Durante duas horas, os candidatos tiveram a oportunidade de expor as suas ideias na rádio e televisão. Debate desta quinta-feira (26.12) foi um dos eventos políticos mais seguidos da história democrática da Guiné-Bissau.
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Os dois candidatos na segunda volta das eleições presidenciais estiveram frente a frente, nesta quinta-feira (26.12), num debate público a 24 horas antes do encerramento da campanha eleitoral.
Foi um dos debates políticos mais seguidos da história democrática da Guiné-Bissau. Mais de uma dezena de rádios estiveram em cadeia e transmitiram o embate que aconteceu um dia antes do término do período de campanha eleitoral para a segunda volta das presidenciais, marcadas para 29 de dezembro.
Domingos Simões Pereira, do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), e Umaro Sissoco Embaló, do Movimento para Alternância Democrática (MADEM G-15), protagonizaram um debate intenso. Durante duas horas, Sissoco Embaló e Simões Pereira abordaram assuntos de interesse público, mas o encontro teve momentos marcados por acusações e desmentidos.
Antagonismo natural
Durante a campanha eleitoral, as duas principais forças políticas do país confirmaram uma relação antagónica que talvez possa ser explicada pela génese do próprio MADEM G-15, um partido criado por dissidentes do PAIGC.
O debate confirmou a elevação de tom dos candidatos verificada na reta final de campanha eleitoral. Sissoco Embaló acusou Simões Pereira de atos de corrupção, suposto envolvimento com o tráfico de drogas e de querer dividir o país. O candidato do PAIGC negou as acusações e pediu para os guineenses avaliarem quem realmente empregava a “retórica da divisão”.
Os candidatos sugeriram no debate um tema que deverá ser aprofundado nos próximos anos : o sistema de Governo ideal para a Guiné-Bissau. Vigora no momento o semipresidencialismo, no qual o Presidente partilha o poder Executivo com um primeiro-ministro e um gabinete.
Para Simões Pereira, o sistema semipresidencialista tem “nível de democracia talvez mais avançado”, porque há três poderes a prestarem contas. O candidato do PAIGC considera que o sistema presidencialista “talvez seja mais simplificado, porque há vários ingredientes para que o sistema seja democrático”.
“Quando você tem uma taxa de analfabetismo e de pobreza tão acentuadas, a capacidade de os eleitores exercerem seus direitos democráticos de forma livre e transparente pode ser mais fácil de se corromper”, disse o candidato do PAIGC.
Sissoco Embaló defendeu que o problema não está no sistema de Governo, mas nas pessoas que gerem o modelo. “Disse a vários chefes de estado que o nosso sistema é um dos melhores, a questão são os homens. Funcionou em Cabo Verde, em Portugal e em São Tomé e Príncipe. Há choques institucionais, mas o nosso sistema, com o pendor parlamentar, não exclui o Presidente da República das suas prerrogativas constitucionais”, afirmou.
Forças Armadas e política externa
Domingos Simões Pereira defendeu a reforma as Forças Armadas, mas enfatizou que o Presidente da República deve colaborar para a dignificação dos militares.
A manutenção ou exoneração do atual chefe do Estado Maior, General Biaguê na Ntam, não foi comentada por nenhum dos candidatos. Umaro Sissoco Embaló destacou que, se for eleito, esse tema será abordado pelos órgãos competentes caso haja necessidade.
Debate esquenta disputa eleitoral na Guiné-Bissau
Sobre a política externa guineense, Sissoco Embaló defendeu a conlusão da carreira de diplomata, enquanto Domingos Simões Pereira disse que tem que se definir a política externa com base em grandes eixos e se criar competências nacionais para representar o país no exterior.
Duas visões diferentes
O analista político Luís Vaz Martins vê diferenças acentuadas entre os dois candidatos. Martins acredita que se trata de políticos que não têm a mesma plataforma.
“São totalmente diferentes, e ficou claro que não têm qualquer base para comparação, no sentido da compreensão do nosso sistema político e no sentido da própria dignificação perante seus pares, a sub-região e a nível internacional”, avalia Martins.
Apesar dos critérios previamente definidos pela organização do debate - no qual se tinha acordado que deveria decorrer em português - o candidato Sissoco Embaló optou por falar crioulo, a língua nacional do país. Já Simões Pereira respondia às questões em português, e replicava o seu adversário político em crioulo.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.