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Daimler rompe com parceiro comercial em Angola

28 de março de 2011

A fabricante alemã dos automóveis da marca Mercedes não relaciona oficialmente o rompimento com relatório divulgado em 2010 pelo ativista angolano Rafael Marques, que denunciou corrupção e tráfico de influências.

Daimler comunicou decisão após vários meses de investigações sobre parceiros em AngolaFoto: DW

A empresa Daimler, na Alemanha, grupo ao qual pertence a Mercedes-Benz, decidiu terminar a cooperação com a Demimplex, empresa belga que detinha a licença de comercialização dos veículos em Angola, no Ruanda e em Madagáscar. Isto significa também que Daimler rompe indiretamente as relações com a representante da Mercedes em Angola, a AutoStar Angola.

Esta empresa, por sua vez, importava os automóveis da marca Mercedes, em regime de exclusividade, da Demimpex, empresa belga que por sua vez cooperava directamente com a Daimler da Alemanha.

A decisão foi comunicada pela Daimler à Deutsche Welle depois de vários meses de investigações da empresa alemã sobre as práticas comerciais dos seus parceiros.

Membros do governo fariam parte da AutoStar Angola

O ativista político Rafael MarquesFoto: privat

Em Novembro do ano passado, Rafael Marques, ativista angolano dos direitos humanos, tinha publicado uma investigação com várias denúncias de corrupção e de tráfico de influências.

De acordo com Rafael Marques, a AutoStar Angola tem a participação de vários membros do governo: o General Manuel Hélder Vieira Dias Júnior "Kopelipa", chefe da Casa Militar da Presidência da República, com 40% do capital; e Manuel José Van-Dúnem, director-adjunto do Gabinete de Reconstrução Nacional, com 10%.

Segundo disse Rafael Marques em novembro de 2010, em entrevista à Deutsche Welle, trata-se de um conflito de interesses, já que o Estado angolano é um dos maiores clientes da marca alemã. “A lei angolana não permite que dirigentes se engajem em negócios que tenham influências ou poder de decisão”, explicou o ativista. “E acontece que a aprovação dos contratos, por exemplo, para viaturas destinadas ao próprio Presidente da República compete ao general Kopelipa como o seu chefe máximo de segurança”, destacou.

O relatório apontou ainda outra irregularidade: o espaço ocupado pela AutoStar Angola, em Viana, Luanda, situa-se numa designada Zona Económica Especial, sob implementação e jurisdição do Gabinete de Reconstrução Nacional. Este órgão estava até 2010 sob a tutela do General Manuel Hélder Vieira Dias Júnior "Kopelipa", e está agora nas mãos de Manuel José Van-Dúnem. Rafael Marques classifica isto como corrupção. “A zona onde está a Mercedes é um terreno que foi espoliado aos camponeses para servir ao projeto de reconstrução nacional, mas está sendo utilizado para fins privados”, afirmou Marques.

Membros do governo ganhariam dinheiro de forma ilícita, segundo ativista

Marques denunciou conflito de interesses: "aprovação de contratos para viaturas destinadas ao Presidente José Eduardo dos Santos (foto) são aprovadas por chefe de Segurança"Foto: AP

No relatório divulgado em novembro, Rafael Marques refere que os dois membros do governo e acionistas da empresa incorrem em actos conducentes ao recebimento ilícito.

A Deutsche Welle tentou ouvir a AutoStar Angola, mas a empresa não deu resposta em tempo útil. A Daimler, por sua vez, não quis prestar declarações adicionais. A firma alemã não relaciona oficialmente a divulgação do relatório de Rafael Marques com a quebra da cooperação com a belga Demimpex, por sua vez associada à AutoStar Angola.

Mas o facto é que quatro meses após a divulgação do relatório, a empresa detentora da marca Mercedes anunciou o fim de relações com a Demimpex, assim rompendo também as relações comerciais com a AutoStar Angola.

Autora: Glória de Sousa / Tiago Scheuer

Revisão: Renate Krieger / António Rocha

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