Medidas de austeridade e aumento dos preços de produtos básicos são desafios para o ano que vem, em Moçambique. Para muitos cidadãos, a tendência é que a vida fique ainda mais difícil.
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Em Moçambique, os últimos anúncios do Governo de novas medidas de austeridade já adiantam que a vida estará mais apertada para os moçambicanos em 2018. Estas medidas vão afetar diretamente o setor público, que, por exemplo, não terá progressões na carreira.
A estas medidas juntam-se aumentos dos preços de alimentos básicos para as famílias de baixa renda, como o carapau. Além disso, os preços das portagens também vão aumentar, obrigando os transportes semicoletivos a agravar a tarifa.
Mais ainda, em 2018 os moçambicanos terão de lidar com o encarecimento de outros produtos, como roupas e viaturas usadas, que também beneficiam a maior parte da população.
Sem poder de compra
Nas ruas de Maputo, capital do país, os cidadãos mostram-se preocupados com a economia no próximo ano. O funcionário público David Cuche diz que os moçambicanos já não possuem poder de compra.
"A cada dia que passa os preços vão subindo e, quando temos cortes, sentimos que em algum momento o salário não nos favorece e fica difícil", ressalta o funcionário público.
O preço dos combustíveis também está a obrigar algumas famílias a refazer os seus planos para 2018. É que para este mês de dezembro foi anunciada a subida da tarifa do transporte semicoletivo, vulgo chapa, num acordo alcançado em setembro.
Para Raúl Alexandre este aumento deixará as coisas ainda mais difíceis. "Sempre há de ser difícil para nós que recebemos pouco. Recebemos menos e estou a tentar fazer o possível com este menos para desenrascar".
13.12 Moçambique / Austeridade para 2018 - MP3-Mono
Diminuindo despesas
No próximo ano, os funcionários do Estado não terão progressões nas carreiras até que o cenário económico se normalize. O setor da Educação é um dos mais prejudicados com esta medida. O professor Aurélio Mabui não imagina o que será de 2018.
"Vai ser péssimo porque este ano venho passando por dificuldades. Para o ano será pior. Vamos diminuir o máximo possível as despesas, mas já estamos com o cinto apertado", confessa.
Em meio a estas dificuldades, há casais que perderam o emprego e voltaram a depender dos seus próprios pais para sobreviverem. É o caso da Inês Nhantumbo, que vive à custa da sua sogra e não sabe como serão os próximos meses.
"Não sei como vai ficar. Não trabalho. Sou esposa e meu marido ainda não começou a trabalhar, é licenciado, mas não consegue trabalho. Dependemos da minha sogra".
As medidas de austeridades do Governo foram decretadas logo após a descoberta das chamadas dívidas ocultas, que totalizam mais de dois mil milhões de dólares.
Obras sobrefaturadas transformam Vilanculos em cidade-fantasma
Falta de transparência, obras inacabadas e a preços exorbitantes. Corrupção generalizada no Conselho Municipal de Vilanculos, em Inhambane, gera construções inacabadas, que não podem aproveitadas pela população.
Foto: DW/L. da Conceicao
O triplo do preço real
No Conselho Municipal de Vilanculos, na província moçambicana de Inhambane, os preços das obras estão a ser adulterados para beneficiar funcionários que recebem comissões ilegais de empreiteiros depois da adjudicação. Três balneários públicos ainda em construção custaram meio milhão de meticais aos cofres públicos, três vezes acima do preço normal.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Construções desnecessárias
O Conselho Municipal de Vilanculos construiu um alpendre com mais de 50
bancas. O investimento foi de 1,5 milhões de meticais, mas, há dois anos, quase ninguém ocupa esta infraestrutura. Os vendedores negam-se a ocupar as
bancas alegando que "não querem servir de fatura de alguém". A obra
não corresponde ao preço real segundo empreiteiros ouvidos pela DW África.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Obras continuam
As construções continuam em Vilanculos sem que ninguém ocupe as bancas. No mercado central, está a ser construído um novo mercado de peixes financiado pelo programa PROPESCA. O valor é de 9,6 milhões de meticais, quatro vezes acima do preço normal. A obra tem um prazo de 240 dias para ser executada e está a cargo da empresa Vilcon, cujo dono é investigado por fuga ao fisco.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Areia vermelha nas ruas principais
Muitas ruas na vila turística de Vilanculos não têm pavimento, mas o Conselho Municipal gasta mais com a colocação de área vermelha do que com paves. Os munícipes reclamam da degradação dos seus automóveis e questionam: "Por que gastar dinheiro com areia enquanto pode-se colocar paves ou saibro com o mesmo valor?". A colocação da areia vermelha facilita o esquema de corrupção no município.
Foto: DW/Luciano da Conceição
Ruas em péssimo estado
Todos os anos, a Assembleia Municipal aprova o orçamento para a reabilitação desta rua do Mercado Novo. A via, no entanto, continua esburacada. O dinheiro sempre é dividido em comissões e resta pouco para a execução. A empreiteira selecionada é, há dois anos, a única empresa contratada para o efeito e não é sediada em Vilanculos, gerando o descontentamento de empresários locais.
Foto: DW/L. da Conceicao
Arrendamento caro
O sistema de corrupção no Conselho Municipal de Vilanculos tem foco na construção de novas bancas para facilitar a divisão do dinheiro entre os empreiteiros e os funcionários do órgão. É o caso concreto destas 12 bancas que foram construídas há dois anos no bairro 19 de Outubro, mas ninguém quer arrendar. Segundo os vendedores, o arrendamento está muito caro e não há rede elétrica.
Foto: DW/L. da Conceicao
Uma residência que custa milhões
As obras superfaturadas em Vilanculos também envolvem o governo da província de Inhambane. Este projeto prevê um investimento de quase 83 milhões de meticais para a construção de uma residência protocolar. Entretanto, falta transparência. A obra tem duração prevista de cinco anos, mas não se sabe quando começou.
Foto: DW/L. da Conceicao
Cadê o dinheiro?
O conselho empresarial de Vilanculos reclamou recentemente a reabilitação da Rua da Marginal para servir como cartão de visita aos turistas. Entretanto, anualmente tem se colocado areia vermelha para diminuir buracos de modo a permitir a circulação de viaturas, mas a rua continua em estado crítico. Os munícipes sempre questionam: Para onde vai o dinheiro da reabilitação desta via importante?
Foto: DW/L. da Conceicao
Corrupção de barba branca
A corrupção em Vilanculos vem desde há muito tempo. Em 2012, uma obra da reabilitação de uma avenida com quase três quilómetros custou quase 44 milhões de meticais aos cofres do município. A obra esteve a cargo da empresa chinesa Sinohydro e o financiamento veio do fundo de estrada. Até hoje, ninguém sabe
como tanto dinheiro foi gasto nesta obra.
Foto: DW/L. da Conceicao
Funcionários detidos por corrupção
Cerca de dez funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos foram indiciados pelos crimes de corrupção e adjudicação de obras acima do preço normal. Dois foram detidos no ano passado por vender terrenos na zona da costa. Mangais foram destruídos para dar lugar à construção de um hotel residencial. Um flagrante desrespeito à lei ambiental.
Foto: DW/L. da Conceicao
Mangal vendido para dar lugar a hotéis
Boa parte da terra na costa foi adquirida por um empresário sul-africano que destruiu o mangal para construir condomínios. Alguns funcionários do Conselho Municipal de Vilanculos ainda estão sendo ouvidos no gabinete de combate à corrupção. A lei ambiental moçambicana proíbe a destruição de mangais e prevê punições.