O réu disse, em tribunal, que o dinheiro era proveniente da M. Moçambique Construções, empresa que desconhece. Na época caixa da Africâmbios, disse que foi obrigado a abrir uma conta, onde recebeu elevadas quantias.
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À data dos fatos, Khessaujee Polchand trabalhava como caixa na Africâmbios. O réu confirmou ter recebido na sua conta do Millennium BIM o equivalente a cerca de 170 mil euros, mas nega ter levantado todo o valor.
O dinheiro foi transferido da conta da empresa de Fabião Mabunda, também réu no caso, mas Polchand diz desconhecer a M.Moçambique Construções, empresa que terá recebido cerca de 1,5 milhões de euros de subornos da Privinvest.
O juiz do tribunal da Cidade de Maputo quis saber se o réu chegou a levantar o valor em causa, ao que Khessaujee anuiu, mas apenas o equivalente a quase 7 mil euros.
"Esta conta era movimentada pela casa de câmbios. Então, houve uma transferência para a sua conta?", questionou o juiz do caso. "Sim", confirmou o réu. "Aqui vem a M. Moçambique Construções", constatou o juiz.
"Da empresa que disse que não conhecia?", perguntou o magistrado. "Sim", confirmou o réu.
Abertura de contas
Veja imagens da audição de Ndambi Guebuza
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O juiz Efigénio Baptista questionou como é possivel receber dinheiro de uma conta desconhecida, ao que o réu respondeu que todos os funcionários da Africâmbios foram obrigados aabrir contas sem saber da sua finalidade.
"Quando abri a conta, pensei que era conta-salário. Mas questionei aos meus colegas que disseram que era normal, não havia problema e outros colegas tinham contas abertas pela casa de câmbios. Todos tinham contas abertas. Todas as transações que aconteciam nesta conta não era do nosso conhecimento", justificou.
"Só nos mandavam quando era para levantar, emitir cheques, e voltava para eles. Ou seja, a caderneta de cheques ficava com a gerência", acrescentou.
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Mais de 1,6 milhões de euros movimentados num mês
Os cheques emitidos por Khessaujee Polchand chegaram a totalizar 125 milhões de meticais, o equivalente a cerca de 1,6 milhões de euros, num só mês, o que levantou suspeitas ao Tribunal. "Não dava para ter noção do que estava a acontecer na sua conta?", questionou o juiz.
Khessuajee hesitou em responder e pediu que a pergunta fosse mais clara, mas voltou a responder que não tinha conhecimento do que se passava na sua conta. "O extrato eu também não sabia. Tirávamos o extrato e entregávamos à gerência", disse.
A procuradora Ana Sheila Marrengula questionou ao réu por que teria aceitado que valores avultados das operações da Africâmbios fossem transacionados na sua conta.
"Conforme disse, nós não tínhamos acesso, não sabíamos que valor era depositado, simplesmente, quando era preciso passar cheque ou qualquer outra ação que tem a ver com a conta, davam ordem e eu fazia. Era difícil saber qual era o saldo", afirmou.
O réu Khessuajee Pulchand foi o 12.º a ser ouvido pelo Tribunal em Maputo dos 19 réus no processo das dívidas ocultas.
Julgamento das dívidas Ocultas: "Outras coisas..."
O julgamento do caso das dívidas ocultas revela aos poucos mais informações sobre o que muitos consideram o maior escândalo de corrupção de Moçambique. Conheça as peculiaridades do caso e dos seus personagens.
Foto: Fotolia/Carlson
O caso
O escândalo das dívidas ocultas veio ao de cima entre 2013 e 2014. É a maior fraude financeira de Moçambique e prejudicou a nação e a imagem do país. Em causa estão cerca de 2 mil milhões de euros. O esquema tem como "cabeças" altos funcionários do Estado e trabalhadores de bancos como o Credit Suisse. O julgamento começou a 23 de agosto e conta com 19 arguidos, 70 testemunhas e 69 declarantes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Julgamento nas instalações de uma cadeia
A falta de capacidade para albergar muita gente terá levado o Tribunal Judicial da Cidade de Maputo a optar pelo Estabelecimento Penitenciário Especial de Máxima Segurança da Machava para o julgamento. E é na B.O., como é conhecida a cadeia, onde estão detidos a maioria dos envolvidos no caso. Alguns dos julgamentos mais mediatizados do país costumam acontecer aqui.
Foto: Romeu da Silva/DW
Juiz da causa é de índole duvidosa?
