De quatro municípios que conquistou aos poucos, hoje o MDM só ficou com um: Beira. Mesmo com este resultado das eleições autárquicas de 10 de outubro, a segunda maior força da oposição diz que está de cabeça erguida.
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Para um partido relativamente novo que via a sua ascensão nas eleições municipais correr de feição, as quintas eleições autárquicas são vistas como um golpe duro. Mas o visado não partilha de tal visão negativa. A DW África entrevistou o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, sobre o desempenho da sua formação e também sobre uma possível união entre o MDM e a RENAMO na Matola, que poderia desencadear a realização de novas eleições.
DW África: As eleições autárquicas aconteceram à luz da nova Lei Eleitoral e foram marcadas pelo regresso da RENAMO à corrida. Que lições tirou o MDM desse momento particular?
Daviz Simango (DS): Eu sou contra essa Lei de Descentralização. Nós, como MDM, somos contrários, porque essa nova Lei anula o direito adquirido dos cidadãos e amputa a democracia que os moçambicanos tinham conquistado, que era de eleger diretamente os presidentes dos conselhos municipais e as assembleias. Portanto, hoje o que canta é o partido. É preciso olhar para os partidos tradicionais, eles já têm os nomes espalhados por tudo o que é canto. À partida, levam vantagem em relação a outros partidos, prejudicando-os. Portanto, hoje em dia vai ser difícil termos novos atores políticos, pessoas que se possam expressar livremente e à vontade as suas ideias. Com esta Lei de Descentralização estamos numa situação em que as minorias governam, é um governo sem autoridade porque é de minorias. Mas, enfim, foi isso que entenderam e projetaram e o MDM na altura votou na Assembleia da República em nome da paz, tudo valeu para o MDM por um sacrifício em nome da paz, foi o que nós fizemos. Agora, esperamos de facto que consigam manter a paz, porque essas nódoas de comportamento podem em algum momento trazer à ribalta os velhos conflitos, numa altura em que queremos sossego no nosso país.
DW África: O MDM desde que começou a participar neste tipo de eleições conseguiu ter, aos poucos, quatro municípios, mas desta vez conseguiu apenas um. Como é que o seu partido vê esta perda de municípios?
DS: Retirando esse processo de excepção que ocorreu, o MDM tinha quatro e ficou com um, é um processo democrático, um processo dinâmico, há que ir à luta conquistar mais autarquias nas próximas oportunidades. Mas não é o pior mal que existe no mundo, a RENAMO já teve cinco autarquias e ficou com zero. A FRELIMO já teve 53 autarquias e foi perdendo. Isto é um processo e é preciso compreender a dinâmica do eleitorado. Portanto, estamos de cabeça erguida e temos muito orgulho de termos vencido a Beira de forma retumbante e forte e estamos satisfeitos. Mas estamos preocupados e temos de trabalhar para melhorar a nossa performance, para nas próximas eleições municipais termos os resultados que pretendemos e ganhar novas autarquias e isso vamos conseguir fazer.
DW África: Há uma situação crítica no município da Matola: a RENAMO contesta os resultados que deram vitória à FRELIMO. Mas há a possibilidade de a RENAMO e o MDM se unirem na Assembleia do município e votarem duas vezes contra a proposta de orçamento e, assim, fazer cair a Assembleia, o que obrigaria à convocação de novas eleições. O MDM teria interesse em proporcionar esta queda da Assembleia?
MDM confia em melhores resultados nas próximas autárquicas
DS: Já tive a oportunidade de ser presidente de um município sem bancada e consegui trabalhar. Agora, é preciso ver se os orçamentos que aparecem são do interesse dos munícipes da Matola ou não. Por mim, temos de olhar para os interesses coletivos, se jogam ou não. A governação não pode ser virada para interesse partidários, o MDM tem de olhar para o que está correto, o que é dos interesses dos munícipes da Matola e o que for contra os seus interesses é natural que o MDM chumbe. A governação não pode ser virada para interesses privados-partidários em prejuízo dos interesses coletivos das populações onde estamos a governar.
DW África: Coloco esta questão no contexto dos supostos ilícitos eleitorais que terão acontecido nesta autarquia...
DS: O MDM enquanto partido político no processo de governação colocará sempre em primeiro lugar os munícipes e não os interesses privados do MDM.
Autárquicas: Quem venceu nas principais cidades de Moçambique
Os resultados eleitorais das eleições autárquicas moçambicanas dão a vitória ao partido no poder em 44 municípios. A RENAMO, a principal força da oposição, venceu em sete autarquias. O MDM conquistou apenas a Beira.
