Dívidas ocultas: Detenções continuam em Moçambique
Lusa
16 de fevereiro de 2019
Ndambi Guebuza, filho do ex-Presidente Armando Guebuza, será o nono arguido intercetado pelas autoridades no caso das dívidas ocultas, segundo a imprensa moçambicana. Oito suspeitos foram ouvidos este sábado em tribunal.
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Ndambi Guebuza, filho do ex-Presidente Armando Guebuza, terá sido detido na tarde deste sábado (16.02), indiciado de participação ativa no caso das dívidas ocultas do Estado moçambicano, segundo os jornais moçambicanos O País e CanalMoz.
As atenções estavam voltadas para o caso desde o início do dia, com a audição de outros oito detidos no Tribunal Judicial de Maputo, na baixa da cidade, com vista à legalização da sua prisão preventiva, enquanto no exterior se juntavam jornalistas e familiares.
Um conjunto de cinco detenções feitas na quinta-feira (a que se juntaram três na sexta) foram as primeiras feitas pela justiça moçambicana após três anos e meio de investigação e aconteceram depois de a procuradoria norte-americana ter mandando prender Manuel Chang, antigo ministro das Finanças de Moçambique, detido a 29 de dezembro quando viajava pela África do Sul.
Sérgio Namburete, Elias Moiane e Sidónio Sitoe foram intercetados pelas autoridades moçambicanas na sexta-feira, detalha o portal informativo Carta de Moçambique, segundo o qual terão recebido transferências da Privinvest (empresa naval no centro da alegada fraude de 2,2 mil milhões de dólares), que depois encaminhavam a outros implicados.
Fontes ligadas ao caso admitem que novas detenções aconteçam nos próximos dias, dentro da lista de 18 arguidos revelada pela justiça moçambicana em janeiro, ao mesmo tempo em que decorre a apreensão de vários bens.
As detenções e a presença em tribunal, a um sábado, estão a ser acompanhas pelos media moçambicanos, inclusive com ligações em direto ao local da televisão estatal. Durante a manhã, os detidos entraram por uma porta lateral e evitaram a captação de imagens.
Quem são os arguidos?
Namburete é apresentado como um "empresário lobista", bem relacionado com o Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE), a "secreta" moçambicana (que controlava as três empresas públicas que serviram de fachada para obter empréstimos).
Elias Moaine é parente de Inês Moaine, secretária do ex-Presidente da República Armando Guebuza, durante o mandato do qual se desenrolou o processo das dívidas ocultas, entre 2013 e 2014 (Inês Moiane já tinha sido detida na quinta-feira) e o portal deixa em aberto a relação de Sidónio Sitoe com o processo.
A acusação norte-americana contém correspondência e documentos que a levam a concluir que três empresas públicas moçambicanas de pesca e segurança marítima terão servido para um esquema de corrupção e branqueamento de capitais com vista ao enriquecimento de vários suspeitos e que usou conta de bancos dos EUA.
O esquema baseava-se em empréstimos de 2,2 mil milhões de dólares, secretamente avalizados pelo Estado e que supostamente serviriam para criar e equipar a Ematum, Proindicus e Mam.
Além do ex-ministro moçambicano, está detido desde início do ano, em Nova Iorque, Jean Boustani, intermediário da empresa naval Privinvest que deveria equipar as empresas estatais.
Aguardam também decisão sobre extradição para os EUA, três ex-banqueiros do Credit Suisse, detidos no princípio de janeiro em Londres.
Impacto da crise na vida dos moçambicanos
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
Foto: DW/Romeu da Silva
Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
Foto: DW/Romeu da Silva
Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.