Efigénio Baptista não tem percurso profissional imaculado, foi julgado e condenado duas vezes por ameaças e ofensas corporais num caso de abuso de poder em Manica. Também terá sido alvo de contestação popular em Sofala, que culminou com a queima da sua casa. Alguns setores questionam a escolha do juiz, defendem que deveria ter sido escolhido um juiz sénior para o caso. O "juiz júnior" tem 42 anos.
Foto: Romeu da Silva/DW
"Alérgico a corrupção" e sujeito a pressão
Sobre as condenações, o juiz Efigénio Baptista, numa entrevista ao "O País" esclareceu: "Mas eu recorri da decisão e o Tribunal de Recurso da Beira anulou-a. Por isso, eu não tenho cadastro criminal". Baptista terá estado ainda sob pressão por ser o juiz do caso mais "cabeludo" do momento. A imprensa moçambicana chegou a noticiar sobre possíveis ameaças ao juiz.
Foto: Romeu da Silva/DW
Ordem dos Advogados em representação do povo
A Ordem dos Advoagados de Moçambique (AOM) intervém no julgamento na qualidade de assistente e pretende auxiliar o Ministério Público. O objetivo é assegurar que o povo moçambicano seja informado, atualizado e esclarecido sobre os contornos do processo. São sete representantes, entre eles os ex-bastonários Gilberto Correia e Flávio Menete.
Foto: Romeu da Silva/DW
Bendita seja a mulher entre os homens...
Ana Sheila Marrengula é representante do Ministério Público no julgamento. É a única mulher entre o jurado, o que desencadeou queixas de falta de inclusão. É apreciada pelas suas questões consideradas pertinentes, mas igualmente criticada pelos seus modos pouco profissionais de questionar os réus. Pede indemnização civil ao Estado de cerca de três mil milhões de dólares acrescidos de juros.
Foto: Christoph Hardt/picture-alliance/Geisler-Fotopress
O uniforme da discórdia
No primeiro dia do julgamento os réus não se apresentaram de uniforme prisional, como é prática no país e conforme solicitação do juiz. A defesa contestou a exigência, alegando que a lei não obriga a isso, mas no final valeu a ordem de Efigénio Baptista que defende "tratamento igual" entre os presos. Na terça-feira (24.08) a cor laranja dominava a sala de audiências na B.O.
Foto: Romeu da Silva/DW
Alexandre Chivale, um advogado (in)suspeito?
Advogado da família Guebuza é a "sensação" entre os causídicos. Para além da sua postura destemida, e até entendida como de afronta, Chivale marcou o primeiro dia do julgamento. É que é administrador da Txopela, empresa suspeita do seu constituinte, Carlos do Rosário. E mais: ocupa uma das casas supostamente adquiridas com o dinheiro do calote. Tribunal deu-lhe 72 horas para deixar o imóvel.
Foto: privat
A memória curta de Cipriano Mutota
Foi a estreia do banco dos réus. Mutota revela que foi traído pelos seus parceiros do negócio na partilha dos "lucros" e não ficou contente. E não se lembra do destino dado a cerca de 656 milhões de euros que terá recebido como "luvas". O ex-diretor do Gabinete de Estudos da secreta praticamente confirmou a acusação do Ministério Público. Diz que Nyusi e Guebuza aprovaram o projeto.
Foto: Romeu da Silva/DW
Manuel Chang regressa no momento "H"
Justamente no dia do arranque do julgamento, a África do Sul anunciou a tão esperada extradição de uma das peças chave do crime, Manuel Chang. O juiz decidiu que o ex-ministro das Finanças será ouvido "na qualidade de declarante, quando estiver no território nacional", em resposta ao pedido da Ordem dos Advogados de Moçambique e reafirmado pelo Ministério Público e pelos advogados dos 19 arguidos.
Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet
O "massagista" do sistema
Foi o lobista do negócio entre o Estado e a Privinvest, identifica-se como facilitador. Num dos emails trocado com a Privinvest mencionou uma "massagem ao sistema", mas no julgamento negou. Recebeu de Jean Boustani cerca de 8,5 milhões de dólares e recusa-se a devolver o valor, alegando que é resultante do seu trabalho. É visto como astuto, embora se tenha destacado por contradições no tribunal.
Foto: Romeu da Silva/DW
A amnésia da "cinderela"
É o terceiro réu a sentar-se no banco. Ndambi é filho do ex-Presidente Armando Guebuza é foi apelidado de cinderela pelos seus parceiros de negócios por ser lento a agir. Terá recebido 33 milhões de dólares de luvas de Jean Boustani, negociador da Privinvest. Não se recorda de quase nada que é questionado pelo juiz, diz que não tem memória de elefante. Foi um dos pivôs no tráfico de influência.