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Cultivar cogumelos contra o casamento infantil

Privilege Musvanhiri
14 de agosto de 2017

O Zimbabué é um dos países em África com o maior número de casamentos infantis - motivados, em grande parte, pela pobreza. Jovem zimbabueana tenta lutar contra esta realidade através do cultivo de cogumelos.

Zimbabué, Guiné-Bissau, Nigéria, entre outros, são os países com o maior registo de casamentos infantis em ÁfricaFoto: picture alliance/AP Photo/S.Mohamed

Uma em cada três raparigas, em áreas rurais do Zimbabué, casa antes de completar dezoito anos, de acordo com as estatísticas oficiais. A pobreza e as práticas culturais e religiosas são algumas das razões que as levam a casar-se tão cedo.

Sem pai nem mãe, Chido Govera quase casou aos onze anos com um homem trinta anos mais velho do que ela. Mas Govera não aceitou. 

Hoje em dia, vários anos depois, reúne-se com mulheres, jovens e adultas, de comunidades pobres na organização "The Future of Hope", poucos quilómetros a norte da capital Harare. Govera ensina-as a cultivar cogumelos, para não caírem na armadilha de casar cedo para escapar às dificuldades familiares.

"Eu sei o que é ser jovem numa aldeia sem poder providenciar comida nem rendimento. Por isso, aprendi a importância de ajudar essas jovens com essas técnicas para que elas consigam cuidar de si mesmas", diz Govera.

Cogumelos como solução ao casamento infantil no Zimbabué

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Além de cuidar de si mesmas, "elas também assumem a responsabilidade das próprias famílias", declara a zimbabuena, que é contra a autovitimização. Ela encoraja as jovens a procurarem soluções, tal como ela fez. E defende o cultivo de cogumelos como uma saída: "Com os cogumelos, usamos o que não é aproveitado pela agricultura e que há em abundância. Além disso, trabalhamos dentro de casa." 

Não é preciso muito espaço para cultivar os cogumelos e, segundo Govera, esta é uma boa oportunidade para jovens que não têm terra.

Cursos

Govera já formou mais de mil mulheres em comunidades no Zimbabué e noutras partes de África, Ásia, Austrália, nos Estados Unidos da América e na Europa. A zimbabuena diz que gostaria de criar uma empresa, a Hope Food, para ajudar as mulheres que passam pelos seus cursos.

Mufaro Machimbira participou numa das formações e afirma que está preparada para transformar as vidas das mulheres na comunidade onde vive: "Se aprendermos a conduzir um projeto que podemos fazer com as nossas mãos, podemos arranjar dinheiro e comida. É muito útil e ajuda as nossas famílias", sustenta Machimbira.

Penalização mais severa

Organizações dos direitos da mulher do Zimbabué exigem penas mais duras para o casamento infantil. Sylvia Chirawu, diretora do grupo "Mulheres e a Lei", na África Austral, critica a falta de legislação para lidar com a prática. "Eu gostaria de ver, pessoalmente, uma prisão feita especificamente para quem decide casar crianças ou para quem se casa com elas, para que eles possam realmente sentir o peso da lei, porque, atualmente, não temos infraestruturas que nos apoiem", diz Chirawu.

O Zimbabué é um dos países em África onde com o maior registo de casamentos infantis - e está ao lado, neste ranking, da Guiné-Bissau, Mauritânia, do Mali, Nigéria, Uganda, Burquina Faso, Níger e Chade.

 

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