Dedan Kimathi: O heróico combatente pela liberdade do Quénia
23 de agosto de 2020Nascimento: 31 de outubro de 1920, na aldeia de Thege, perto de Nyeri, no centro do Quénia. Dedan Kimathi entrou para a escola primária aos 15 anos de idade, tendo depois estudado na Escola Secundária da Missão da Igreja da Escócia na região. Mais tarde abandonou a escola.
Kimathi, cujo pai morreu antes dele nascer, foi à escola durante o período colonial em condições extremamente difíceis. No entanto, os seus registos escolares mostram que era excecionalmente inteligente. Era particularmente bom em inglês e poesia e um fervoroso membro do clube de debates.
No entanto, e embora Kimathi fosse um bom aluno, era conhecido por ser teimoso e rebelde. Alguns historiadores justificam a sua rebeldia não ao seu ódio pelo domínio branco, mas ao tratamento injusto que lhe foi dado pelos negros. Os seus companheiros de teatro apelidaram-no de "Njangu", uma palavra Kikuyu que significa "rude e traiçoeiro". Acabou por ser expulso da escola por indisciplina, em 1944.
A que grupo étnico pertencia Dedan Kimathi?
Kimathi pertencia ao clã Ambui, um dos nove clãs que compõem os Kikuyu, o maior grupo étnico do Quénia, e que se concentra principalmente na parte central do país. Jomo Kenyatta, o Presidente fundador do Quénia, também era membro do grupo étnico Kikuyu. Alguns historiadores argumentam que Kenyatta e Kimathi não concordavam sobre o caminho que o Quénia devia seguir rumo à independência. Enquanto Kenyatta defendia uma abordagem sem violência, Kimathi era da opinião de que só as armas poderiam garantir a independência do país.
Como é que Dedan Kimathi se transformou num lutador pela liberdade?
Kimathi tentou a sua sorte em vários empregos: foi escriturário, cuidador de porcos e passou também pelo ensino – muito graças ao domínio que tinha da língua inglesa. Mas já nesta altura, durante a juventude, o modo como os regentes coloniais dirigiam o país não lhe agradava.
Por volta de 1951, juntou-se a outros combatentes da liberdade do Quénia num movimento de independência armada, que mais tarde ficou conhecido como Mau Mau. Kimathi ascendeu rapidamente às fileiras deste movimento e começou a administrar o ritual obrigatório do juramento dos novos membros. Em 1952, quando a administração britânica declarou o estado de emergência no país, Kimathi fugiu para a floresta perto do Monte Quénia. Ele era considerado o mais temido dos três "marechais" que lideravam o movimento. Como parte de uma unidade chamada Conselho de Defesa do Quénia, iniciou a organização de ataques armados contra o governo colonial britânico.
Qual é a história por detrás do movimento Mau Mau?
O movimento Mau Mau foi criado com o objetivo de expulsar os colonialistas brancos que haviam ocupado as terras que pertenciam aos quenianos. Inicialmente, os combatentes deste movimento eram sobretudo homens da etnia kikuyu, que foi a quem mais territórios foram retirados. Mas, mais tarde, os Meru, Embu, Kamba e outros grupos étnicos também se juntaram à luta.
Não se sabe ao certo como surgiu o termo "Mau Mau". Mas depois de alguns anos de atividade passou a significar: "Mzungu arudi Ulaya, mwafrika apate uhuru", uma frase suaíli que significa: "Que o estrangeiro regresse à Europa, para que os africanos possam recuperar a independência."
Os combatentes agiam com base num juramento que os vinculava aos objetivos do movimento. Mais tarde, vários ex-membros afirmaram que muitos eram obrigados a inscrever-se. A revolta instalou o medo tanto nos colonos britânicos como nos quenianos, que foram acusados de alegadas traições à causa do movimento e de colaboração com os colonos.
Quantas pessoas morreram durante a revolta Mau Mau?
Os registos oficiais que constam dos arquivos nacionais do Quénia mostram que mais de 10.000 quenianos foram mortos pelas forças de segurança coloniais britânicas e quase 50.000 foram detidos depois de a administração colonial ter declarado o estado de emergência, em outubro de 1952. O governo colonial britânico também levou a cabo 1.090 execuções, o número mais alto de que há registo em tempo de guerra por parte do Império Britânico. Várias centenas de pessoas, na sua maioria quenianos, foram alegadamente mortas pelos combatentes Mau Mau.
Faleceu: a 18 de fevereiro de 1957. O autoproclamado Marechal Dedan Kimathi foi capturado, a 21 de outubro de 1956, na sequência de uma caça ao homem liderada por Ian Henderson, um oficial dos serviços secretos britânicos, mas não foi ele que o apanhou, apesar de ter anunciado a oferta de uma recompensa a quem capturasse Kimathi. No entanto, o "Marechal" foi capturado depois de ter sido baleado por dois seguranças pertencentes a uma milícia de auto-defesa do seu próprio grupo étnico Kikuyu. Após a sua detenção, Kimathi foi rapidamente levado a julgamento e enforcado a 18 de fevereiro de 1957.
Em entrevista à DW, Margaret Gachihi, historiadora queniana cujo trabalho se centra na luta pela liberdade no Quénia, afirma que Kimathi era uma espécie de pedra no sapato do poder colonial britânico.
"Ele era muito bom a fazer propaganda. Este é o Kimathi que esteve em dez sítios diferentes ao mesmo tempo. Muitos anos passaram e não sabemos ao certo quem ele era. É o Kimathi que enviou cartas ao Comissário Provincial [PC] dizendo que queria a sua cabeça, etc., etc., e assinou Marechal de Campo Dedan Kimathi".
Após ter sido detido, Kimathi foi rapidamente levado a julgamento e enforcado a 18 de fevereiro de 1957. O seu corpo foi enterrado numa campa descaracterizada na prisão de alta segurança Kamiti, na periferia de Nairobi. Só em 2019 é que o Governo queniano anunciou finalmente que tinha encontrado a sua sepultura.
Críticos proeminentes como Jomo Kenyatta, que mais tarde se tornou o primeiro Presidente do Quénia, foram responsáveis pelo facto do seu legado ter sido subjugado durante muito tempo. Há quem diga que, se fosse vivo, teria sido Kimathi o pai fundador do Quénia, em vez de Kenyatta.
No entanto, a historiadora Margaret Gachihi é da opinião de que não se pode "comparar os combatentes pela Liberdade, porque cada um tinha a sua própria narrativa."
"[Jomo] Kenyatta - que esteve em sítios como Londres, Rússia, etc. - era um cidadão do mundo e, portanto, a sua perspetiva do que era a liberdade ou como poderia ser alcançada, do que era ou poderia vir a ser o nacionalismo, era muito diferente de Kimathi, para quem o mundo não era tão grande, mas que conhecia métodos que Kenyatta poderia ter usado ou conhecido, para levar a cabo a luta pela liberdade. É desta forma que gosto de avaliar, os dois eram diferentes, mas tinham o mesmo objetivo", afirma.
Em 2013, a Grã-Bretanha concordou em pagar uma indemnização de cerca de 20 milhões de libras às vítimas da rebelião Mau Mau.
Dedan Kimathi continua hoje a ser homenageado como um dos principais combatentes da liberdade do Quénia.
O parecer científico sobre este artigo foi dado pelos historiadores Lily Mafela, professor Doulaye Konaté e professor Christopher Ogbogbo. O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.