O Governo cabo-verdiano assinou um acordo com a multinacional chinesa Huawei para instalar um sistema de videovigilância nas principais cidades do país. Mas criminologista chama a atenção para redução da privacidade.
Publicidade
O Governo cabo-verdiano assinou na segunda-feira (12.07), na Cidade da Praia, um acordo com a empresa chinesa de telecomunicações Huawei para a implementação do projeto Cidade Segura.
O Executivo pretende diminuir a criminalidade no país em 30 % com a instalação de um sistema de videovigilância nas cidades da Praia (ilha de Santiago), Mindelo (São Vicente), Santa Maria (Sal) e Sal Rei (Boa Vista).
Criminalidade
Nos últimos anos, tornaram-se frequentes os assaltos na capital cabo-verdiana. No último fim-de-semana, por exemplo, uma professora do ensino secundário denunciou na televisão pública nacional que foi assaltada em Achada de Santo António, o maior bairro da cidade, na presença de dois filhos menores.
Na semana passada, durante a comemoração do Dia da Independência Nacional, o Presidente da República chamou a atenção para o sentimento de insegurança que afeta a população. Jorge Carlos Fonseca afirmou que a pequenez do país não compadece com a prevalência do medo e da existência de zonas e locais onde não se pode ir.
Para combater o fenómeno, o Governo cabo-verdiano apostou na instalação do sistema de videovigilância e na construção de um Centro de Comando Operacional, na Praia.
"Desde o início de 2017, registamos menos ocorrências todos os meses, mas é verdade que vamos tendo crimes mais violentos, e esta abordagem é para percebermos por que razão isto está a acontecer. Diria que também há grande sentimento de impunidade", afirmou o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha.
Não confundir "meios" com "impactos"
O criminologista João Santos diz, no entanto, que não se deve confundir os "meios" com os "impactos, em termos de resultados".
Numa entrevista à Rádio de Cabo Verde, o ex-Comandante Geral da Polícia Nacional sublinha que só "posteriormente" se poderá avaliar se o sistema de videovigilância contribuiu para a redução da criminalidade.
Santos entende que o projeto Cidade Segura deve ser acompanhado de outras medidas. "Tal como reclamamos muitas vezes de que as nossas cidades não têm muitos espaços verdes, esquecemos, por exemplo, que a criação de um espaço verde, se não for acompanhada de uma iluminação devida, pode transformar-se numa sombra, num lugar perigoso", afirmou.
Privacidade
Além disso, o criminologista adverte para uma possível redução da privacidade com a instalação do sistema de videovigilância. "Os dados, as imagens, os sons captados podem também ter um destino que não aquele a que está vinculado. O que muitas vezes acontece é que quem faz uso destas coisas tende a abusar, a bisbilhotice estará sempre por detrás", comenta o antigo Comandante Geral da Polícia."Os cabo-verdianos não irão perder a privacidade mas terão uma limitação, isto é óbvio", acrescenta.Mas oministro cabo-verdiano da Administração Interna, Paulo Rocha, garante que esta questão não se coloca.
"Não vejo questões de privacidade. Estamos a falar de vias públicas para a videovigilância, estamos a falar de ruas, avenidas e praças, lugares sujeitos a vigilância das forças de ordem nos termos legais. Estamos a acautelar tudo o que sejam direitos, liberdades e garantias individuais", assegurou Rocha.
Alguns cidadãos contactados pela DW preferiram não falar sobre o assunto por desconhecerem ainda os meandros e a amplitude do sistema de videovigilância.
O projeto, avaliado em cerca de 4,2 milhões de euros, prevê um sistema de alerta inteligente e de comunicação operacional integrado (voz, mensagens e dados).
Na primeira fase, o sistema será instalado nas ruas da Praia, até janeiro de 2018, para numa segunda fase, até ao final do ano próximo ano, chegar às vias públicas das ilhas de São Vicente, Sal e Boavista.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.