1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Moçambique saúda admissão de má conduta da Credit Suisse

22 de outubro de 2021

Num comunicado emitido por um escritório de advocacia britânico, Governo diz que a admissão de má conduta é um passo importante para a reparação ao povo. FMO quer cancelamento das dívidas, mas isso pode ser impossível.

Schweiz Paradeplatz Zürich Flaggen
Foto: picture-alliance/Global Travel Images

Moçambique saudou esta quinta-feira (21.10) a admissão de má conduta por parte da Credit Suisse, que concordou em pagar uma multa no âmbito do escândalo das dívidas ocultas, que desviou milhões de dólares e despoletou a pior crise financeira do país.

O banco sedeado em Zurique concordou pagar 475 milhões de dólares [o equivalente a 408 milhões de euros] pela conspiração para cometer fraude em transferências internacionais de recursos financeiros ('wire fraud transfer', no original em inglês)

"Este é um passo importante para a obtenção de plena reparação para o povo de Moçambique", disse o Governo moçambicano num comunicado emitido através do escritório britânico de advocacia Peters & Peters.

Foto: CIP

Há controvérsias

Entretanto, o Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO), uma coalizão de organizações da sociedade civil centrada na gestão das finanças públicas, está a pedir o cancelamento da totalidade das dívidas. "O reconhecimento do Credit Suisse da sua responsabilidade reforça a justeza e legitimidade da exigência do FMO de cancelamento total das dívidas ilegais", refere o FMO num comunicado.

Em entrevista à DW África, a ativista Fátima Mbire, por outro lado, lembrou que o FMO participou numa assembleia-geral da Credit Suisse, na qual pediu a responsabilização dos seus gestores pela forma como o processo foi conduzido.

"Vimos a Credit Suisse assumir a sua responsabilidade e a comprometer-se a reduzir o valor da dívida em 200 milhões de dólares. É verdade que a nossa intenção era que houvesse o cancelamento da dívida, mas uma vez que os oficiais do Governo de Moçambique estiveram envolvidos na negociata, não há como haver o cancelamento total da dívida. Cabe ao Estado moçambicano, e ao Governo em particular, continuar as negociações para reduzir ao máximo esta dívida", pondera Mbire.

Em maio do ano passado, o tribunal constitucional de Moçambique declarou nulos e sem efeito empréstimos no valor de 1,4 mil milhões de dólares da dívida de 2 mil milhões de dólares. As empresas de segurança estatais pediram emprestado o dinheiro às sucursais londrinas da gigante bancária suíça Credit Suisse e dobanco russo VTB.

Letreiro em prédio do banco VTB em MoscouFoto: Reuters

"Banqueiros informaram falsamente"

A Comissão de Títulos e Câmbios dos EUA (SEC, na sigla em inglês) disse que as transações "que levantaram mais de mil milhões de dólares foram utilizadas para perpetrar um esquema de dívida oculta" e "pagar suborno" a ex-banqueiros de investimento suíços - os seus intermediários - e para "subornar funcionários corruptos do governo moçambicano".

Os banqueiros "informaram falsamente" os investidores que as receitas dos empréstimos iriam exclusivamente para desenvolver a indústria moçambicana da pesca do atum e gerar receitas para pagar as dívidas, disse a SEC.

No total, o banco está a pagar 547 milhões de dólares em penalidades, multas, e expulsão, como parte de resoluções coordenadas com as autoridades civis e criminais dos EUA e britânicas.

O escândalo da "dívida oculta" de Moçambique resultou de empréstimos no total de 2 mil milhões de dólares em 2013 e 2014 a três empresas públicas para financiar um projecto de pesca do atum, dívida que o governo escondeu do parlamento. Quando finalmente surgiram pormenores em 2016, doadores como o Fundo Monetário Internacional cortaram a ajuda financeira.

Veja imagens da audição de Ndambi Guebuza

01:34

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema