1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Deixou-me com as crianças e foi viver com outra"

3 de setembro de 2020

O confinamento devido à pandemia trouxe à tona conflitos latentes nos lares moçambicanos. Em Inhambane, 1,2 mil casos de violência doméstica foram registados em seis meses, e PRM contabilizou dois homicídios por semana.

Libyen Flüchtling gerettet von der NGO "Save the Children" Symbolbild
Foto: Reuters/S. Rellandini

Os serviços de segurança em Moçambique registaram aumento significativo de casos de violência doméstica durante a pandemia de Covid-19. Em Inhambane, por exemplo, o confinamento é apontado como a principal causa para o elevado número de agressões e abandono de mulheres pelos seus companheiros.

A chefe do Departamento de Atendimento à Família e Menores Vítimas de Violência (DAFMVV), Graça Arnaldo, diz que desentendimentos entre familiares se tornaram situações preocupantes durante o estado emergência instalado no país desde março.

O DAFMVV é um setor especial do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Inhambane. O órgão registou mais de 1,2 mil ocorrências desta natureza durante quase seis meses de confinamento forçado. Para Arnaldo, os casos de violência doméstica contra mulheres tendem aumentar na província do sul de Moçambique.

"Destes 1.291 casos, 1.078 têm carácter criminal e 27 são pequenos desentendimentos no âmbito familiar por falta de diálogo. Nesse tempo de confinamento, as famílias devem gerir os seus conflitos”, aconselha Graça Arnaldo.

Homens têm abandonado suas residênciasFoto: DW/L. da Conceição

Espancam e abandonam

Segundo a PRM, em média, estão a ocorrer dois assassinatos por semana em Inhambane, um número bastante elevado para uma comunidade que vive um regime de confinamento. 

Maria Cumbane foi vítima de violência doméstica e o marido acabou por abandonar a casa e os filhos para viver com outra pessoa.

"Acontece de ele sair de casa... Deixou-me com as crianças e foi viver com outra mulher. Não fui meter queixa. Ele não levou nada, saiu como vai ao serviço”, disse Cumbane.

Ana Guilundo conta que neste tempo de confinamento a convivência familiar é prejudicada pelo machismo e pela arrogância. Guilundo lembra que no inicio era difícil de encarar a situação.

"Existe aquele machismo. Cada um exprime ideias que não está de acordo com o outro, por isso que as pessoas acabam se matando. No início estava difícil, mas agora as pessoas acabaram se habituando. É a convivência social... Porque não se aguenta estar todo momento junto”.

Mulheres são as mais atingidas pela violênciaFoto: DW/Luciano da Conceicao

"Porrada e discussão"

Alzira Delfina contou a DW que o seu vizinho matou a companheira porque não gostava do seu comportamento. "[Ela] levava porrada e discutiam sempre, porque o marido não gostava daquilo que estava afazer. Não se separaram e o marido acabou por tirar-lhe a vida. Nós que íamos acudi-la”, lembra.

Ao nível da província de Inhambane, o gabinete para atender casos de violência doméstica apenas existem nas sedes distritais e alguns postos policiais. Por isso, nem todos os casos são registados.

Graça Arnaldo diz que pretende-se expandir o serviço. "O desafio são palestras nas comunidades e a própria expansão das sessões de atendimento aos postos polícias, porque nós estamos, ao nível do distrito-sede, e alguns postos policiais”, esclarece.

Um jardim infantil ambicioso

01:48

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema