Daviz Simango é o candidato do MDM às eleições de 2019
Sitoi Lutxeque (Nampula)
9 de dezembro de 2017
O presidente da terceira força política de Moçambique foi reeleito no cargo pela maioria dos membros reunidos no II congresso em Nampula, que terminou na madrugada de sábado (09.12).
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Daviz Simango, que concorria para à sua própria sucessão, foi reeleito por unanimidade por 82 dos 84 membros do Conselho Nacional do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), durante o II congresso que terminou na madrugada deste sábado (09.12), na cidade de Nampula, norte de Moçambique. Assim, o também edil da cidade da Beira foi indicado por inerência como candidato às eleições presidenciais de 2019.
Uma das novidades foi o aumento de integrantes do Conselho Nacional, saindo dos 60 para 84 membros. Os delegados ao II Congresso do MDM escolheram também os 11 membros da comissão política.
Quem poderá também manter o cargo ao mais alto nível é Luís Boavida, atual secretário-geral. Este cargo, refira-se, tem sido por indicação do próprio presidente do partido, de acordo com os estatutos.
Aliás, este instrumento foi revisto durante este congresso, mas a proposta de alguns membros sobre a eleição do secretário-geral ficou sem efeito, após a maioria ter decidido que as coisas se mantivessem.
"Luís Boavida, na qualidade de secretário-geral do MDM, trouxe muitas graças para o partido, muitas vitórias, união. Foi sobretudo um homem incansável, que galgou todo o território nacional criando esperança aos moçambicanos, rumo a um país para todos. E, claro, que mantem [funções]'', disse à DW África, Sande Carmona, o porta-voz do partido.
Congresso "produtivo"
O congresso na cidade de Nampula decocorreu num dos momentos mais sombrios da história da terceira maior força política de Moçambique, precipitado pelo assassinato de Mahamudo Amurane, que era autarca de Nampula e do MDM.
Os membros do MDM garantem que o congresso promoveu a união e coesão interna. Os debates, segundo os congressistas, foram abertos e frontais.
Os membros do partido são unanimes em afirmar que o "congresso foi bastante produtivo". "Durante os dias que cá [na cidade de Nampula] estivemos, debatemos assuntos para o bem do nosso partido e esperamos, com isso, conquistar bons resultados nas próximas eleições'', disse Adelaide Alves, delegada ao congresso em representação da província de Maputo.
O congressista representante da província de Inhambane, Reginado Julião, é também otimista quanto ao futuro da sua formação política. "Vamos continuar a governar os municípios em nosso poder e alcançaremos os outros. Aqui [no congresso] saímos fortificados'', garantiu Reginado Julião.
Luciano Tarieque, delegado do MDM na cidade de Nampula, disse estar esperançado em bons resultados, a começar pelas eleições intercalares naquele município a 24 de janeiro do ano.
"Estratégias ocultas"
O II congresso da segunda maior força da oposição moçambicana permitiu traçar "estratégias ocultas" a pensar nas eleições autárquicas de 2018 e legislativas e presidenciais de 2019. São estratágias que talvez "possam fazer com que o MDM ganhe mais municípios" e continue a governar naqueles em que está no poder, referiu Sande Carmona, o porta-voz do partido, sem revelar do que realmente se trata.
O MDM governa os municípios da Beira, a segunda maior cidade do país, Nampula, a terceira principal cidade, Quelimane, quarta cidade mais importante, e Gurué, interior da província da Zambézia.
Com as estratégias definidas no congresso, Sande Carmona espera que o MDM "tenha mais deputados na Assembleia da Republica e quiçá que Daviz Simago seja o próximo Presidente da República, em 2019". Atualmente, o MDM tem 17 dos 250 assentos na Assembleia da República.
O II congresso permitiu ao partido ganhar maturidade, acrescentou Sande Carmona. O MDM foi fundado em 2009 por Daviz Simango, depois de ter sido afastado da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).
Moçambique: Assassinato de figuras incómodas é uma moda que veio para ficar
O preço de fazer valer a verdade, justiça, conhecimento ou até posições diferentes costuma ser a vida em Moçambique. A RENAMO é prova disso, no pico da tensão com o Governo da FRELIMO perdeu dezenas de membros.
