Os médicos tradicionais têm agora pouca procura na Guiné-Bissau, quer para a prevenção como para o tratamento da Covid-19. Ainda sem registo de óbitos, país lida neste momento com nove infeções por coronavírus.
Publicidade
É habitual na Guiné-Bissau que para prevenção, tratamento ou cura de qualquer doença, muita gente recorra aos curandeiros tradicionais, que dizem possuir técnicas e serem conhecedores de ervas e raízes medicinais, para tratar e até curar enfermidades. Mas no caso da nova doença Covid-19, os curandeiros estão impotentes, como disse à DW África um dos curandeiros mais procurados, o maliano Moussa Sidibé.
"Se alguém vem aqui ou me liga, digo a essa pessoa para ir diretamente ao hospital, como ouço dizer os grandes médicos sobre os sintomas", conta Sidibé, residente na Guiné-Bissau há dez anos. "É uma doença que nunca curei, só Deus sabe como é. Não a curo e nem tenho medicamentos", admite.
Numa altura em que o país cumpre o estado de emergência e as pessoas estão em quarentena, o curandeiro deixa um apelo aos cidadãos: "O que posso dizer às pessoas não passa daquilo que o governo diz. Que respeitemos as orientações, porque eu, desde que entramos nessa situação, não estou a trabalhar e não recebo ninguém."
"Não há alternativa aos hospitais"
Embora reconheça o papel dos curandeiros tradicionais na sociedade, o médico Hedwis Martins sublinha que, no caso da Covid-19, não há alternativa às unidades hospitalares.
"Eles têm um papel fundamental de poderem orientar e sensibilizar as pessoas que estão mais habituadas a ir ter com eles. Mas se o vírus ultrapassar a garganta e descer para os pulmões, é aí que começam as complicações, que começa a falta de ar, e a pessoa vai precisar do oxigénio e do ventilador", explica.
Como os curandeiros tradicionais não têm esses aparelhos "e não têm como monitorizar as falhas que vão surgindo", lembra o médico, "os únicos com capacidade vão ser as unidades hospitalares."
Por outro lado, como nem todas as unidades hospitalares também têm essa capacidade, "certamente haverá um espaço apropriado para tal e a pessoa tem que ser encaminhada para lá", aconselha Hedwis Martins.
Também apoia as medidas de prevenção contra o coronavírus Umaro Sissoco Embaló, declarado vencedor das eleições presidenciais pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), que promulgou a lei que regulamenta o estado de emergência, que teve início a 28 de março.
O documento prevê, entre outras medidas, que as cerimónias fúnebres não devem ter mais de dez pessoas e também interdita a entrada ou saída do país.
O que mudou em Cabo Verde com a Covid-19
Cabo Verde registou quatro casos de infeção por Covid-19 e uma morte. Todos os casos são importados. Centenas de pessoas estão em isolamento e os voos foram condicionados. O dia a dia também está a ser afetado.
Foto: DW/A. Semedo
Movimentação reduzida nas ruas
A chegada do novo coronavírus a Cabo Verde mudou a rotina dos cabo-verdianos, sobretudo nos centros urbanos, onde se tem notado a diminuição de movimentação e aglomeração de pessoas. Muitos preferem ficar em casa para diminuir o contacto social. Eventos com muitas pessoas foram suspensos em todo o país. Discotecas foram encerradas, bares e restaurantes passaram a fechar mais cedo.
Foto: DW/A. Semedo
Férias escolares antecipadas
Cabo Verde antecipou as férias escolares do ensino pré-escolar, básico e secundário para o dia 23 de março, como medida de contenção à Covid-19. As universidades também suspenderam todas as aulas e outras atividades formativas. Foram ainda estabelecidas medidas "excecionais e temporárias" para o funcionamento de creches, com a possibilidade do teletrabalho para os pais.
Foto: DW/A. Semedo
Informar com urgência a população
Campanhas de sensibilização e de esclarecimento à população sobre a Covid-19 estão a ser realizadas pelas autoridades em Cabo Verde. Carros passam informações à população sobre o que é a Covid-19, as formas de transmissão e como prevenir a doença. Estas viaturas circulam nos centros das cidades e bairros para reforçar a comunicação.
Foto: DW/A. Semedo
Transportes urbanos com lotação a 50%
Os transportes urbanos e interurbanos, como taxis e "hiaces", já estão a sentir os efeitos da Covid-19. A lotação passou para metade, com impacto direto no rendimento dos condutores. A medida visa aumentar o distanciamento entre os passageiros e evitar o contágio. "Hiacistas" e taxistas pedem apoio ao Governo para colmatarem as perdas, como a suspensão de impostos ou a facilitação de créditos.
Foto: DW/A. Semedo
Praias interditadas em todo país
As autoridades interditaram o acesso às praias do país para evitar a aglomeração de pessoas e, consequentemente, prevenir o contágio e a disseminação da Covid-19. A proibição durará enquanto se mantiver o plano de contingência a nível nacional decretado pelo Governo. A polícia está a patrulhar as zonas balneares para garantir o cumprimento da interdição.
Foto: DW/A. Semedo
Acesso limitado aos locais públicos
Mercados, bancos, farmácias, lojas e outras instituições estão a limitar a entrada de pessoas para prevenir a Covid-19, o que tem levado à criação de filas à porta destes espaços. Nos mercados da Praia, por exemplo, foi proibida a entrada de crianças e as vendedeiras com mais de 65 anos devem ficar em casa. Feiras e vendas de animais vivos são agora proibidas. Algumas lojas chinesas já fecharam.
Foto: DW/A. Semedo
Corrida aos supermercados
O anúncio do plano de contingência para a prevenção e controlo da Covid-19 e do primeiro caso da doença no país, disparou as compras em Cabo Verde. O medo de ficar sem alimentos levou as pessoas a comprarem grandes quantidades de comida e produtos de higiene. O Governo alertou a população para não açambarcarem os produtos e reforçou a fiscalização contra a especulação de preços.
Foto: DW/A. Semedo
O medo de ficar sem gás butano
O anúncio do primeiro caso de Covid-19 no país levou os cidadãos à compra desenfreada de gás butano para armazenamento, temendo a sua falta no mercado. Vários postos de venda ficaram sem este combustível para atender à elevada procura. Entretanto, as empresas de combustíveis garantem à população que têm stocks de gás suficiente para abastecer o mercado, afastando um cenário de escassez.
Foto: DW/A. Semedo
Faltam materiais de proteção individual
A falta de máscaras e álcool em gel no mercado tem deixado os cidadãos muito preocupados. A procura por estes produtos aumentou drasticamente com o registo do primeiro caso de Covid-19 no país. A empresa de medicamentos Inpharma passou a produzir álcool em gel para abastecer o país e já garantiu o fornecimento de máscaras às farmácias. Porém, a venda destes produtos está a ser racionada.