, canela e eucalipto, que vendem por cerca de 0,45 euros por unidade. Khamis recomenda esse sabão, dizendo a quem quiser ouvir: "a minha pele parece veludo!"
Foto: DW/St. Duckstein
Cravos, cardamomo, algas
A ilha de Zanzibar chegou a ser um dos maiores produtores de especiarias à base de cravos. Exportava também cardamomo, baunilha e canela. Hoje é o turismo que domina a economia. A apanha de algas também tem algum peso. Mais de 20 mil pessoas, sobretudo mulheres, dedicam-se, hoje em dia, ao cultivo de algas e outras plantas.
Foto: DW/St. Duckstein
Uma vida melhor
A atividade de apanha de algas não enriquece Khamis, é certo. Mas as batas escolares para os seus seis filhos foram compradas precisamente com o dinheiro que ela ganhou com as algas. O marido de Khamis é vendedor de peixe, uma atividade que pouco lucro dá. Khamis deseja ter muita saúde para poder continuar a fazer este trabalho que é árduo, mas que lhe dá também algum prazer.