Líder do MDM, segunda maior força da oposição moçambicana, tece críticas ao processo eleitoral e à atuação dos observadores internacionais. Daviz Simango diz que o STAE não tem serventia por servir interesses privados.
Daviz Simango: "Não se pode admitir que as pessoas governem à força, à revelia da vontade dos eleitores"Foto: DW/A. Sebastiao
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Em entrevista à DW África, o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, critica a atuação do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) nas autárquicas de 10 de outubro.
O edil, que se recandidatou a um quarto mandato na Beira - onde a terceira força parlamentar conseguiu 45,77% dos votos -, afirma também que os observadores internacionais, no atual formato, não estão em condições de observar as eleições. "Continuam a ser uma gota no meio do oceano", critica Simango.
DW África: Está satisfeito com o processo de votação?
Daviz Simango (DS): De um modo geral, temos de continuar a olhar com certa seriedade em relação aos nossos processos eleitorais em Moçambique, sobretudo aquilo que diz respeito ao funcionamento e comportamento dos órgãos eleitorais. Mais uma vez, convivemos com o STAE, um órgão ao serviço privado. E isso continua a prejudicar a manifestação dos eleitores, a manifestação daqueles que procuram de uma forma livre ir votar.
Daviz Simango: Observadores são "uma gota no meio do oceano"
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Assistimos a eleitores sem nome nas listas dos cadernos, impedidos de votar. Assistimos a eleitores coagidos a receber um, dois, três boletins de voto em simultâneo. Assistimos a alguns membros de mesas a ter um comportamento inaceitável num Estado de direito. Portanto, enquanto esses procedimentos negativos e nocivos persistirem, naturalmente não há de encontrar na minha pessoa uma satisfação.
DW África: À semelhança da RENAMO, o MDM também sentiu que foi prejudicado nalguns municípios?
DS: Claro, fomos prejudicados. Temos o caso concreto e absurdo do Gurué. Desde o tempo da campanha, havia disparos no Gurué, no dia da votação também. Portanto, não se pode admitir que as pessoas governem à força, à revelia da vontade dos eleitores. Essa forma de querer assumir o poder desmotiva o cidadão, promove a abstenção e cria o desinteresse do cidadão na vida política e social do seu país, o que pode ser grave por prejudicar as futuras gerações, que irão vivendo esta angústia dos mais velhos, ou dos que têm idade e são cidadãos eleitores, e acharem que é um precedente e que é assim a vida em Moçambique.
DW África: Em relação à Polícia da República de Mocambique (PRM), acha que este organismo cumpriu cabalmente as suas funções ou também serviu interesses privados, à semelhança do que aconteceu com o STAE, de acordo com o MDM?
DS: Temos várias situaçõesem que a polícia atuou. Nalgumas áreas, a polícia tentou comportar-se. Mas, no fim do dia, fica a certeza onde a polícia prejudicou. A polícia tem de abster-se, tem de ajudar. Mas não quer dizer que todos os elementos da polícia são maus, há pessoas que são conscientes e conseguiram, por iniciativa própria, travar algumas brincadeiras. No entanto, ainda existe alguma polícia corrupta.
Daviz Simango votou na Beira
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DW África: Neste processo todo, o parecer dos observadores internacionais quase não foi ouvido, ficou diluído no meio das denúncias feitas pelas organizações da sociedade civil que estiveram a monitorizar o processo e até de cidadãos comuns. Qual é o seu parecer sobre a atuação dos observadores internacionais?
DS: Eu costumo dizer que os observadores internacionais continuam a ser uma gota no meio do oceano.Eu, por exemplo, recebi três da União Europeia aqui na Beira. O que são três para uma cidade como esta, para o número de eleitores que nós temos? É uma gota no oceano. Eles vão falando sobre o que viram e o que não viram, mas não estão em condições de fazer observação. Portanto, não vale a pena ter uma observação diminuta, uma observação de três pessoas, por exemplo. Essa observação, para mim, está muito longe de ter essa designação de observação. Observação seria ter em cada posto de votação alguém de um organismo internacional, para exatamente relatar os factos que aconteceram. Agora, se temos três para as diversas quantidades de mesas que temos, o que é que esses três fazem? Não fazem nada. Penso que é um investimento da União Europeia, podia ter investido noutras áreas em vez de mandar pessoas que estão ali para inglês ver. Portanto, não estão em condições de observar.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.