A China não está só interessada nos recursos naturais africanos. O país está a expandir a sua influência no continente.
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O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, termina esta quinta-feira (12.01) uma viagem a África. As visitas de Ano Novo ao continente já se tornaram quase numa tradição de Wang Yi, que, desta vez, passou pelo Madagáscar, Tanzânia, Zâmbia, República do Congo e Nigéria.
Na Tanzânia, por exemplo, o ministro prometeu consolidar a amizade e reforçar a cooperação; na Zâmbia, garantiu o reforço da cooperação industrial.
A China já superou há muito os Estados Unidos da América e as antigas potências coloniais europeias como o principal parceiro dos africanos. Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, só no primeiro semestre do ano passado foram assinados 25 novos acordos com países africanos, avaliados em 47 mil milhões de euros.
Em outubro, foi inaugurada uma linha férrea entre a Etiópia e o Djibuti, no leste de África, construída por empresas chinesas. Obras semelhantes estão em execução no Quénia e na Nigéria. Os projetos também servem os interesses de Pequim, integrando o plano da Nova Rota da Seda, que pretende expandir as rotas comerciais e tornar a China na mais forte economia mundial.
Capacetes azuis chineses
Além dos projetos de infraestruturas e de acordos sobre matérias-primas, Pequim está também a aumentar os seus esforços militares no continente africano. Estabilidade é a palavra-chave.
"A atual estratégia da China inclui o paradigma da segurança - e isso é novo", diz Angela Stanzel, especialista em assuntos chineses no Conselho Europeu para as Relações Internacionais, em Berlim. "Este papel reflete uma nova abordagem da China em assuntos globais e quanto aos seus interesses."
Enquanto membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a China tem atualmente soldados em sete das nove missões de paz da organização em África - mais do que qualquer outro membro do Conselho de Segurança da ONU.
Da China para África: dinheiro e capacetes azuis
Segundo Angela Stanzel, a China pretende, em primeiro lugar, proteger os seus cidadãos e investimentos em África e, em segundo, mudar a sua imagem.
"A China tinha uma imagem muito negativa, em particular em África. Tem sido criticada pelos países ocidentais, mas também por líderes africanos. O reforço deste tipo de esforços serve também para lançar uma imagem da China como um parceiro global responsável", afirma.
Pequim tem fornecido armas e ajuda económica a países africanos, sem prestar atenção a questões como governação democrática ou direitos humanos. "Já houve muitas violações no nosso país em termos de leis laborais, por exemplo, no setor mineiro", lembra Vince Chipatuka, analista político e económico da Zâmbia. "Há investidores chineses que exploram os nossos cidadãos, fazendo com que trabalhem mais tempo, muitas vezes, sem roupas de proteção e condições de trabalho."
Chipatuka entende que o Governo da Zâmbia deveria rever a sua cooperação com a China.
Por outro lado, Stanzel, do Conselho Europeu para as Relações Internacionais, entende que a China e a Europa podem aproveitar para reforçar os seus laços, por exemplo, em missões de paz ou na cooperação para o desenvolvimento em África.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
Foto: AP
Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
Foto: picture-alliance/Tong jiang
Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
Foto: picture-alliance/dpa
Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
Foto: Imago
Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
Foto: AFP/Getty Images
Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
Foto: Reuters
Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.