Foto: DW/S. Lutxeque
Eneas Comiche, edil da capital entre 2004 e 2008, venceu em Maputo
Segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE) e a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) saiu como grande vencedora em Maputo com 56,95% dos votos, contra os 36,43% da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO). O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) foi a terceira força política mais votada com 5,13%.
Foto: DW/R. da Silva
Com margem estreita, Calisto Cossa conquista segundo mandato na Matola
No município da Matola, a FRELIMO foi considerada vencedora com 48,05% dos votos, contra os 47,28% da RENAMO, uma diferença inferior a um ponto percentual. A vitória da FRELIMO foi, no entanto, contestada pela oposição. Membros da Comissão Distrital de Eleições disseram mesmo que houve fraude eleitoral.
Foto: DW/Leonel Matias
Emídio Xavier, da FRELIMO, eleito pelo município de Xai-Xai
Na província de Gaza, concretamente na cidade de Xai-Xai, a FRELIMO venceu com 81,21% dos votos contra apenas 12,36% da RENAMO. Em 134 mesas, Xai-Xai registou 53,90% de votos válidos e uma abstenção de 43,86%.
Foto: DW/C. Matsinhe
Benedito Guimino, da FRELIMO, reeleito em Inhambane
Na cidade de Inhambane, capital provincial, a FRELIMO arrasou com 79,50% contra os 15,55% da RENAMO. Sobraram apenas 4,95% para o MDM. Inhambane contou com 65 mesas de voto e uma abstenção de 35,14%.
Foto: DW/L. da Conceição
Daviz Simango, líder do MDM, mantém-se na Beira
Na cidade da Beira, província de Sofala, o MDM conseguiu a única vitória neste sufrágio. A terceira força parlamentar arrecadou 45,77% dos votos. Em segundo lugar, ficou a FRELIMO com 29,26%. Em terceiro, surge a RENAMO com 24,57%. Neste município registou-se uma abstenção de 36,65%.
Foto: DW/A. Sebastiao
João Ferreira foi aposta da FRELIMO na cidade de Chimoio
Em Chimoio, província de Manica, a FRELIMO obteve maioria absoluta com 52,51% da votação. A RENAMO garantiu 44,51% dos votos válidos. Nesta cidade do centro do país havia 220 mesas e, curiosamente, não foram contabilizados quaisquer votos nulos ou brancos.
Foto: DW/M. Muéia
Manuel de Araújo reeleito em Quelimane - desta vez pela RENAMO
Na província da Zambézia, cidade de Quelimane, a RENAMO venceu com 59,17% da votação contra os 36,09% arrecados pelo partido no poder, a FRELIMO. Quelimane com 168 mesas de votos registou uma taxa de abstenção de 34,72%. Do total de votos, 61,39% foram considerados válidos.
Foto: picture-alliance/dpa
César de Carvalho volta à edilidade de Tete, que liderou entre 2004 e 2013
Na província de Tete, na cidade com o mesmo nome, a FRELIMO levou a melhor com 54,49% contra os 43,02% da RENAMO, num universo de 57,04% votos considerados válidos. Nesta província do Centro Norte de Moçambique havia 184 mesas de voto.
Foto: DW/A.Zacarias
RENAMO vence em Nampula com atual edil Paulo Vahanle
Em Nampula, a RENAMO obteve mais votos do que o partido no poder. 59,42% dos munícipes votaram no principal partido da oposição, contra os 32,20% que votaram na FRELIMO. O MDM surge em terceiro com 6,23%. Nesta cidade contabilizaram-se 196.230 votos válidos, o que corresponde a 57,30% do total da votação. Em Nampula havia 456 mesas de voto.
Foto: DW/S. Lutxeque
FRELIMO vence no município de Lichinga
Na cidade de Lichinga, na província do Niassa, a FRELIMO ganhou com 51,93% contra os 45,19% da RENAMO. O MDM garantiu o terceiro posto com apenas 2,88%. A abstenção situou-se nos 41,91%.
Foto: DW/M. David
Em Pemba, venceu Florete Simba Motarua da FRELIMO
Na cidade de Pemba, província de Cabo Delgado, a vitória foi alcançada pela FRELIMO que arrecadou 54,21% dos votos. A RENAMO não foi além dos 39,01%. Pemba com 134 mesas de votos contabilizou 56,23% de votos válidos. A taxa de abstenção nesta cidade nortenha foi de 40,87%.