Cyril Ramaphosa, líder do ANC e até aqui vice-Presidente, é o sucessor de Jacob Zuma, que se demitiu na noite passada. O quinto Presidente da África do Sul promete "servir o povo" com "humildade e dignidade".
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Cyril Ramaphosa, de 65 anos, já era apontado há muito como "o senhor que se segue" na África do Sul. Esta quinta-feira (15.02), foi eleito Presidente da República no Parlamento por membros do Congresso Nacional Africano (ANC) e muitos deputados da oposição - à exceção dos partidos Aliança Democrática e Combatentes da Liberdade Económica.
O anúncio foi feito pelo chefe do Tribunal Constitucional, Mogoeng Mogoeng, 16 horas depois da demissão de Jacob Zuma. Quando deixou o cargo, em 1999, Nelson Mandela já o tinha proposto como seu sucessor. Um sonho que só agora, 19 anos depois, se cumpre.
Já na pele de chefe de Estado, o antigo sindicalista e ativista anti-Apartheid prometeu defender os interesses do povo, acima de tudo. "Acredito que quando alguém é escolhido para este tipo de cargo, transforma-se num servidor do povo da África do Sul. Eu também o farei com humildade, fidelidade e dignidade. É isso que vou procurar fazer", declarou no Parlamento.
Eleição "ilegítima"
Natural do Soweto, nos arredores de Joanesburgo, Ramaphosa já era vice-presidente do país desde 2014 e em dezembro foi eleito líder do ANC, o partido no poder desde 1994. O bem-sucedido empresário era o único candidato à sucessão de Jacob Zuma, acusado de vários atos de corrupção.
Mas esta eleição não agradou a todos. Antes da votação, o partido Combatentes da Liberdade Económica abandonou o Parlamento, mas não sem antes criticar o ANC por uma eleição que considera "ilegítima". "É preciso dissolver o Parlamento e depois convocar eleições. Deixem o povo da África do Sul escolher o seu Presidente e não uma elite que escolhe o Presidente entre si!", pediu Julius Malema, líder do partido da oposição.
Cyril Ramaphosa já é Presidente da África do Sul
Também Mmusi Maimane, líder da Aliança Democrática, outro partido da oposição, defendeu que o Parlamento deve ser dissolvido. "O problema está no ANC", sublinhou. "Se o ANC quer eleger Cyril Ramaphosa, deve fazê-lo, mas é preciso dissolver o Parlamento", salientou Mmusi Maimane. "E espero que um dos seus primeiros passos seja a dissolução do Parlamento. A África do Sul precisa desse novo começo."
O líder da Aliança Democrática também criticou Cyril Ramaphosa por este, enquanto vice-presidente, não ter tomado medidas contra a deterioração da economia, nem contra os escândalos de corrupção em que Zuma esteve envolvido.
Legado de corrupção
A um ano do final do segundo mandato presidencial, Jacob Zuma, de 75 anos, não resistiu à pressão do ANC. Deixa um legado contrário aos ideais do movimento que durante décadas lutou contra o "Apartheid", o regime de segregação racial na África do Sul.
No Parlamento, a oposição pediu que Zuma, acusado de corrupção, seja responsabilizado. Uma exigência que se repete pelas ruas de toda a África do Sul, onde os ventos de mudança estão a ser bem acolhidos.
"Zuma fez bem em demitir-se. Agora vamos ver o que Ramaphosa tem para nós", diz uma residente em Pretoria. "Acho que vai ser melhor. Vamos ter mais empregos, haverá mais trabalho para os jovens, é isso que queremos. Confiamos nele", afirmou outro jovem sul-africano.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.