Foto: BilderBox
Mahamudo Amurane: Silenciada uma voz contra corrupção e má governação
O edil da cidade de Nampula foi morto a tiros no dia 4 de outubro de 2017. Insurgia-se contra a má gestão da coisa pública e corrupção no seu Município. Foi eleito para o cargo de edil através do partido MDM. Embora mais de sessenta pessoas já estejam a ser ouvidas pela justiça não se conhecem os autores do crime.
Foto: DW/Nelson Carvalho Miguel
Jeremias Pondeca: Uma voz forte nas negociações de paz que foi emudecida
Foi alvejado mortalmente a tiro por homens desconhecidos no dia 8 de setembro de 2016 em Maputo quando fazia os seus exercícios matinais. O assassinato aconteceu numa altura delicada das negociações de paz. Pondeca era membro da Comissão Mista do diálogo de paz, membro do Conselho de Estado, membro sénior da RENAMO e antigo parlamentar. Até hoje a polícia não encontrou os autores do crime.
Foto: DW/L. Matias
Manuel Bissopo: O homem da RENAMO que escapou por um triz
No dia 4 de janeiro de 2016 foi baleado depois de uma conferência de imprensa do seu partido na Beira. Bissopo tinha acabado de denunciar alegados raptos e assassinatos de membros do seu partido e preparava-se para se deslocar para uma reunião da força de oposição quando foi baleado. A polícia moçambicana até hoje não encontrou os atiradores.
Foto: Nelson Carvalho
José Manuel: Uma das caras da ala militar da RENAMO que se apagou
Em abril de 2016 este membro do Conselho Nacional de Defesa e Segurança em representação da RENAMO e membro da ala militar do principal partido da oposição foi morto a tiro por desconhecidos à saída do aeroporto internacional da Beira. A questão militar é um dos pontos sensíveis nas negociações de paz. Os assassinos continuam a monte.
Foto: DW/J. Beck
Marcelino Vilanculos: Assassinado quando investigava raptos
Era procurador foi baleado no dia 11 de abril de 2016 à entrada da sua casa, na Matola. Marcelino Vilanculos investigava casos de rapto de empresários que agitavam o país na altura. O julgamento deste assassinato começou em outubro de 2017.
Foto: picture-alliance/Ulrich Baumgarten
Gilles Cistac: A morte foi preço pelo conhecimento divulgado?
O especialista em assuntos constitucionais de Moçambique foi baleado por desconhecidos no dia 3 de março de 2015 na capital Maputo. O assassinato aconteceu após uma declaração que fortaleceu a posição da RENAMO de gestão autónoma na sua querela com o Governo da FRELIMO. Volvidos mais de dois anos a sua morte continua por esclarecer.
Foto: A Verdade
Dinis Silica: Assassinado em circunstâncias estranhas
O juiz Dinis Silica também foi morto a tiro por desconhecidos, em 2014, em plena luz do dia, quando conduzia o seu carro na capital moçambicana. Na altura transportava uma avultada quantia de dinheiro, cuja proveniência é desconhecida. O juiz da Secção Criminal do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo investigava igualmente casos de raptos. Os assassinos continuam a monte.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Siba Siba Macuacua: Uma morte brutal em nome da verdade
O economista do Banco de Moçambique foi atirado de um dos andares do prédio sede do Banco Austral no dia 11 de agosto de 2001. Na altura investigava um caso de corrupção na gestão do Banco Austral. Siba Siba trabalhava na recuperação da dívida de milhões de meticais, resultante da má gestão do banco. Embora tenha sido aberta uma investigação sobre esta morte ainda não há esclarecimentos até hoje.
Foto: DW/M. Sampaio
Carlos Cardoso: O começo da onda de assassinatos
Considerado o símbolo do jornalismo investigativo em Moçambique, Carlos Cardoso foi assassinado a tiros a 22 de novembro de 2000. Na altura investigava a maior fraude bancária de Moçambique. O seu assassinato foi interpretado como um aviso claro aos jornalistas moçambicanos para que não interferissem nos interesses dos poderosos. Devido a pressões internacionais o caso chegou a justiça.