Da saúde à educação: Propostas para a diáspora são-tomense
20 de setembro de 2022Cada um dos candidatos tem propostas para convencer a diáspora, sobretudo nos setores da saúde e da educação, onde há mais problemas.
A viver em Portugal há duas décadas, Solange Salvaterra é a única mulher que concorre, pela primeira vez, no círculo da Europa ao cargo de deputada nas eleições legislativas de domingo, em representação do movimento BASTA.
A imigrante são-tomense manifesta-se inquieta particularmente em relação à situação dos doentes enviados para Portugal com Junta Médica, muitas vezes confrontados com problemas de alojamento por razões financeiras.
"Não vamos ficar à espera que o Governo nos ajude. Enquanto diáspora e enquanto povo solidário, vamos fazer a nossa parte e tentar contactar empresários são-tomenses, pessoas de boa vontade em Portugal, para ver se conseguimos reabilitar um apartamento e podermos alojar os doentes que estejam em situações mais preocupantes", defende.
"A Embaixada de São Tomé e Príncipe em Lisboa faz o que pode", reconhece a candidata do BASTA. "Muitas vezes esses doentes, inclusive pessoas com filhos, são postos no meio da rua durante a noite e a solução mais imediata que a Embaixada encontra é alojar esses doentes em pensões, em hostels e afins. Eu acredito que os são-tomenses estariam dispostos a ajudar nesse sentido, porque os doentes de Junta Médica somos todos nós."
Um centro cultural e um fundo de maneio
É um problema que precisa de solução, independentemente de quem ganhar as eleições, diz Solange Salvaterra. A candidata sugere ainda a criação de um Instituto da Diáspora, com objetivos diversos, além da ideia de um centro cultural de São Tomé e Príncipe.
Propõe igualmente a criação de um fundo de maneio, com a contribuição da comunidade e amigos dos são-tomenses, destinado a apoiar os estudantes com dificuldades diversas.
"Quando chegam aqui veem-se confrontados com a matrícula, com as propinas, com sítio para estar e ficam perdidos. Há uns que ainda conseguem trabalhar, conseguem matricular-se, conseguem pagar as propinas, mas outros não conseguem acabar o curso", lembra.
Jess Flander, a residir em Portugal há mais de 14 anos, é o candidato do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP-PSD). Também tem apresentado à comunidade são-tomense várias propostas. Em primeiro lugar, considera que há uma "clara necessidade" de institucionalizar as relações entre o Estado e a diáspora.
"O Estado tem de chamar a si essa responsabilidade de encarar a diáspora como um parceiro de desenvolvimento. Essa institucionalização é feita em três vertentes: económica, social e cultural", aponta.
O problema da Junta Médica
No domínio social, é na área da saúde que reside a maior dor de cabeça para a diáspora. Jess Flander pede ao Estado são-tomense que dialogue com as autoridades portuguesas para rever o acordo de Junta Médica de 1977, tendo em conta a dimensão crescente e alarmante dos problemas.
"Há uma necessidade clara também do Estado são-tomense procurar uma parceria junto das entidades portuguesas, de forma a mitigar esse problema da Junta Médica. Desde logo, o Estado tem que chamar também à responsabilidade a própria Segurança Social."
A situação dos estudantes são-tomenses em Portugal está igualmente na agenda do candidato. "Muitos alunos saíram para estudar e formar – são investimentos do Estado. Mas, durante esse tempo, quantos voltaram? Poucos. Há que haver um acompanhamento claro desses estudantes", defende.
A DW tentou ouvir os outros quatro candidatos, mas não foi possível o contacto.
O analista são-tomense Danilo Salvaterra questiona as candidaturas do círculo da diáspora, das quais será eleito um deputado para a Europa e outro para África.
"Acho que nem os próprios compreenderam ainda ao que se candidatam. Vamos apenas aguardar para ver, depois de eleitos, o que farão e em que condições? Porque nada disto nunca foi explicado", observa.
Regresso apoteótico de Trovoada
A poucos dias das eleições legislativas, autárquicas e regional, marcadas para domingo, Salvaterra considera que os partidos não foram capazes até agora de apresentar uma ideia exata do país para as próximas décadas.
O analista aponta, como exemplo, o regresso apoteótico a São Tomé do líder da Ação Democrática Independente (ADI), Patrice Trovoada, no último fim de semana. "Em primeiro lugar, deve ser visto como incapacidade do Executivo em funções de congregar os são-tomenses num projeto. Em segundo lugar, entendo como um fracasso de todas as outras lideranças do país, incluindo a própria ADI, que mantém refém o seu líder ausente."
Mesmo assim, Danilo Salvaterra considera "interessante" a capacidade do próprio Patrice Trovoada, apesar de ausente por quatro anos, de influenciar o eleitorado em comparação com os líderes presentes no território são-tomense.
Mas não lhe parece que a vitória da ADI seja tão evidente, ante a subida do MLSTP-PSD, partido no poder. "Tudo vai depender dos recursos que cada um destes dois partidos vier a disponibilizar às suas equipas de campanha", diz.
De acordo com as informações disponíveis, as mesas de voto no ciclo da Europa vão estar a funcionar, no próximo domingo, em Portugal, França, Reino Unido e Luxemburgo.